quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A qualidade do ar no Distrito Federal não está nada boa.

Índices de poluição considerados preocupantes tendem a diminuir com a chegada de novos ônibus

A qualidade do ar no Distrito Federal não está nada boa. De acordo com levantamento do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), a concentração de partículas poluentes na região é preocupante.

 Apenas dois locais, dos cinco monitorados, têm índices considerados bons. Os outros três – Rodoviária do Plano Piloto, Taguatinga Centro e Fercal – apresentam risco à população, com uma perigosa concentração de resíduos químicos no ar. Contudo, o futuro pode ser melhor. A nova frota de ônibus deve ajudar a reverter o quadro, já que utiliza padrão Euro 5 de emissão de gás, o que significa 180 vezes menos fragmentos danosos na atmosfera da capital.

Expectativa

 “Desde que os novos ônibus começaram a rodar, em julho deste ano, a nossa estação na Rodoviária do Plano Piloto registrou uma melhora considerável nos índices de qualidade do ar”, aponta o subsecretário de Saúde Ambiental  da Secretaria de Meio Ambiente, Luiz Maranhão.

A expectativa, completa, é de melhoras nos índices de poluentes da atmosfera em quatro locais monitorados, incluindo Taguatinga Centro. Porém, na Fercal, o problema não se restringe apenas à circulação de veículos. Lá, as fábricas de cimento são a principal fonte de partículas danosas à saúde dos moradores. “Não podia ter gente e fumaça juntas, como acontece na Fercal”, adverte.  

 “A gente não vive sem nebulizador aqui. As crianças têm muito problema respiratório por conta das fábricas. Só que é a nossa casa, né? Então, não dá para fazer muita coisa”, desabafa a dona de casa Maria Silvani Cezar, 30 anos. A moradora da Fercal relata ainda as dificuldades de manter o local sem poeira. “Se para de chover, mesmo que por alguns minutos, rapidinho a sujeira já sobe e enche a casa toda. Aí, vai a gente varrer e passar pano o dia todo”. Ela e sus duas filhas moram em uma rua próxima à cimenteira.

 Fercal em estado de alerta
 
  Para que a atmosfera   seja considerada boa, é preciso que a concentração de partículas esteja entre zero e 60 microgramas por metro cúbico.  Na  Fercal, este índice   chegou a ficar mais de cinco vezes acima: 438,321 microgramas/m3. A estação Fercal 2, localizada entre duas fábricas de cimento e próxima à DF-150,   chegou a registrar 335,385 microgramas/m3. “Morar perto da fábrica é horrível. A gente tem problema com tosse e sinusite direto, eu e meus filhos”, conta a vendedora Joana D'arc, 31 anos. 
 
 Para a   gerente de Vigilância de Fatores não Biológicos  da Secretaria de Saúde, Glauce Ideião, a qualidade do ar pode ser medida nos hospitais do DF, onde 60% das crianças atendidas nos últimos seis anos  apresentaram problemas respiratórios. “Isso ocorre principalmente na Fercal”, frisa.
 
Programa para ser levado a outras cidades

Devido à relação entre poluição e a incidência de problemas respiratórios em crianças,  foi implementado na Fercal o programa de Vigilância de Populações Expostas a Poluentes Atmosféricos (Vigiar).  O programa   repassa  informações à população quanto aos riscos à saúde e também faz um monitoramento, chamado de Unidades Sentinela, no qual equipes de saúde da família acompanham o avanço de doenças como asma, bronquite e infecção respiratória aguda. 
 
“A   intenção é deslocar o programa para outros locais que têm índices de qualidade do ar considerados inadequados”, diz a gerente de Vigilância de Fatores não Biológicos da SES-DF, Glauce Ideião.
 
Em Taguatinga, na região central, revela a gerente, “o quadro também é preocupante”. Como o local concentra basicamente  comércio, a saúde dos trabalhadores está exposta à péssima qualidade do ar. “Isso nos deixa alerta. Então, temos a intenção de focar nosso trabalho também naquela região”, afirma Glauce. O Ibram considera a área com índices “regulares”, conforme   informações da estação de monitoramento instalada próxima à Praça do Relógio. 
 
Melhora
 
 Na Rodoviária do Plano Piloto, no dia 7 de novembro, os níveis de partículas poluídoras em suspensão chegaram a 267,76 microgramas: índice considerado insatisfatório pelo Ibram e para a Secretaria de Meio Ambiente (Semarh). Quem passa pela estação todos os dias sente uma pequena diferença depois da inauguração da nova frota. 
 
“Ainda está ruim, a gente sente cheiro de fumaça. Mas  a coisa boa é que esses ônibus novos não jogam tanta fumaça quanto os antigos. Então, vai melhorar”, destaca o marceneiro Carlos Rocha, 54. Na última semana, como indicou o trabalhador, a qualidade da atmosfera do local ficou entre excelente e moderada. 
 
Protótipo que ajuda a população
Pensando em ajudar a melhorar a qualidade do ar, alunos da Universidade de Brasília (UnB) investiram em uma pesquisa para criar um protótipo que pode ajudar comunidades de baixa renda. Pequeno, móvel e barato, o medidor dos níveis atmosféricos deverá ser vendido por R$ 4 mil. 
 
Hoje, as estações fixas, que fazem o mesmo serviço, custam cerca de R$ 40 mil aos cofres públicos. 
A ideia surgiu em 2008, quando o professor Paulo Saldiva, especialista em poluição atmosférica da Universidade de São Paulo (USP), buscou parceiros no DF para pesquisar formas de analisar a qualidade do ar. 
 
Desafio
O aluno da UnB Erick Kill topou o desafio durante seu mestrado. Junto com outros colegas e o professor Henrique Roig, do Instituto de Geociências da universidade, foi desenvolvido o conjunto de sensores que consegue medir a quantidade de gases nocivos à saúde.  “O sistema faz a leitura das partículas poluentes. O protótipo, que tem cinco sensores eletroquímicos, armazena os dados e transmite as informações por celular, usando uma rede sem fio”, explica o estudante. 
 
Para o professor Henrique Roig, o foco da ideia são os cidadãos das comunidades carentes. “Com o protótipo, vai facilitar muito a questão do controle de qualidade”, aponta o docente. Agora, a equipe busca parceiros para o desenvolvimento dos medidores e, assim, poder levá-los a outros locais do Brasil. 
 
 Saiba Mais
A comunidade médica internacional entende que respirar um ar impuro é altamente prejudicial à saúde e, dependendo da concentração dos poluentes, toda a população pode apresentar sintomas como tosse seca, cansaço, ardência nos olhos, nariz e garganta. 
 
As pessoas de grupos sensíveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas costumam apresentar sintomas ainda mais graves. 
 
Desta forma, o poder público possui a obrigação não só de fazer o monitoramento da concentração dos principais poluentes, mas de adotar as medidas necessárias para manter a qualidade do ar em índices que garantam a saúde e o bem estar da população. 
 
 
 
 
  
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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