terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Eixão: População exposta ao risco todos os dias

Mulher de 65 anos é a primeira vítima de acidente fatal na rodovia neste ano. Em 2013, foram 9 mortes
 
Ludmila Rocha e Renan Bortoletto
redacao@jornaldebrasilia.com.br


Mais uma vez, um pedestre pensou que   daria tempo de atravessar, mas não deu. Pressa?

 Medo de transitar pela passagem subterrânea ao lado? Os motivos que levaram Maria de Lourdes da Silva,   65 anos, a tentar percorrer as seis faixas do Eixão Sul em meio aos carros, na altura das quadras 107/108, por volta das 7h, são desconhecidos. 

Após ser reanimada pelos socorristas e encaminhada, em estado grave, ao Hospital de Base, Maria não resistiu. 

A morte da idosa  foi a primeira registrada no Eixão este ano vítima de atropelamento. Apesar disso, o número de mortes  por atropelamento segue crescendo em ritmo acelerado, segundo o Departamento de Estradas de Rodagem (DER- DF). Em 2011, câmeras instaladas pelo DER registraram 16 atropelamentos de pedestres na via, sendo um deles fatal. 

No ano seguinte, 30 casos ocorreram no trecho, sendo três deles com morte. Já no ano passado, foram apenas nove atropelamentos, porém todos eles resultaram em óbitos.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, Maria de Lourdes foi atropelada por um carro e, na sequência, por uma moto, que vinha logo atrás. No entanto, segundo homens do Batalhão de Polícia de Trânsito (Bptran) e da 1ª DP  (Asa Sul), que investiga o caso, ainda não é possível garantir que as colisões tenham acontecido nessa ordem e, tampouco, que a mulher tenha sido atropelada por dois veículos, já que os motoristas fugiram.

Uma médica   que passava pelo local teria feito os primeiros socorros   por cerca de 40 minutos, até a chegada dos bombeiros e do   Samu. “Foi uma verdadeira força-tarefa.   Alguns motoristas que estavam mais próximos também pararam para ajudar a desviar o trânsito”, contou um motorista. 

Fiscalização das rodovias

O Batalhão de Polícia Rodoviária da PM (BPRv) vai utilizar dez radares móveis a partir de hoje para reforçar a fiscalização das rodovias do DF.  “A prioridade é salvar vidas e reduzir cada vez mais os acidentes provocados pelo excesso de velocidade”, destaca o subcomandante do BPRv, major Eduardo Condi.

O medidor de velocidade portátil (R19),   conhecido como radar móvel, é dotado de mira a laser. Além da velocidade, o aparelho   mede a distância entre um veículo e outro, fotografa e filma o veículo infrator, até mesmo à noite. O equipamento tem alcance de 1,2 mil metros e será usado  onde há maior risco de acidentes.

Tentativas de salvar a vida de Maria

Um helicóptero dos bombeiros chegou a ser solicitado para auxiliar no socorro da mulher, mas não foi utilizado. Segundo os socorristas, Maria não tinha condições clínicas de ser levada por meio aéreo. 

Após ser estabilizada, a vítima foi transportada em uma ambulância.  Ela chegou ao hospital em estado gravíssimo e foi encaminhada para a Ala Vermelha - onde os pacientes  são internados  antes de serem encaminhados para UTI.

 Uma série de exames foi feita. A essa altura, a mulher já respirava com a ajuda de aparelhos e um dreno havia sido colocado em um dos pulmões.  No final da manhã, porém, Maria morreu.

Busca aos envolvidos

Segundo a polícia,  a utilização de imagens das câmeras de segurança próximas ao local do acidente, para identificar os veículos envolvidos, não está descartada. Resta saber   o alcance dos aparelhos. O laudo   sobre a ordem dos acontecimentos do acidente  deve sair em 30 dias. 

O motociclista  Paulo Gonçalves,   45,  estava indo ao trabalho quando tudo aconteceu: “Só vi as motos na minha frente caindo, não tive tempo de frear. Quando caí, minha moto ainda passou por cima da que estava na frente e do motorista dela, mas ele não teve nada. Eu só machuquei a mão direita e o joelho”.

