De acordo com assessores, projeto da petista é reeditar o modelo de Lula para lida com o Congresso e evitar descontrole da base aliada
02 de março de 2014 | 2h 10
Vera Rosa / Brasília - O Estado de S.Paulo
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"Não é fácil carregar o governo nas costas", disse Dilma Rousseff em conversas com amigos.
A presidente conta com o tradicional esvaziamento do Congresso em ano eleitoral para reduzir os danos políticos. A superação dos entraves das alianças regionais nas disputas pelos governos dos Estados e a conclusão da reforma ministerial também serão determinantes.
Plano futuro. Dilma já começou a dar mais poder a Mercadante para que ele lide com os problemas de imediato. E, se conseguir ser reeleita, a presidente planeja consolidar o papel da Casa Civil como o centro das negociações políticas e recriar o chamado "núcleo duro" do Palácio do Planalto.
Em conversas com amigos, ela tem dito que "não é fácil carregar o governo nas costas" e admite que o perfil técnico desenhado por ela para a Casa Civil, após a queda de Antonio Palocci, em 2011, está esgotado.
O plano é reforçar a equipe de assessores parlamentares e retomar as reuniões semanais com ministros da "cozinha" do Planalto, como Casa Civil, Secretaria-Geral, Relações Institucionais, Comunicação, Justiça, e a própria Vice-Presidência.
O objetivo desses encontros seria o de detectar qualquer rebelião "no nascedouro" - de brigas no Congresso a protestos de rua, passando por queixas de empresários - e discutir os rumos da administração.
Adotado nos primeiros anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o modelo do "núcleo duro" foi esvaziado no segundo mandato e acabou enterrado por Dilma.
Ex-ministra da Casa Civil, ela nunca gostou dos rapapés da política e aboliu as reuniões conjuntas com os auxiliares mais próximos para evitar "vazamentos" de informação.
Nos últimos dias, porém, Dilma foi atropelada pela crise. Embora pesquisas indiquem a vitória no 1º turno contra o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), críticas sucessivas a seu estilo avesso à negociação preocupam Lula e o PT.
No deserto. Num jantar realizado em São Paulo, há cerca de um mês, empresários se queixaram com Lula da falta de interlocução com Dilma e também do vaivém na economia, que deixa investidores inseguros.
Um dos convidados chegou a dizer que apresentar uma sugestão a Dilma é como "pregar no deserto".
Na reunião estavam Palocci, defenestrado da Casa Civil após denúncias de enriquecimento ilícito, e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
Um tímido coro de "Volta Lula" começou a ser entoado nos bastidores por empresários e políticos, incluindo os do PT, mas o ex-presidente desautorizou a iniciativa. "Não há a menor chance", garantiu ele a um senador do PMDB.
Armas eleitorais. Em recentes encontros com representantes da indústria, Lula disse que o Brasil tem hoje mais condições para dar um salto econômico, previu ajustes em 2015 e mencionou dois eixos considerados imbatíveis na campanha da reeleição de Dilma: a manutenção do emprego e da renda.
Na seara política, Mercadante e Temer foram escalados para apaziguar a fúria dos partidos que sustentam o governo no Congresso.
Além da encruada reforma ministerial, a lista de queixas inclui o "represamento" de emendas parlamentares e o que os deputados chamam de "desprezo" de Dilma para com as parcerias regionais.
'Blocão'. Diante da ameaça do recém-criado "blocão" - formado por sete partidos da base e um da oposição, para criar dificuldades ao governo em votações na Câmara -, o primeiro ensaio para jogar água na fervura ocorreu na segunda-feira mas terminou em desconfianças quanto ao estilo de Mercadante.
O mal-estar começou quando, em reunião com líderes de dez bancadas na Câmara dos Deputados, o chefe da Casa Civil lembrou que Dilma teria cerca de 13 minutos de propaganda na TV, a partir de agosto, tempo suficiente para lhe assegurar um segundo mandato.
Sugeriu, então, que os candidatos parassem de reclamar da falta de atenção e tirassem foto com ela.
"Vocês do PT, sozinhos, só têm uns 5 minutos na propaganda na TV. Os outros 8 estão aqui nessa mesa", retrucou o líder do PROS, Givaldo Carimbão (AL).
Mercadante também irritou os deputados ao dizer que havia "mais partidos" na base aliada do que ministérios disponíveis. "Então você acha que é preciso diminuir a base?", provocou Carimbão.
Nem mesmo a promessa do governo de enviar 12 ministros para um plantão no Congresso, a fim de ouvir as demandas dos deputados, pôs fim à revolta.
"Tudo o que venha para fortalecer a atuação parlamentar não é concessão. É respeito", reagiu o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN).
PT x PMDB. Patrocinador do bloco de rebelados, conhecido como "centrão", Alves é um dos escanteados por Dilma e atua para neutralizar o PT na briga pela reeleição à presidência da Câmara.
"Não estamos disputando nada com o PMDB", reagiu o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR).
"Por mim, o governo pode nomear quem quiser. O PMDB está sub-representado nesse Ministério, tem cinco pastas enquanto o PT tem 17 e ainda parece que está implorando por cargos", reclamou o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ).
Alianças regionais. O impasse continua nos Estados. Na Casa Civil, Mercadante iniciou uma maratona de reuniões com governadores, na tentativa de construir palanques de apoio a Dilma.
Dos 27 Estados, no entanto, o PT e o PMDB só se acertaram até agora em cinco (Sergipe, Pará, Amapá, Mato Grosso e Distrito Federal).
Nos maiores colégios eleitorais, como São Paulo, Minas, Rio, Bahia e Rio Grande do Sul, os dois partidos estão em campos opostos. / COLABOROU EDUARDO BRESCIANI
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