31/03/2014
às 19:17
Já
que estamos em tempos de recuperar os idos da ditadura militar, vou
lembrar aqui de uma frase do general João Baptista Figueiredo, o último
presidente daquele ciclo, inaugurado em 1964: “Olhem que eu chamo o Pires”.
O “Pires” era uma referência a Walter Pires, ministro do Exército.
Mostrou-se um soldado disciplinado, ali nos estertores da ditadura, mas
era de pouca prosa. Até surgiu na época uma safra de generais que
gostavam de sorrir, de fazer acenos aos críticos e tal. Não era o caso
do enigmático “Pires”.
E quando é que Figueiredo fazia aquilo? Sempre
que julgava que a oposição ou o Congresso exageravam e tentavam ir além
do que ele considerava seguro no tal processo de “abertura”. “Chamar o
Pires”, ainda que dito num tom de pilhéria agressiva, significava o
óbvio: dar um novo golpe e acabar com a brincadeira. E por que não
chamou? Acho que é porque percebeu que não era mais possível. Adiante.
Mutatis
mutandis, Lula é o “Pires” do PT. Nos bastidores, lideranças do partido
vivem ameaçando, a cada vez que se evidenciam sinais de fragilidade da
candidatura de Dilma Rousseff à reeleição: “Olhem que nós chamamos o
Lula”. É o sonho dourado de um monte de petista e, se querem saber, de
muitos empresários também.
Ninguém é tão dócil com alguns tubarões da
economia como Lula. Ele tem um lado, assim, melancia às avessas:
vermelho por fora e verdinho por dentro. Ou, se quiserem uma metáfora
mais tátil, ele se parece bastante com jaca: por fora, tem uma casca
áspera, hostil, mas, por dentro, é bastante mole e melequento,
gelatinoso mesmo.
O “vamos
chamar o Lula” voltou a ser repetido com muita frequência nos bastidores
do partido na semana passada, quando veio a público a pesquisa Ibope
indicando uma queda importante na popularidade de Dilma. A questão
existe não é de hoje.
Não custa lembrar que, ainda em 2011, no primeiro
ano do governo Dilma, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência
e espião do Apedeuta no Palácio, falou em Lula como “o nosso Pelé”,
sugerindo que o PT tem no banco o melhor jogador. Ou por outra: se Dilma
for um risco, chame-se o Pelé barbudo.
Nesta
segunda, o tucano Aécio Neves referiu-se a possibilidade da volta de
Lula à disputa em palestra concedida a empresários ligados ao LIDE,
grupo que reúne empreendedores de São Paulo. Afirmou: “Ouço sempre que
pode haver mudança da candidatura do governo. Para mim, não importa se
será Lula ou Dilma. O que eu quero é derrotar o modelo que aí está”.
O
pré-candidato tucano faz muito bem em tocar no assunto, pondo às claras
essa história de que Lula chega e toma a Presidência como e quando
quiser. Se acontecer, terá de ser com o voto do eleitorado. Ele disputar
ou não é um problema dos petistas e de Dilma, não das oposições. Esse
negócio do “olhem que nós chamamos o Lula” é só mais uma tentativa de
intimidar a oposição.
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