31/03/2014 09h10
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Avós não acreditam na versão policial de que neto matou pais e se suicidou.
Advogada disse ao G1 que vai pedir a abertura de novo inquérito policial.
Pais com Marcelo em foto de arquivo da família
Os avós paternos de Marcelo Pesseghini contrataram neste mês uma
advogada para contestar versão de que o estudante matou quatro
integrantes da própria família e se suicidou em 5 de agosto de 2013 na
Zona Norte de São Paulo. A família quer a abertura de um novo inquérito do caso.Sete meses depois, o atual inquérito sobre o caso ainda não foi concluído e relatado à Justiça, mas para o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) o crime já está esclarecido desde o ano passado: Marcelo usou a pistola .40 da mãe para executar os pais, que eram policiais militares, a avó materna e a tia-avó, e depois se matou com um tiro na cabeça na casa onde moravam.
“É mentira. É lógico que não foi o Marcelinho”, disse a dona de casa Maria José Uliana Pesseghini, de 62 anos, avó paterna de Marcelo. “Ele amava a todos e jamais faria isso. Sequer sabia atirar ou dirigir”.
“Querem culpar o menino porque ele não está mais aqui”, completou o avô do suspeito, o aposentado Luís Pesseghini, de 65, que ainda guarda os celulares das vítimas. Neles estão gravadas mensagens de carinho entre Marcelo e a mãe.
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“A defesa da família Pesseghini contesta a versão da polícia e por isso vai pedir a abertura de um novo inquérito”, disse Roselle, que trabalha na capital paulista. “Por mais que a polícia tenha antecipado a conclusão de que Marcelo matou a família e se matou, não há provas cabais e técnicas dentro do inquérito que demonstrem ou comprovem isso”.
A advogada declarou que outras pessoas deveriam ser investigadas como suspeitas do crime. “Um colega da corporação falou à polícia que Andreia se queixou de ter sido ameaçada e isso não foi investigado a fundo”, disse Roselle. “Isso sem falar que ela havia perdido as chaves de casa e alguém pode tê-las encontrado e entrado lá e cometido o crime”.
Ela contestou também a perícia feita pela Polícia Técnico-Científica. “A cena do crime pode ter sido mexida antes da chegada dos peritos”, disse Roselle, que encaminhou ao DHPP um documento com 16 questionamentos sobre o trabalho do Instituto de Criminalística no caso. “Muitas pessoas que conheciam às vítimas estiveram na casa antes dos peritos. Quem garante que ninguém modificou o local”.
Foto
da perícia mostra mão esquerda de Marcelo perto de arma. Advogada quer
saber porque há lesões que não foram citadas (Foto: Reprodução)
A advogada quer saber, por exemplo, porque os peritos não relataram nos laudos lesões visíveis que estão na palma da mão esquerda de Marcelo, como se fossem causadas por ação de defesa. “Na foto da perícia é mostrada a mão dele como se o dedo estive no gatilho da arma, mas tem manchas na palma e respingos de sangue incompatíveis com quem teria se suicidado”.
Segundo a especialista, outra imagem que chamou a atenção dela foi que a perícia não informou nos documentos porque a calça de Marcelo está rasgada e com mancha de sangue. “O fato é que existe a possibilidade de o verdadeiro assassino não ter sido investigado”, disse Roselle.
Caso o DHPP não investigue outros suspeitos e confirme o caso como homicídio seguido de suicídio, a advogado pretende pedir a abertura de um novo inquérito à Justiça.
O G1 não localizou o delegado Itagiba Franco, da divisão de homicídios do DHPP, e o promotor Daniel Tosta de Freitas, do Ministério Público, para comentarem o assunto.
Segundo policiais do departamento de homicídios, o DHPP aguarda o relatório sobre dez ligações telefônicas que Marcelo teria feito no dia do crime para concluir o inquérito e relatá-lo. Assim que o caso chegar à Promotoria, o promotor poderá pedir seu arquivamento à Justiça já que, em tese, o assassino está morto.
A Promotoria recebeu recentemente um parecer do médico legista George Sanguinetti, que teria sido feito por ele de maneira independente, sem qualquer relação com os avós paternos de Marcelo.
O documento também contesta a perícia feita no caso e a tese da investigação que culpa Marcelo. O especialista, que mora em Alagoas, ficou conhecido após defender a tese de duplo assassinato do ex-tesoureiro Paulo César Farias e sua namorada, Suzana Marcolino, em 1996, em Maceió.
Versão policial
A conclusão do DHPP de que Marcelo matou a família e se matou se baseia ainda no laudo psiquiátrico sobre a personalidade do garoto de 13 anos apontou que complicações de uma doença mental aliadas a fatores externos o levaram a atirar no pai, o sargento das Rondas Tobias de Aguiar (Rota), Luís Marcelo Pesseghini, de 40 anos; a mãe, a cabo Andréia Bovo Pesseghini, de 36; a avó-materna Benedita de Oliveira Bovo, 65; e a tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, 55. O documento foi feito pelo psiquiatra forense Guido Palomba.
Depois, segundo a polícia, o adolescente dirigiu o carro da mãe até uma rua próxima ao colégio onde estudava, dormiu dentro do veículo, e foi para a aula. Lá, contou para os amigos que havia matado a família, mas ninguém acreditou. Em seguida, voltou para a residência e se matou. Todos foram mortos com tiros na cabeça.
De acordo com o exame psiquiátrico, o estudante sofria de uma “encefalopatia hipóxica” (falta de oxigenação no cérebro) que o fez desenvolver um "delírio encapsulado” (tinha ideias delirantes). E que também foi influenciado por games violentos.
O laudo apontou que, no ano passado, esse quadro de delírios se agravou quando Marcelo quis se tornar um justiceiro, um matador de aluguel de corruptos, inspirado no game "Assassin’s Creed".
Um mês antes dos crimes, o estudante passou a usar a imagem do assassino do jogo no seu perfil do Facebook, e começou a usar um capuz como o personagem Desmond Miles - um barman que volta no tempo na pele de seus ancestrais.
Com isso, encarna o matador Altair e se envolve na guerra entre assassinos e templários ao longo de diversos eventos históricos.
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