Petroloão
Cerveró provocou prejuízo de US$ 700 milhões em Angola para
desviar recursos
Publicado: 20 de janeiro de 2015 às 0:22 - Atualizado às
0:23
Nestor Cerveró levou a Petrobras a investir em negócio na
África que só seria vantajoso para ele próprio (Foto: Jonathan Campos/AE)
O ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró
foi apontado na Polícia Federal por suposto prejuízo proposital em um negócio
de exploração de petróleo em Angola, na África, que teria gerado um dispêndio
de US$ 700 milhões.
O caso passou a ser investigado após depoimento prestado
sob sigilo por um funcionário de carreira da estatal, no Rio, que procurou os
policiais um mês após ser deflagrada a Operação Lava Jato, em março de 2014.
O informante citou o nome de Cerveró – preso na Operação
Lava Jato – em um negócio de US$ 700 milhões, que contrariou pareceres
internos, e teria gerado prejuízo proposital como forma de desviar recursos
públicos.
Funcionário de carreira com 30 anos de serviços prestados à
Petrobras, o informante procurou os delegados para denunciar indícios de crimes
e “má gestão proposital” na estatal.
“Um dos projetos que teve como objetivo o prejuízo
internacional da Petrobras foi o bloco de exploração em Angola”, afirmou o
informante em depoimento de quatro horas, realizado no dia 28 de abril de 2014,
no Rio.
Conta ele que quando foi aberto leilão internacional para
compra dos direitos de exploração de blocos petrolíferos em Angola, a estatal
analisou o negócio.
“Diversos pareceres de geólogos da Petrobras foram
redigidos analisando o potencial de exploração de cada um deles. Estes pareces
apontavam indícios de que a Petrobras não deveria sequer praticar do leilão,
pois não havia indícios de lucros ou rentabilidade na exploração de tais
áreas.”
Com base nesses pareceres, a Petrobras não entrou no leilão.
“Alguns anos depois, a Petrobras decidiu comprar 50% dos direitos de exploração
deste poços arrematados no leilão pelo mesmo valor que a empresa inicial
arrematou a totalidade”.
A empresa vencedora teria pago US$ 500 milhões pelo negócio
na época do leilão. O custo de 50% do direito aos blocos, no entanto, custou à
Petrobras “exatamente a mesma quantia paga anos antes por 100% dos direitos” –
US$ 500 milhões.
“Existem indícios de que o dinheiro repassado à ganhadora do
leilão foi uma forma de desvia-lo da Petrobras e sugere que se investigue se
houve retorno deste capital ao Brasil ou a contas controladas pelo envolvidos,
no exterior”, registra a PF, em documento anexado em novembro aos autos da Lava
Jato, conforme revelou o Estado.
Na época, reportagem mostrou que o informante havia apontado
o envolvimento de Cerveró e do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o
Fernando Baiano, em suposto desvio de propina na refinaria de Pasadena, nos
Estados Unidos.
Perfurações
Ao todo, o relatório de Informação Policial 18/2014 registra
acusações do funcionário de carreira em seis supostas fraudes para desvios de
recursos. Prestes a se aposentar, ele decidiu contar o que sabia, sem ter seu
nome revelado. Delegados da Lava Jato mantém contato direto com o informante.
No negócio em Angola, que teria envolvido a Diretoria de
Internacional sob o comando de Cerveró, ele relata que a irregularidade não foi
só na compra.
O informante declarou que a Petrobras, depois da compra de
50% dos direitos de exploração, decidiu então “perfurar três poços (em Angola)
com o objetivo de prospecção da capacidade produtiva do bloco recém-adquirido”.
“Cada um dos poços tem um custo de perfuração de
aproximadamente US$ 80 milhões a US$ 120 milhões”, revelou o funcionário.
Segundo o documento, os três poços foram perfurados e “mostraram-se
secos”.
“Confirmando os pareceres técnicos dos geólogos da empresa que
analisaram o mapeamento do subsolo do terreno e apontaram tecnicamente que era
inviável explorar tais áreas, pois não havia petróleo disponível naquela
região.”
Os resultados teriam sido usados “nas decisões futuras da
empresa em continuar explorando tais áreas, e assim, todo investimento foi
descartado”.
“Desta forma, o prejuízo total deste projeto foi de cerca de US$
700 milhões, sendo US$ 500 milhões para adquirir 50% dos direitos e outros US$
200 milhões em perfuração de poço que já se sabia serem secos”, acentua o
documento.
O informante apontou ainda como responsável pelo negócio o
ex-gerente Luis Carlos Moreira da Silva. Segundo ele, Nestor Cerveró criou o
cargo de gerente executivo internacional de desenvolvimento de negócios “em
tempo recorde”. O nome do ex-gerente já foi citado também no caso Pasadena. Em
julho, ele foi ouvido sobre o caso na CPI da Petrobras.
“Durante a gestão de Moreira, à frente do cargo criado por
Cerveró, alguns negócios teriam sido desenvolvidos contrariando diversos
pareceres técnicos.”
A Petrobras foi procurada para falar sobre o caso, mas ainda
não se pronunciou.
Luis Carlos Moreira da Silva não foi localizado para
comentar o caso. Em julho do ano passado, quando foi ouvido na CPI da Petrobras
sobre o caso Pasadena, ele considerou o negócio legal.
A defesa de Nestor Cerveró nega o envolvimento dele em
qualquer irregularidade.
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