segunda-feira, 3 de março de 2014

Dilma tenta gerir tensão política no varejo até a eleição


De acordo com assessores, projeto da petista é reeditar o modelo de Lula para lida com o Congresso e evitar descontrole da base aliada

02 de março de 2014 | 2h 10

Vera Rosa / Brasília - O Estado de S.Paulo
 
A sete meses das eleições, a presidente Dilma Rousseff tentará resolver pontualmente as insatisfações da base aliada, ou seja, vai gerir as pressões no varejo até outubro para, só depois, em caso de vitória, colocar em prática um plano de reestruturação da coalizão.

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"Não é fácil carregar o governo nas costas", disse Dilma Rousseff em conversas com amigos. - Dida Sampaio/Estadão

"Não é fácil carregar o governo nas costas", disse Dilma Rousseff em conversas com amigos.
 
 
O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), o vice Michel Temer (PMDB) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), têm papel fundamental nessa estratégia. 

A presidente conta com o tradicional esvaziamento do Congresso em ano eleitoral para reduzir os danos políticos. A superação dos entraves das alianças regionais nas disputas pelos governos dos Estados e a conclusão da reforma ministerial também serão determinantes.

Plano futuro. Dilma já começou a dar mais poder a Mercadante para que ele lide com os problemas de imediato. E, se conseguir ser reeleita, a presidente planeja consolidar o papel da Casa Civil como o centro das negociações políticas e recriar o chamado "núcleo duro" do Palácio do Planalto. 

Em conversas com amigos, ela tem dito que "não é fácil carregar o governo nas costas" e admite que o perfil técnico desenhado por ela para a Casa Civil, após a queda de Antonio Palocci, em 2011, está esgotado. 

O plano é reforçar a equipe de assessores parlamentares e retomar as reuniões semanais com ministros da "cozinha" do Planalto, como Casa Civil, Secretaria-Geral, Relações Institucionais, Comunicação, Justiça, e a própria Vice-Presidência. 

O objetivo desses encontros seria o de detectar qualquer rebelião "no nascedouro" - de brigas no Congresso a protestos de rua, passando por queixas de empresários - e discutir os rumos da administração. 

Adotado nos primeiros anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o modelo do "núcleo duro" foi esvaziado no segundo mandato e acabou enterrado por Dilma. 

Ex-ministra da Casa Civil, ela nunca gostou dos rapapés da política e aboliu as reuniões conjuntas com os auxiliares mais próximos para evitar "vazamentos" de informação. 

Nos últimos dias, porém, Dilma foi atropelada pela crise. Embora pesquisas indiquem a vitória no 1º turno contra o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), críticas sucessivas a seu estilo avesso à negociação preocupam Lula e o PT. 

No deserto. Num jantar realizado em São Paulo, há cerca de um mês, empresários se queixaram com Lula da falta de interlocução com Dilma e também do vaivém na economia, que deixa investidores inseguros. 

Um dos convidados chegou a dizer que apresentar uma sugestão a Dilma é como "pregar no deserto". 

Na reunião estavam Palocci, defenestrado da Casa Civil após denúncias de enriquecimento ilícito, e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. 

Um tímido coro de "Volta Lula" começou a ser entoado nos bastidores por empresários e políticos, incluindo os do PT, mas o ex-presidente desautorizou a iniciativa. "Não há a menor chance", garantiu ele a um senador do PMDB.

Armas eleitorais. Em recentes encontros com representantes da indústria, Lula disse que o Brasil tem hoje mais condições para dar um salto econômico, previu ajustes em 2015 e mencionou dois eixos considerados imbatíveis na campanha da reeleição de Dilma: a manutenção do emprego e da renda. 

Na seara política, Mercadante e Temer foram escalados para apaziguar a fúria dos partidos que sustentam o governo no Congresso. 

Além da encruada reforma ministerial, a lista de queixas inclui o "represamento" de emendas parlamentares e o que os deputados chamam de "desprezo" de Dilma para com as parcerias regionais. 

'Blocão'. Diante da ameaça do recém-criado "blocão" - formado por sete partidos da base e um da oposição, para criar dificuldades ao governo em votações na Câmara -, o primeiro ensaio para jogar água na fervura ocorreu na segunda-feira mas terminou em desconfianças quanto ao estilo de Mercadante.

O mal-estar começou quando, em reunião com líderes de dez bancadas na Câmara dos Deputados, o chefe da Casa Civil lembrou que Dilma teria cerca de 13 minutos de propaganda na TV, a partir de agosto, tempo suficiente para lhe assegurar um segundo mandato. 

Sugeriu, então, que os candidatos parassem de reclamar da falta de atenção e tirassem foto com ela. 

"Vocês do PT, sozinhos, só têm uns 5 minutos na propaganda na TV. Os outros 8 estão aqui nessa mesa", retrucou o líder do PROS, Givaldo Carimbão (AL). 

Mercadante também irritou os deputados ao dizer que havia "mais partidos" na base aliada do que ministérios disponíveis. "Então você acha que é preciso diminuir a base?", provocou Carimbão. 

Nem mesmo a promessa do governo de enviar 12 ministros para um plantão no Congresso, a fim de ouvir as demandas dos deputados, pôs fim à revolta. 

"Tudo o que venha para fortalecer a atuação parlamentar não é concessão. É respeito", reagiu o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN). 

PT x PMDB. Patrocinador do bloco de rebelados, conhecido como "centrão", Alves é um dos escanteados por Dilma e atua para neutralizar o PT na briga pela reeleição à presidência da Câmara. 

"Não estamos disputando nada com o PMDB", reagiu o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR). 

"Por mim, o governo pode nomear quem quiser. O PMDB está sub-representado nesse Ministério, tem cinco pastas enquanto o PT tem 17 e ainda parece que está implorando por cargos", reclamou o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). 

Alianças regionais. O impasse continua nos Estados. Na Casa Civil, Mercadante iniciou uma maratona de reuniões com governadores, na tentativa de construir palanques de apoio a Dilma. 

Dos 27 Estados, no entanto, o PT e o PMDB só se acertaram até agora em cinco (Sergipe, Pará, Amapá, Mato Grosso e Distrito Federal). 

Nos maiores colégios eleitorais, como São Paulo, Minas, Rio, Bahia e Rio Grande do Sul, os dois partidos estão em campos opostos. / COLABOROU EDUARDO BRESCIANI

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