quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Trânsito torna-se caótico devido a ato dos sem-terra e expõe a fragilidade da mobilidade urbana

Confusão dentro e fora do protesto dos sem-terra


Carla Rodrigues e Renan Bortoletto, com agências
redacao@jornaldebrasilia.com.br


Protestos, confrontos, engarrafamentos, buzinas e muita espera. 

Assim foi a tarde de ontem em Brasília. Com uma frota de aproximadamente 1,5 milhão de carros nas ruas da cidade, a manifestação dos sem-terra na Esplanada dos Ministérios provocou um verdadeiro caos no trânsito. 

A Polícia Militar bloqueou o acesso ao Eixo Monumental e a recomendação era evitar a área central. 

O congestionamento tomou conta das vias desde o Setor de Indústrias Gráficas (SIG) até a Catedral Metropolitana. Algumas pessoas chegaram a ficar três horas presas no tráfego.  

 “Estou há 40 minutos parado.  Acho que estou dentro do carro há umas três horas. E, sinceramente, não acredito que isso é culpa dos manifestantes. Sou a favor de protestos. Mas  quem deveria organizar o trânsito não faz isso direito. Simplesmente fecha as   vias e o trabalhador que se vire”, desabafou o caminhoneiro Eupídio Campos, 36. 

 Porém, de acordo com o Batalhão de Trânsito do DF (BPTran), a organização do tráfego   durante manifestações é planejada, justamente, para diminuir os efeitos das obstruções na vida dos cidadãos. “A gente vai fechando as vias por onde os manifestantes passam. E, à medida que isso vai acontecendo, vamos abrindo outras. A nossa ideia é facilitar a mobilidade e não o contrário”, assegurou o chefe operacional do 1º  BPTran, major Sérgio Robalo. 

Sem saída

 Para ele, contudo, Brasília apresenta duas características que dificultam o fluxo   durante protestos. “Nós temos duas vias paralelas em Brasília, duas únicas principais. E o brasiliense não tem o hábito de buscar alternativas. Por outro lado, tanto a Esplanada quanto o Eixo são vias que absorvem muitos veículos. As alternativas delas, S1, N1, não comportam a mesma quantidade de carros. Aí, claro, você vai ter um tráfego muito mais lento”, explicou Robalo. 

 Vale ressaltar que Brasília está a quatro meses dos jogos da Copa do Mundo. E, até agora, as discussões sobre mobilidade urbana não chegaram a lugar algum. A quarta região mais populosa do Brasil entra em colapso quando acontecem protestos na cidade. Os motoristas não sabem para onde ir e os pedestres acabam ilhados na Rodoviária do Plano Piloto.

Previsão da população é de caos na Copa

 Sobre a expectativa para a Copa do Mundo, em junho, o chefe operacional do 1º  BPTran, major Sérgio Robalo, acredita que a tendência   é de uma preparação muito maior. Portanto, mesmo com as ameaçadas de protestos, o trânsito deverá fluir. “O esquema vai ser muito parecido com o que aconteceu na Copa das Confederações. Só que como se trata de uma Copa do Mundo, a divulgação vai ser muito maior e as pessoas sairão de casa sabendo o que vão encontrar. Além disso, a quantidade de agentes envolvidos é muito maior”, avaliou. 

Nas ruas, a expectativa dos brasilienses é de uma cidade em colapso. “Imagino o caos total na Copa. Não consigo ser muito positiva. Vai acontecer manifestação e, infelizmente, os mais prejudicados seremos nós.  Olha aí, não temos nem um plano de mobilidade”, ressaltou a pedagoga Ericka Margarida, 30. Ela e a mãe ficaram duas horas presas no trânsito da via S1,  bloqueada entre a Rodoviária e a Catedral.

Quem estava na esperança de chegar em casa ainda no final da tarde acabou se desanimando. “Nem penso mais em chegar antes das 19h. Daqui para o Paranoá é mais lentidão”, disse o empreendedor individual Johny Cardoso, 37. 

