sábado, 24 de janeiro de 2015
Rubens ValenteFolha
A vendedora de
roupas Vanessa Regina de Almeida Dutra Pontes, 38, viúva e mãe de dois
filhos, com uma renda mensal declarada de R$ 1,2 mil, disse que custou a
crer na informação da Operação Lava Jato de que era dona de uma empresa
que recebeu R$ 59 milhões entre dezembro de 2012 e abril de 2013.
“Eu chorei, chorei,
preocupada com meus filhos. Eu tenho como provar que não peguei um
centavo”, disse Vanessa, que reside na periferia de Curitiba (PR). “Me
falaram que tinha milhões lá. Eu falei: ‘Meu Deus do céu, vocês estão
ficando loucos?’.”
A empresa
registrada em nome de Vanessa, a madeireira Alnapa Soluções, é apenas a
ponta de uma nova frente de investigação aberta pela Polícia Federal sob
acompanhamento do juiz de Curitiba (PR) Sergio Moro como um
desdobramento da Lava Jato.
Em novembro último,
o Banco Central informou a Moro que um grupo de cinco empresas
relacionadas financeiramente com a Alnapa e uma segunda firma, a WS
Business, enviaram para o exterior US$ 124 milhões (ou R$ 323 milhões ao
câmbio desta quarta) por meio de contratos de câmbio somente entre
janeiro de 2012 e março de 2014.
NÃO ERAM HABILITADAS
A Fazenda informou a
Moro que quatro dessas empresas “não foram habilitadas para atuar no
comércio exterior” e uma teve a habilitação suspensa por inatividade. A
PF apontou indícios de que as empresas são “de fachada, com vultosas
movimentações financeiras entre si”. A City Clean Serviços Especiais,
que remeteu mais de US$ 7,8 milhões, por exemplo, funcionava numa casa
de madeira sem letreiros no bairro Cajuru, em Curitiba.
Segundo Vanessa,
ela forneceu seus dados para a abertura da Alnapa a pedido de um
conhecido, o vendedor de cosméticos Djalma Aparecido Machado, 49.
Também localizado
pela Folha, Machado disse que fez apenas uma operação de importação, no
valor de cerca de US$ 100 mil, e desconhece todo o resto movimentado
pela empresa. Ele afirmou que seus dados “foram usados indevidamente por
corretoras de São Paulo”.
Machado e Vanessa
prestaram depoimento à PF em novembro. A PF agora tenta descobrir quem
são os donos do dinheiro remetido ao exterior e principalmente o destino
final dos valores.
ESQUEMA PARALELO?
A Folha apurou que a
polícia não sabe até o momento se as firmas foram usadas para escoar
propina relativa a obras da Petrobras ou se é um outro esquema paralelo
sem conexão com o escândalo da petroleira.
O esquema de
remessas por contratos de câmbio também foi utilizado pelo doleiro
Alberto Youssef para enviar para fora pelo menos US$ 239 milhões entre
2009 e 2014. Parte desse dinheiro chegou ao ex-diretor de Abastecimento
da estatal, Paulo Roberto Costa.
O sistema funciona
da seguinte forma: a empresa brasileira envia o dinheiro para o exterior
sob alegação de que está comprando materiais de empresas estrangeiras; o
dinheiro é enviado, mas o material nunca chega ao Brasil.
A Folha não
conseguiu localizar os responsáveis pela City Clean, Conferlix, DJJ,
Dantas Import e Sena e Franca. A PF também continua atrás de seus
proprietários.
A pista que levou
às seis empresas surgiu no depoimento do consultor Luccas Pace Júnior,
condenado por evasão de divisas em outro processo da Lava Jato por
ligação com a doleira Nelma Kodama.
http://tribunadainternet.com.br
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