Pedestres denunciam lista de problemas

Há anos, o Eixão   acumula tristes histórias de vítimas que não chegaram ao outro lado da pista. Mas,  afinal, o que faz com que o pedestre opte por se arriscar a atravessar uma rodovia  com velocidade máxima de 80  km/h, ainda que tenha a opção de uma passagem subterrânea bem próxima? 

Os próprios pedestres   dão a resposta. A estudante Luíza Ferreira,  21 anos, diz que dependendo do horário opta por atravessar a pista. “Prefiro enfrentar os carros do que os bandidos. À noite eu não transito pelas passagens subterrâneas de jeito nenhum. São muito escuras e perigosas. De dia eu também não gosto, porque elas estão imundas. Mas, como está claro e movimentado, ainda dá para encarar”, conta.

Eunaldo Ferreira,   47 anos, concorda. “As passagens estão ruins. 

São pichadas, sujas, com pouca iluminação e muito perigosas. Eu passo por algumas depois das 19h e já percebo uma queda brusca no movimento. Passou desse horário, ninguém quer atravessar. É um breu total”, reclama.

Falta conservação

Em visita a algumas passagens subterrâneas da Asa Sul, a equipe do JBr. constatou que o estado de conservação, de fato, não é bom. Moradores e comerciantes de áreas próximas reclamam   que, não raro, esses lugares viram dormitórios para moradores de rua e esconderijos para usuários de drogas.

Além disso, lâmpadas teriam sido retiradas para um retoque na pintura e nunca foram recolocadas. Acrescentam-se a isso as escadas sem corrimão e faixas antiderrapantes, além do   mau cheiro de urina e lixo acumulado.

A maioria dos acidentes, no entanto, poderia  ter sido evitada se os pedestres tivessem o hábito constante de fazer uso das passarelas. “Sempre uso as passarelas por motivo de segurança, mas confesso que deveria existir mais passarelas. As pessoas só não usam as passarelas quando o caminho é muito longe de onde elas querem ir. Se construir mais, vai ajudar a reduzir os índices”, afirmou o servidor público, Paulo Assis,   48 anos.

 A auxiliar de apoio Janete Maria,   49 anos, passa todos os dias por uma passarela subterrânea no Eixo Sul, mas confessa que se arrisca a atravessar o trânsito aos fins de semana. “Nos horários de pico não tem como, a passarela é o único caminho seguro. Aos finais de semana, quando não passo perto de uma passarela e o trânsito é bem menor, me arrisco a uma corridinha”, diz.

Empresa do Paraná fará a revitalização

 Moradores e comerciantes do Plano Piloto dizem já ter procurado a Administração de Brasília, solicitando providências e sugerido, inclusive, a pintura de grafite nas paredes das passagens subterrâneas, pois as pichações    são recorrentes – uma guerra perdida.  

Procurada, a administração  informou que, no ano passado, foi feito um concurso nacional de arquitetura para escolher a empresa  responsável pelas reformas destes espaços. De acordo com o chefe de Comunicação do órgão, Sérgio Oliveira, um grupo do Paraná foi o ganhador da licitação. 

Segundo ele, o projeto vencedor traz uma reforma na entrada das passagens e um novo sistema de iluminação – com lâmpadas embutidas no piso e na parte superior das galerias – a fim de evitar que vândalos as quebrem e roubem. 

“A insegurança é o principal problema que enfrentamos. Atualmente, assim que a pessoa desce a escada, se depara com uma esquina, de onde não sabe o que pode sair. Pretendemos ampliar essa entrada”.

 Ele afirmou também que as reformas já começaram a ser feitas nas passagens que levam ao Hospital de Base (na 101) e ao Banco Central (na Quadra  3 do Setor Bancário Sul), ambas na Asa Sul.

Engarrafamento e imprudência

Após o acidente, duas faixas da pista central do Eixão foram bloqueadas, o que provocou um enorme congestionamento. Muitos motoristas fizeram manobras para retornar pela pista contrária e fugir do engarrafamento.

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