Leonardo Sakamoto
Todo o barulho causado pelos resultados do estudo do Ipea sobre violência contra mulheres e pela campanha “Eu não mereço ser estuprada” serviu para reforçar outro fato: os soldados do machismo são péssimos nos quesitos “interpretação de texto” e “argumentação”.
Devo confessar que fiquei com uma vergonha alheia forte ao ler algumas coisas que brotaram desse debate. Sensação de “putz, olha lá o cara fazendo cocô de porta aberta!”
Há pessoas que se valem de um contorcionismo maluco para justificar o injustificável. A ponto de, depois de ler uma meia dúzia delas, percebermos porque inteligências extraterrestres mais avançadas nunca quiseram fazer contato conosco…
“Ah, mas foi uma maioria de mulheres que respondeu a pesquisa apontando que uma mulher merece ser atacada por mostrar o corpo.” E daí, amigo? Isso não muda coisa alguma considerando que homens e mulheres são vetores de propagação e manutenção de um sistema machista de valores.
Mas, em última instância, são homens que assediam, encoxam, espancam, estupram e matam em nome desse sistema. Se você consegue juntar as peças de um Lego ou consegue usar xampu ao tomar banho, por que tem tanta dificuldade em entender isso?
Diante desses comentários, o primeiro instinto, alheio à razão, tende a ser preconceituoso. A dificuldade de entendimento viria de falhas na educação formal.
Mas vendo as intervenções bem escritas e constatando que uma parcela significativa dos dodóis cresceu na base do leite de pera, do berçàrio à faculdade, largo as soluções fáceis e volto-me à conclusão de que imbecilidade realmente não vê escolaridade ou classe social. Da mesma forma que um olho roxo ou uma tentativa de estupro da própria esposa pode ocorrer, sem pudores, nos Jardins ou no Grajaú.
Ou seja, grande quantidade de informação repassada sem reflexão não leva à conscientização. A educação pode funcionar apenas como processo de transmissão dos mesmos valores que mantém homens como cidadãos de primeira classe, ensinando às engrenagens o seu lugar na máquina, ou pode ser libertadora.
E, portanto, subversiva, dando ferramentas para reconstruir o sistema. E quando uma tentativa de “insurreição” desponta no horizonte, hordas fazem de tudo para manter tudo como sempre foi.
Mas tomem cuidado. Quando você posta no Facebook, no Twitter ou em blogs não está tendo uma conversa particular. Pelo contrário, está falando ao megafone. E todo mundo está vendo a porcaria que está fazendo – o que pode ter consequências graves.
Um copiloto da Avianca foi demitido na sexta (28) por conta de comentários preconceituosos contra nordestinos em seu Facebook no dia anterior.
“Para manter o padrão porco, nojento, relaxado, escroto de tudo no Nordeste como sempre”, escreveu sobre o atendimento de um restaurante em João Pessoa (PB), entre outras coisas.
Depois da grande repercussão na rede, ele apagou o comentário e se desculpou. Mas, aí, já era tarde.
Não é a primeira vez que uma empresa demite o empregado por conta de postagens sem-noção em redes sociais. O caso mais famoso dos últimos tempos foi o de uma diretora de comunicação da InterActibe Corp, que publicou uma barbaridade antes de levantar vôo para a África do Sul. Quando pousou, descobriu que havia virado TT. Acabou demitida.
“Indo para a África. Espero não contrair Aids. Brincadeira. Sou branca!”, escreveu. Ela só tinha 200 seguidores no Twitter, mas a informação rodou o mundo.
Depois da eleição de Dima Rousseff, o Twitter amanheceu com uma enxurrada de preconceitos contra moradores da região Nordeste por conta da expressiva votação que a região garantiu a ela. Os microposts foram extremamente ofensivos e degradantes, revelando o que há de mais obscuro na alma das pessoas. Muitas pessoas não imaginavam que suas postagens iam se espalhar tanto. Ou serem alvo de investigação da polícia por discriminação.
Um momento que é transformador – e aterrador – na vida das pessoas é quando elas tem aquele click e percebem que a vida delas não é uma ilha isolada, mas estão conectadas ao mundo inteiro através de suas relações sociais.
Ou seja, aquela abobrinha postada na rede social ou blog do esquerdopata japonês, embaixo do cobertor, para os seus 200 amigos/seguidores, dizendo que “a vagabunda é que estava pedindo” ou que ” uma mulher de bem não seria estuprada porque não se presta a determinado papel” será amplificado e chegará onde você não imagina.
