Josias de Souza
Reunido neste final de semana, o diretório nacional do PT aprovou uma resolução severa contra a corrupção. “Temos o compromisso histórico de combater implacavelmente a corrupção”, explicou o presidente do partido, Rui Falcão.
Impossível discordar.
Nenhuma outra legenda contribuiu tanto para desnudar os crimes do poder.
Didático e revolucionário, o PT combate a corrupção praticando-a.
“Foi durante os governos Lula e Dilma que se estabeleceram, como políticas de Estado, as principais políticas de combate à corrupção”, anota a resolução do PT.
Movido por forças antagônicas, o partido agiu mais ou menos como o viciado que, conhecendo as próprias fraquezas, cerca a bebida e as drogas com um sistema de câmeras e alarmes contra si mesmo. Os resultados foram extraordinários.
Em sua resolução, o PT critica os que o acusam de “ser o partido responsável por um alegado aumento da corrupção no Brasil.” Ora, francamente. Como realça o texto, “se hoje a corrupção aparece mais, ao contrário do passado, é porque ela, pela primeira vez na história do país, está sendo sistematicamente combatida.”
Realmente, o combate à roubalheira passou a ser sistemático. O PT inovou. Em governos anteriores, os escândalos eram denunciados por opositores. Hoje, o próprio PT se encarrega de cometer os crimes que o asfixiam. Nos seus 12 anos de poder federal, o PT só errou certo. Já na escolha do elenco de apoiadores, o petismo revelou-se o igual disfarçado de novo. E passou a deixar os rastros para que o apanhassem.
Foi um aliado do PT, Roberto Jefferson, quem jogou o mensalão no ventilador. Agora, são os delatores, com o suor dos seus dedos, que se encarregam de impulsionar a elucidação do petrolão. Em matéria de corrupção, o PT é um catalisador do avanço institucional. Ele mesmo planeja os escândalos, ele mesmo coordena a execução dos crimes, ele mesmo inspira os denunciantes.
O PT informa em sua resolução que se autoimpôs “o desafio de reafirmar a sua liderança no combate à corrupção sistêmica no Brasil.” Bobagem, não é mais necessário. Em matéria de corrupção, o PT já é visto como líder inconteste. Draconiana, a resolução prevê dias difíceis para os petistas flagrados no petrolão.
O documento do diretório informa: “Qualquer filiado que tiver, de forma comprovada, participado de corrupção, deve ser imediatamente expulso, como já afirmou publicamente o presidente do partido.”
Bem verdade que a bancada mensaleira da Papuda continua nos quadros do PT. Mas isso pode ser apenas mais uma anormalidade proposital do partido para denunciar a normalidade de um sistema político baseado na hipocrisia.
No momento, o mais importante é notar que o PT conseguiu mais uma proeza: dissociou-se das suas próprias ações, mantendo-se incólume a si mesmo.
A insistência de Dilma 2ª em preservar no segundo mandato as mesmas criminosas alianças foi a forma que o PT encontrou para esclarecer que, numa ilícitocracia, tudo é permitido, até o assalto à Petrobras —desde que feito por gente que tem “o compromisso histórico de combater implacavelmente a corrupção”, mesmo que para isso tenha de cometê-la.
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