Leandro Prazeres
Do UOL, em Brasília
Do UOL, em Brasília
Segundo a entidade, é difícil acreditar que as políticas anticorrupção que a estatal apresentava ao mercado tivessem apoio do alto escalão da empresa.
A Transparência Internacional atua em mais de 100 países e, anualmente, elabora um "ranking da transparência" com as 124 maiores empresas do mundo com ações negociadas em bolsas de valores. Em 2014, a Petrobras obteve a nota 4,6 em uma escala que vai de 0 a 10 e ficou com a 31ª posição.
O ranking avalia itens como manutenção de programas de combate à corrupção, transparência organizacional e a publicação de dados das operações das empresas em todos os países em que elas atuam. No último quesito, aliás, a Petrobras, que atua em diversos países ao redor do mundo, obteve nota zero.
Segundo o diretor da Transparência Internacional para a América Latina, Alejandro Salas, os mecanismos de combate à corrupção que a empresa disse adotar apresentaram fraquezas.
Julio Cesar Guimarães/UOL Para que programas anticorrupção sejam verdadeiramente implementados, a cultura de corrupção zero tem que vir da alta direção. No caso da Petrobras, com tantos diretores supostamente envolvidos em esquemas de corrupção, é difícil de acreditar que as políticas anticorrupção que a companhia reportou para mercado eram apoiadas junto ao alto escalão diretor da Transparência Internacional para a América Latina
Salas afirmou que é difícil acreditar que as medidas de combate à corrupção implementadas pela empresa tivessem respaldo da direção da estatal.
"Para que programas anticorrupção sejam verdadeiramente implementados, a cultura de corrupção zero tem que vir da alta direção dentro da companhia. No caso da Petrobras, com tantos diretores supostamente envolvidos em esquemas de corrupção, é difícil de acreditar que as políticas e procedimentos anticorrupção que a companhia reportou para o mercado e para a sociedade eram apoiadas e refletidas por uma cultura de integridade junto ao alto escalão", disse.
Nesta semana, a presidente da estatal, Graça Foster, anunciou que estuda criar uma diretoria de governança para combater casos de corrupção com os investigados pela operação Lava Jato. Desde o início da operação Lava Jato, dois ex-diretores da estatal foram presos: Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Souza Duque (Serviços). Os dois são suspeitos de cobrar propinas de empreiteiras em troca de contratos com a petrolífera. O esquema abasteceria o caixa de partidos da base aliada como PT, PMDB e PP.
Brasil todo afetado
Alejandro Salas alertou ainda que o esquema investigado pela Polícia Federal tem afetado a economia e o sistema político brasileiros. "Esse esquema de corrupção em larga escala não tem afetado apenas a Petrobras, mas prejudicado a economia brasileira e o sistema político como um todo", afirmou.
Salas afirmou que os recentes escândalos na Petrobras podem ter benefícios no longo prazo. "Este caso é uma oportunidade para reformas que trarão enormes benefícios nas suas operações [Petrobras] e para sua imagem.
Devido ao seu tamanho e à sua importância para a economia do país, o que nós virmos na companhia será um espelho da direção que o Brasil vai tomar nos próximos anos no que diz respeito ao combate, à corrupção e à boa governança", disse.
"O que pode acontecer – e normalmente acontece – é que companhias que passam por traumas como esse acabam passando por uma profunda reestruturação dos seus procedimentos e mecanismos de controle anticorrupção e começam a operar em um outro nível de conscientização sobre esses riscos", explicou Salas.
Questionada pela reportagem do UOL sobre as declarações da Transparência Internacional, a Petrobras respondeu que não comentaria.
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