domingo, 16 de novembro de 2014

Quando se tem um ministro da Justiça como José Eduardo Cardozo, a gente entende por que a Petrobras afunda num mar de lama. Este senhor perdeu o senso de ridículo!

16/11/2014
às 7:32

Sou crítico de muitos ministros deste governo, mas há dois sobre os quais sinto certa vergonha de escrever: Gilberto Carvalho e José Eduardo Cardozo. São duas figuras patéticas, bisonhas, ridículas. Carvalho é candidato a qualquer coisa no PT — restando algum juízo a Dilma, ela o chuta do Palácio. 


Já Cardozo tem a ambição de ocupar um lugar no Supremo, uma piada grotesca, eu sei, mas verdadeira. Muito bem! Nesta sexta, todos percebemos a terra tremer com a prisão de um monte de empreiteiros e assemelhados, num dia apelidado por policiais federais de “Juízo Final”. 

É claro que a temperatura da crise subiu muito. Cardozo resolveu, então, conceder neste sábado uma entrevista coletiva. E meteu, como sempre, os pés pelos pés.


A Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça, mas tem autonomia garantida em lei para efetuar suas investigações. O ministro não pode e não deve ser previamente avisado. Segundo disse, ficou sabendo da operação no fim da madrugada, quando já tinha sido deflagrada. Aí, então, teria telefonado para a presidente Dilma, que está em viagem, e recebido instruções. Certo. Cabia a Cardozo dar uma entrevista? Acho que sim.


Mas para dizer o quê? O que seria óbvio numa democracia convencional: que a PF tem autonomia no seu ofício, que o governo espera que tudo tenha sido feito dentro das regras, que tem a esperança de que as acusações dos advogados de que seus clientes tiverem direitos agravados não precedam etc. Mas foi isso o que fez o ministro de Dilma que acha que se pode trocar facilmente a canga pela toga? Não!


Resolveu vociferar impropérios contra adversários políticos. E disparou: “A oposição não pode usar as prisões para criar um terceiro turno eleitoral”. Mas quem é que está agindo assim? Ele não disse. É impressionante que um ministro da Justiça faça uma acusação com esse peso sem citar nomes. O que Cardozo pretende?


Quer dizer que ou a oposição aplaude a ação do governo ou será tentativa de disputar o “terceiro turno”? Eu estou errado ou esse que se pretende futuro ministro do Supremo acha que, ao vencer uma eleição, um partido também retira dos derrotados o direito de se comportar como adversários? A afirmação é de uma irresponsabilidade impressionante, sobretudo porque um ministro da Justiça não acusa, mas age.


Cardozo — não posso ver a sua figura sem me lembrar da doce metáfora que Dilma lhe dispensou: um dos “Três Porquinhos… — está acostumado a não ter limites. Afirmou a jornalistas que Dilma deu sinal verde para levar adiante as investigações… Como, excelência? Quer dizer que, se ela tivesse dado sinal vermelho, aí tudo seria paralisado? Ela nem dá nem deixa de dar sinal verde. A PF não obedece a esse tipo de comando.


Cardozo deu outra resposta deliciosa quando indagado sobre a suposta participação de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, nos escândalos da Lava Jato: “Eu não faço isso com amigos, não faço com inimigos. Vamos olhar os fatos e investigá-los”. Bem… Inimigo do ministro Vaccari não é. Só restou o papel de “amigo”…


A entrevista de Cardozo foi um despropósito. Chega a ser estarrecedor que, um dia depois daquela penca de prisões — incluindo a de Renato Duque, ex-operador do PT —, este senhor venha a público para tentar passar um pito na… oposição!!! É espantoso a solenidade com que ignora a importância do cargo que ocupa.


Disputar terceiro turno, meu senhor? O que o Brasil se pergunta é quanto do dinheiro roubado da Petrobras foi parar no primeiro e no segundo turnos, não é mesmo?


Comporte-se de modo mais decoroso, meu senhor!


Por Reinaldo Azevedo

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