Desvalorização do real, queda da Bolsa, alta dos juros, é o Brasil da Dilma prestes a ser rebaixado pelas agências de risco.
A
ameaça de rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de
classificação de risco já afetou o preço de ações, a cotação do dólar e
os juros cobrados pela dívida brasileira. Isso
indica que uma notícia positiva sobre o endividamento público --como
uma contenção mais forte das despesas do governo-- teria potencial de
valorizar esses ativos do país no curto prazo.
O
governo deve anunciar, nesta semana, o valor que vai congelar do
Orçamento de 2014. Uma economia acima de R$ 40 bilhões, segundo
analistas, sinalizaria que o governo deseja evitar que a dívida pública
suba e quer mantê-la estável (ao redor de 35% do PIB). O esforço poderia evitar o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pelas agências de classificação de risco.
Em
junho do ano passado, a maior delas, a Standard & Poor's, informou
que poderia rever (para baixo) a nota do país em razão do aumento das
despesas em um momento de baixo crescimento econômico (que deprime a
arrecadação e eleva o endividamento do governo). Antes
de qualquer decisão, porém, os preços dos ativos brasileiros já
perderam valor ao ponto de espelhar uma probabilidade de 96% de
rebaixamento do Brasil, calculou o economista-chefe da consultoria LCA,
Bráulio Borges.
Em
sua estimativa, somente esse fator desvalorizou o real ante o dólar
entre 5% e 10%, o Ibovespa (principal índice da Bolsa) caiu entre 10% e
15% e as taxas de juros dos títulos de longo prazo do Brasil subiram 1,5
ponto percentual --estão em 7% ao ano. O
cálculo é feito a partir da comparação do risco do país em relação aos
seus pares, com a mesma nota de crédito, calculado por meio do CDS, uma
espécie de seguro contra inadimplência.
A
Colômbia, por exemplo, tem a mesma nota que o Brasil (BBB). Como o
país, está sujeita à saída de capitais para os EUA. Mas o CDS do país
vizinho está em 120 pontos, enquanto o brasileiro chegou a 186 --50% a
mais. O patamar do Brasil
está perto do uruguaio (185 pontos), que tem um grau a menos que o país
na avaliação das agências de risco (BBB-).
Borges
afirma que notícias positivas nesta semana no campo fiscal teriam
potencial de corrigir os preços para cima. "A Bolsa poderia subir um
pouco, o câmbio se apreciar e o juro longo cair", diz. O
quanto, diz ele, depende do convencimento do governo. "Não adianta
anunciar só o número [do corte de despesas do governo], é preciso dizer
como será feito", disse.
A
economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, concorda que
os investidores anteciparam-se aos fatos e já desvalorizaram os ativos
brasileiros. Uma correção dos
preços para cima, porém, é mais difícil na sua opinião. "Pode haver um
alíviozinho' no curto prazo, mas o mercado não dará carta branca ao
governo", disse. "A tendência é que os preços se ajustem à medida que o
governo vá anunciando o cumprimento das metas."
"Avaliamos
que, mais que o anúncio do corte de despesas, será crucial que o
contingenciamento seja crível'. Em caso contrário, teríamos um movimento
de reversão [ou seja, de alta] dos juros futuros", afirmou Eduardo
Velho, da corretora INVX.
Folha de São Paulo
18 de fevereiro de 2014
coroneLeaks
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