Faça um teste: vá até a conexão das estações Consolação e Paulista do metrô e grite a plenos pulmões aquelas coisas fora da casinha que você costuma gritar na rede. Se ninguém estranhar, publique.
“Ah, mas é diferente, japa.” Sim, é. Na internet, é muito pior do que falar na conexão de um metrô ou em um auditório lotado.
Atravessamos a adolescência da internet, em que as pessoas estão com os hormônios à flor da pele, descobrindo para que servem certas partes do corpo, e fazendo besteira loucamente. Os formadores de opinião têm uma parcela grande de responsabilidade em incendiar o pessoal que não estava acostumado com o debate público. E feito uma criança que nunca viu um gatinho, maltrata o bichinho quando ganha um.
As pessoas ganharam acesso a meios de comunicação que podem atingir multidões, mas não sabem lidar com isso, muito menos com as consequências de suas intervenções. Seria ótimo contar com educação para a mídia, como já fazem algumas escolas, para que possamos entender o que esse maravilhoso mundo novo significa.
Se está postando algo só para desabafar ou se gosta de repetir bobagens ditas por seus ídolos, a chance de dar merda é grande. Pois – guiado pelas emoções mais selvagens – você pode dizer ou reproduzir algo que não diria aconselhado pela racionalidade e o bom senso.
Pois não me espantaria se alguns profissionais que postaram em redes sociais e blogs defendendo a supremacia masculina, com argumentos violentos que fariam corar o Capiroto, recebessem um bilhete azul.
Sabemos do hercúleo esforço que empresas empreendem para construir a credibilidade de suas marcas. Diante do risco de serem associadas à violência de gênero ou racismo, elas vêm preferindo repreender ou eliminar o fator causador do problema do que arcar com campanhas contrárias a elas.
Problemas como empregados que usam a hora do expediente para pregar a violência sexual na internet, por exemplo.
Recebi uma série de mensagens de leitoras que reclamaram de seus colegas que usam o computador da firma para postar aberrações. Minha recomendação tem sido: denuncie.
“Ah, japonês censor, você quer criar um clima de terror!” Não, desejo apenas que vocês que agem como crianças mimadas e violentas contra mulheres sejam finalmente responsáveis por suas ações.
Portanto, antes de postar, pergunte-se: este comentário é realmente necessário? Não estou dizendo relevante porque provavelmente não é, tal qual este post. Mas ele é realmente necessário?
Devo confessar que fiquei com uma vergonha alheia forte ao ler algumas coisas que brotaram desse debate. Sensação de “putz, olha lá o cara fazendo cocô de porta aberta!”
Há pessoas que se valem de um contorcionismo maluco para justificar o injustificável. A ponto de, depois de ler uma meia dúzia delas, percebermos porque inteligências extraterrestres mais avançadas nunca quiseram fazer contato conosco…
“Ah, mas foi uma maioria de mulheres que respondeu a pesquisa apontando que uma mulher merece ser atacada por mostrar o corpo.” E daí, amigo? Isso não muda coisa alguma considerando que homens e mulheres são vetores de propagação e manutenção de um sistema machista de valores.
Mas, em última instância, são homens que assediam, encoxam, espancam, estupram e matam em nome desse sistema. Se você consegue juntar as peças de um Lego ou consegue usar xampu ao tomar banho, por que tem tanta dificuldade em entender isso?
Diante desses comentários, o primeiro instinto, alheio à razão, tende a ser preconceituoso. A dificuldade de entendimento viria de falhas na educação formal.
Mas vendo as intervenções bem escritas e constatando que uma parcela significativa dos dodóis cresceu na base do leite de pera, do berçàrio à faculdade, largo as soluções fáceis e volto-me à conclusão de que imbecilidade realmente não vê escolaridade ou classe social. Da mesma forma que um olho roxo ou uma tentativa de estupro da própria esposa pode ocorrer, sem pudores, nos Jardins ou no Grajaú.
Ou seja, grande quantidade de informação repassada sem reflexão não leva à conscientização. A educação pode funcionar apenas como processo de transmissão dos mesmos valores que mantém homens como cidadãos de primeira classe, ensinando às engrenagens o seu lugar na máquina, ou pode ser libertadora.
E, portanto, subversiva, dando ferramentas para reconstruir o sistema. E quando uma tentativa de “insurreição” desponta no horizonte, hordas fazem de tudo para manter tudo como sempre foi.
Pessoal,
vocês podem se esconder atrás de argumentos baratos ou aceitar que a
imensa maioria de nós, homens e mulheres, fomos programados para
propagar o machismo. E é uma luta diária pesada nos livrarmos disso.