Confronto entre    MST e polícia
A marcha do MST reuniu aproximadamente 15 mil pessoas e também ficou marcada pelos confrontos entre os manifestantes e a Polícia Militar. O clima ficou tenso depois que integrantes do movimento chutaram e derrubaram as barreiras metálicas montadas pela polícia em frente à Praça dos Três Poderes. Houve reação dos policiais, que usaram gás de pimenta e balas de borracha para conter a violência.

 O momento mais tenso do protesto foi quando um grupo de policiais ficou encurralado em volta de um ônibus. Integrantes do MST atiraram pedaços de pau, latas de lixo e objetos contra os policiais. Um outro grupo de manifestantes pedia aos demais que parassem com o ato e ajudaram os PMs a sair do cerco.

João Paulo Rodrigues, integrante da direção do MST, disse os policiais teriam entrado no ônibus, tomado a chave do motorista e agredido os militantes. 

Feridos

 Ao todo, foram mobilizados 500 policiais militares para conter os manifestantes. De acordo com o comandante do 6º Batalhão de Polícia Militar, Lúcio César, 30 policiais ficaram feridos, sendo oito deles com lesões graves. O comandante afirmou ainda que um manifestante ficou levemente ferido e outro foi preso.

 “A manifestação seguia pacífica até que os integrantes do movimento tentaram invadir o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Palácio do Planalto. Foi exatamente neste momento que ordenamos aos policiais militares que agissem e impedissem o progresso deles”, relatou o comandante Lúcio César.



Calendário de Manifestações


 No Dia da Mulher, 8 de março, grupos feministas devem se reunir no DF e pelo País.

Em abril, no Dia do Índio (19), é comum acontecerem atos a favor dos direitos das etnias em todo o Brasil.

No Dia do Trabalhador (1º de maio) costumam acontecer   movimentações na Esplanada dos Ministérios.

A Marcha das Vadias  também acontece em maio.

Em junho  é a época da Copa do Mundo, e os integrantes do movimento “Copa para quem?” já prometeram fazer vários protestos durante os jogos mundiais.

Em setembro, no feriado de Independência do Brasil, no dia 7, também é normal aconteceram protestos por todo o País. 

Em outubro de 2012, o Dia do Professor (15) rendeu algumas manifestações Brasil afora. Se em 2014 acontecer o mesmo, a Esplanada pode ser palco de protestos.

Pela reforma agrária

Por conta da marcha do MST, uma sessão plenária do STF foi suspensa, por precaução. Liderados por um grupo que veio de Pernambuco e com o auxílio de um carro de som, os manifestantes seguiram marcha até a Rodoviária do Plano Piloto e encerram o ato nos arredores do Estádio Nacional Mané Garrincha, onde permanecem acampados.

 O comandante do 6º Batalhão de Polícia Militar disse que não está prevista uma nova manifestação. Segundo ele, representantes e líderes do movimento devem se reunir hoje, às 9h, com a presidente Dilma Rousseff (PT) para discutir a reforma agrária no País e melhorias nos assentamentos. 

O movimento

O objetivo da marcha era entregar ao secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, um documento com os compromissos feitos pelo governo para a reforma agrária e que, segundo eles, não foram cumpridos. 
Carvalho acabou tendo de receber o documento em uma das vias de acesso ao Palácio do Planalto. 

"Nós tínhamos uma sala reservada para recebê-los, mas eles preferiram que nós descêssemos aqui. Tínhamos combinado ontem (terça-feira) que tudo seria tranquilo, eles viriam e se posicionariam na Praça, mas o que acontece é muito comum, vem uma molecada e empurra a grade. Você tem o risco de invasão do Planalto e aqui tem uma lei clara que ninguém pode nem obstruir a via muito menos adentrar o Palácio", disse o secretário-geral.

Segundo a integrante da direção nacional do MST, Kelly Mafort, no ano passado apenas sete mil famílias foram assentadas pelo processo de desapropriação. “Do MST são 90 mil famílias acampadas. Estamos aqui numa luta. Nossa luta é pacífica", afirmou. 

Faixas

Durante a marcha, os manifestantes, que participam nesta semana do VI Congresso Nacional do MST, reclamavam da "estagnação" da reforma agrária no País e gritavam "Dilma, cadê a reforma agrária?" e "Dilma ruralista". Também lembraram o julgamento do mensalão.


Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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