O fogo veio do assentamento do Incra que fica no entorno da reserva: um proprietário fez uma queimada para limpar o terreno. O tempo seco e o vento espalharam as chamas e o resultado foi a destruição de 20% da reserva biológica Poços das Antas, que abriga o ameaçado Mico-Leão-Dourado (Leontopithecus rosalia).
A equipe com 25 voluntários foi formada no sábado e levou 24 horas para deter o incêndio que devorou 1000 hectares da unidade.
O reforço veio no domingo, quando 30 bombeiros vindos de Macaé, Casimiro de Abreu, Cabo Frio e Magé se uniram ao grupo, e a equipe passou a contar com um helicóptero do Corpo de Bombeiros para acabar com o fogo.
No Facebook, Luiz Paulo Ferraz, secretário-executivo da Associação do Mico-Leão Dourado, que funciona dentro da Rebio, fez um balanço contundente sobre a queimada. Abaixo, leia o relato completo.
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Hoje a equipe da Associação
Mico-Leão-Dourado foi a campo documentar o "dia seguinte" do incêndio. E
voltou arrasada com o que viu. Lamentamos ter que publicar estas
fotos... Mas essas mortes precisam servir para algo.
Poço das Antas é a primeira Reserva
Biológica do Brasil. Habitat do Mico-Leão-Dourado, da preguiça de
coleira e de outras espécies importantes da fauna e flora da Mata
Atlântica. Tem valor histórico e simbólico na luta conservacionista. É
sede de um dos mais importantes trabalhos integrados para salvar uma
espécie da extinção, o Mico-Leão-Dourado, candidato a Mascote Olímpico.
O Brasil é uma potência mundial em
biodiversidade. Um país atualmente com destacada visibilidade, seja
pelos grandes eventos esportivos, seja pela vitalidade de sua economia e
suas contradições sociais. O Rio de Janeiro é a grande vitrine do
Brasil. Um incêndio na sua reserva mais simbólica não pode ser
justificado pelos burocratas apenas como mais uma fatalidade causada
pelo calor ou por um agricultor desavisado.
Sábado, 08 de fevereiro. No segundo e
decisivo dia do incêndio, Gustavo Luna Peixoto, o chefe da Reserva,
mobilizou de forma competente para o combate um grupo de voluntários.
Cerca de 25 homens, alguns funcionários de instituições parceiras,
amigos, ex-servidores... A Reserva Biológica de Poço das Antas não tem
brigada de incêndio nesta época do ano por falta de recursos. É evidente
que normalmente costuma chover mais no verão. Mas não é o primeiro
verão que a reserva tem esse mesmo problema.
O Instituto Chico Mendes, ICMBio, que
administra as unidades de conservação federais está com dificuldades
orçamentárias profundas. Na hora "H" não havia brigada de incêndio nem
esquema de emergência. O telefone da Rebio estava cortado há dois meses e
foi usado o da AMLD (Associação Mico Leão Dourado).
O órgão estadual alegou dificuldades em outros parques. O chefe da
Reserva fez muito mais do que poderia, diante de tanta precariedade. Os
bombeiros apareceram 48horas depois. Não havia condições materiais nem
treinamento para aqueles homens.
Alguns deles urinaram nos dormentes do
trem para aproveitar a "água". Isso não é piada. Vi gente usando o
próprio cantil para apagar o fogo. A luta era enorme para proteger
florestas e as áreas em processo de restauração florestal. 50 mil mudas
foram plantadas ali no último ano.
Não é possível que as imagens de
corpos de capivaras, preguiças, quatis e tantas árvores queimadas sejam
rapidamente esquecidas por todos nós, na velocidade da internet. Não é
possível ver tantas autoridades circulando em veículos oficiais,
desfilando de helicóptero, nossos colegas técnicos realizando tantas
reuniões importantíssimas mundo afora, mas que não sejamos capazes de
apagar com o mínimo de profissionalismo um incêndio previsível.
Vimos outro dia o ex-secretário de
Meio Ambiente deixar seu cargo orgulhoso de um chamado desmatamento zero
no Estado do Rio de Janeiro. Cansa escutar tantas frases espetaculares,
números superdimensionados, diante da incapacidade de organização para o
mínimo necessário.
Nós, que gostamos ou atuamos com os
temas ambientais, temos que ter a consciência de que estamos perdendo
muitas batalhas e refletir seriamente sobre isso.
A sociedade
brasileira, que demonstra tanta sensibilidade ao ver um animal
maltratado, precisa entender também que o nosso modelo desenvolvimento a
qualquer custo está fora de moda. E que proteger o que resta da nossa
biodiversidade não é problema (apenas)de ambientalistas.
Luiz Paulo Ferraz/Associação Mico Leão Dourado
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