Mas tomem cuidado. Quando você posta no Facebook, no Twitter ou em blogs não está tendo uma conversa particular. Pelo contrário, está falando ao megafone. E todo mundo está vendo a porcaria que está fazendo – o que pode ter consequências graves.
Um copiloto da Avianca foi demitido na sexta (28) por conta de comentários preconceituosos contra nordestinos em seu Facebook no dia anterior.
“Para manter o padrão porco, nojento, relaxado, escroto de tudo no Nordeste como sempre”, escreveu sobre o atendimento de um restaurante em João Pessoa (PB), entre outras coisas.
Depois da grande repercussão na rede, ele apagou o comentário e se desculpou. Mas, aí, já era tarde.
Não é a primeira vez que uma empresa demite o empregado por conta de postagens sem-noção em redes sociais. O caso mais famoso dos últimos tempos foi o de uma diretora de comunicação da InterActibe Corp, que publicou uma barbaridade antes de levantar vôo para a África do Sul. Quando pousou, descobriu que havia virado TT. Acabou demitida.
“Indo para a África. Espero não contrair Aids. Brincadeira. Sou branca!”, escreveu. Ela só tinha 200 seguidores no Twitter, mas a informação rodou o mundo.
Depois da eleição de Dima Rousseff, o Twitter amanheceu com uma enxurrada de preconceitos contra moradores da região Nordeste por conta da expressiva votação que a região garantiu a ela. Os microposts foram extremamente ofensivos e degradantes, revelando o que há de mais obscuro na alma das pessoas. Muitas pessoas não imaginavam que suas postagens iam se espalhar tanto. Ou serem alvo de investigação da polícia por discriminação.
Um momento que é transformador – e aterrador – na vida das pessoas é quando elas tem aquele click e percebem que a vida delas não é uma ilha isolada, mas estão conectadas ao mundo inteiro através de suas relações sociais.
Ou seja, aquela abobrinha postada na rede social ou blog do esquerdopata japonês, embaixo do cobertor, para os seus 200 amigos/seguidores, dizendo que “a vagabunda é que estava pedindo” ou que ” uma mulher de bem não seria estuprada porque não se presta a determinado papel” será amplificado e chegará onde você não imagina.
Faça um teste: vá até a conexão das estações Consolação e Paulista do metrô e grite a plenos pulmões aquelas coisas fora da casinha que você costuma gritar na rede. Se ninguém estranhar, publique.
“Ah, mas é diferente, japa.” Sim, é. Na internet, é muito pior do que falar na conexão de um metrô ou em um auditório lotado.
Atravessamos a adolescência da internet, em que as pessoas estão com os hormônios à flor da pele, descobrindo para que servem certas partes do corpo, e fazendo besteira loucamente. Os formadores de opinião têm uma parcela grande de responsabilidade em incendiar o pessoal que não estava acostumado com o debate público. E feito uma criança que nunca viu um gatinho, maltrata o bichinho quando ganha um.
As pessoas ganharam acesso a meios de comunicação que podem atingir multidões, mas não sabem lidar com isso, muito menos com as consequências de suas intervenções. Seria ótimo contar com educação para a mídia, como já fazem algumas escolas, para que possamos entender o que esse maravilhoso mundo novo significa.
Se está postando algo só para desabafar ou se gosta de repetir bobagens ditas por seus ídolos, a chance de dar merda é grande. Pois – guiado pelas emoções mais selvagens – você pode dizer ou reproduzir algo que não diria aconselhado pela racionalidade e o bom senso.
Pois não me espantaria se alguns profissionais que postaram em redes sociais e blogs defendendo a supremacia masculina, com argumentos violentos que fariam corar o Capiroto, recebessem um bilhete azul.
Sabemos do hercúleo esforço que empresas empreendem para construir a credibilidade de suas marcas. Diante do risco de serem associadas à violência de gênero ou racismo, elas vêm preferindo repreender ou eliminar o fator causador do problema do que arcar com campanhas contrárias a elas.
Problemas como empregados que usam a hora do expediente para pregar a violência sexual na internet, por exemplo.
Recebi uma série de mensagens de leitoras que reclamaram de seus colegas que usam o computador da firma para postar aberrações. Minha recomendação tem sido: denuncie.
“Ah, japonês censor, você quer criar um clima de terror!” Não, desejo apenas que vocês que agem como crianças mimadas e violentas contra mulheres sejam finalmente responsáveis por suas ações.
Portanto, antes de postar, pergunte-se: este comentário é realmente necessário? Não estou dizendo relevante porque provavelmente não é, tal qual este post. Mas ele é realmente necessário?
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