20/11/2014 11h06
'Falamos de novos direitos, mas famintos continuam pedindo', disse ele.
Francisco também enfatizou a gravidade da situação do meio ambiente.
Papa
Francisco ao lado do diretor da FAO, o brasileiro José Graziano, antes
do discurso desta quinta-feira (20)
"Enquanto falamos de novos direitos, os famintos continuam nas esquinas pedindo para serem incluídos na sociedade e terem o pão de cada dia. Esta é a dignidade que eles pedem e não esmolas", acrescentou o Papa.
"As pessoas que não têm o pão de cada dia são obrigadas a lutar para sobreviver, a ponto de não mais se preocupar com a vida social ou com as relações familiares", observou, referindo-se à dissolução dos laços sociais resultantes da fome.
A Igreja Católica, segundo ele, espera "ajudar a adotar critérios capazes de desenvolver um sistema global justo", que, "no plano jurídico, devem priorizar a alimentação e ao direito à vida, o direito a uma existência digna, o direito à proteção jurídica (...), mas também a obrigação moral de compartilhar a riqueza".
"Há o suficiente para alimentar a todos, mas nem todos conseguem se alimentar, enquanto o excedente e os resíduos, o consumo excessivo e uso indevido de alimentos são comuns", acrescentou, denunciando a "especulação" ditada pela "ditadura do lucro".
Restrição aos alimentos
Pedindo para que se abandone a arma da fome, o Papa também considerou injusto "todo condicionamento político e econômico" ao acesso aos alimentos. "Nenhum sistema discriminatório, de fato como de direito, quanto ao acesso ao mercado de alimentos, não deve ser encarado como modelo de modificação das normas internacionais destinadas à eliminação da fome no mundo", insistiu.
"Infelizmente, há poucos temas como a fome em que aplicamos tantos sofismas, manipulamos dados e estatísticas em função da segurança nacional, por corrupção ou por referência à crises inexistentes", lamentou.
Francisco também enfatizou a gravidade da situação do meio ambiente, por falta de uma exploração adequada e equilibrada dos recursos naturais. "Deus perdoa sempre, os homens às vezes, mas a natureza nunca perdoa", disse ele, enquanto prepara para o próximo ano uma encíclica sobre a proteção do meio ambiente e respeito pela natureza.
Durante a primeira conferência organizada pela FAO sobre a nutrição, em 1992, mais de um bilhão de pessoas não tinham o suficiente para comer. Hoje, esse total caiu para 805 milhões, enquanto a população mundial aumentou. Esta é a quarta visita de um Papa à FAO, depois de Paulo VI, em 1970, para marcar o 25º aniversário de sua criação, João Paulo II em 1992 e Bento XVI em 2003.
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