Deic identificou 3 grupos de São Paulo que se especializaram em ataques com barricada e contenção policial para explodir caixas
02 de março de 2014 | 2h 04
RICARDO BRANDT - O Estado de S.Paulo
Agindo em bando e fortemente armados, criminosos
adotaram táticas de guerrilha para invadir pequenas cidades e saquear,
simultaneamente, o dinheiro dos caixas eletrônicos dos bancos com uso de
explosivos.
Chamado de "novo cangaço", eles espalham o medo e transformam, da noite para o dia, a vida nos municípios do interior de São Paulo e das divisas com Minas Gerais e Paraná, considerados recantos de sossego.
Veja também:
'Meu filho foi feito de escudo e morreu com um tiro nas costas' Bando aproveita o carnaval para voltar a atacar Novo cangaço muda rotina de pequenas cidades paulistas e desafia polícia
Identificadas desde 2011, as ações do novo cangaço se intensificaram
desde o ano passado, segundo o Departamento Estadual de Investigações
Criminais (Deic).
O crescimento é atribuído à atuação organizada de três grandes quadrilhas paulistas identificadas pelo órgão, com 20 a 30 membros cada. Os novos cangaceiros agem de madrugada, com veículos potentes, em ações que levam, em média, 15 minutos.
Vestem touca ninja na cabeça, luvas e coletes. As cidades menos populosas são escolhidas não só pelo baixo efetivo policial, mas também pelo isolamento geográfico.
Recriando o estilo dos velhos cangaceiros do sertão nordestino - em uma versão moderna mais violenta e desprovida de motivações sociais -, os criminosos sitiam a cidade com barricadas e contenção armada nos acessos viários, disparam contra a base policial para impedir reações e contra curiosos que possam identificá-los.
Enquanto isso, outra parte do grupo invade as agências e destroem os caixas com explosivo roubado de pedreiras e grandes obras.
"São criminosos que encontraram dentro desse formato de agir um meio mais fácil de roubar sem serem presos em flagrante ou identificados por testemunhas", explica o delegado do Deic Ruy Ferraz Fontes. "Eles agem rápido, afastam testemunhas com disparos a esmo e fogem antes de chegar reforço. É difícil ter flagrante."
Por causa do baixo lucro dos saques, a polícia identificou que as quadrilhas têm atuado quase que semanalmente para se manter. Cidades como Santa Branca, Conchas e Avaí, visitadas pelo Estado, foram alvo dos criminosos.
Estima-se que as explosões deram prejuízo de mais de R$ 70 milhões aos bancos, no ano passado. Parte desse dinheiro abastece o Primeiro Comando da Capital (PCC), segundo as investigações.
Medo de guerra. A última ação do novo cangaço terminou em uma guerra entre polícia e criminosos, no fim de semana passado, no sul de Minas.
Por quase meia hora, cerca de 200 policiais trocaram tiros com pelo menos 20 bandidos em Itamonte.
Dez criminosos foram mortos, um refém acabou assassinado por engano, um comerciante foi sequestrado e depois solto e um policial ficou gravemente ferido.
Por causa do confronto, o prefeito Ari Constantino Filho (PP) cancelou o carnaval, mesmo com palco montado na praça e artistas contratados. A dona de casa Diva Maria Rodrigues, de 56 anos, que mora na mesma rua em que um banco foi explodido, diz que "ninguém mais sai de casa depois que escurece". "Ainda mais que disseram que tem bandido escondido por aí", diz.
"Pessoas que vivem em lugares como esses, quando passam por um episódio traumático, com confronto armado e mortes, têm a mesma sensação de quem está na guerra", explica a professora de psicologia forense da Pontifícia Universidade Católica de Campinas Maria de Fátima Santos.
"É natural passarem a ver estranhos como suspeitos. É um mecanismo de defesa natural."
A Federação Nacional dos Bancos (Febraban) informou que acompanha "com extrema preocupação" os ataques. O órgão afirmou, em nota, que os investimentos em segurança dos bancos saltaram de R$ 3 bilhões, em 2002, para R$ 9 bilhões, no ano passado.
Diante da força "desproporcional" aplicada pelas quadrilhas, "a ação de segurança permitida pela legislação (aos bancos) é insuficiente".
Segundo o delegado Fontes, a polícia intensificou a ofensiva contra as quadrilhas, com apoio do Exército, que fechou o cerco contra os roubos e desvios de explosivos.
Chamado de "novo cangaço", eles espalham o medo e transformam, da noite para o dia, a vida nos municípios do interior de São Paulo e das divisas com Minas Gerais e Paraná, considerados recantos de sossego.
Veja também:
'Meu filho foi feito de escudo e morreu com um tiro nas costas' Bando aproveita o carnaval para voltar a atacar Novo cangaço muda rotina de pequenas cidades paulistas e desafia polícia
Daniel Teixeira/Estadão
Moradora diz que foram 10 minutos de disparos
O crescimento é atribuído à atuação organizada de três grandes quadrilhas paulistas identificadas pelo órgão, com 20 a 30 membros cada. Os novos cangaceiros agem de madrugada, com veículos potentes, em ações que levam, em média, 15 minutos.
Vestem touca ninja na cabeça, luvas e coletes. As cidades menos populosas são escolhidas não só pelo baixo efetivo policial, mas também pelo isolamento geográfico.
Recriando o estilo dos velhos cangaceiros do sertão nordestino - em uma versão moderna mais violenta e desprovida de motivações sociais -, os criminosos sitiam a cidade com barricadas e contenção armada nos acessos viários, disparam contra a base policial para impedir reações e contra curiosos que possam identificá-los.
Enquanto isso, outra parte do grupo invade as agências e destroem os caixas com explosivo roubado de pedreiras e grandes obras.
"São criminosos que encontraram dentro desse formato de agir um meio mais fácil de roubar sem serem presos em flagrante ou identificados por testemunhas", explica o delegado do Deic Ruy Ferraz Fontes. "Eles agem rápido, afastam testemunhas com disparos a esmo e fogem antes de chegar reforço. É difícil ter flagrante."
Por causa do baixo lucro dos saques, a polícia identificou que as quadrilhas têm atuado quase que semanalmente para se manter. Cidades como Santa Branca, Conchas e Avaí, visitadas pelo Estado, foram alvo dos criminosos.
Estima-se que as explosões deram prejuízo de mais de R$ 70 milhões aos bancos, no ano passado. Parte desse dinheiro abastece o Primeiro Comando da Capital (PCC), segundo as investigações.
Medo de guerra. A última ação do novo cangaço terminou em uma guerra entre polícia e criminosos, no fim de semana passado, no sul de Minas.
Por quase meia hora, cerca de 200 policiais trocaram tiros com pelo menos 20 bandidos em Itamonte.
Dez criminosos foram mortos, um refém acabou assassinado por engano, um comerciante foi sequestrado e depois solto e um policial ficou gravemente ferido.
Por causa do confronto, o prefeito Ari Constantino Filho (PP) cancelou o carnaval, mesmo com palco montado na praça e artistas contratados. A dona de casa Diva Maria Rodrigues, de 56 anos, que mora na mesma rua em que um banco foi explodido, diz que "ninguém mais sai de casa depois que escurece". "Ainda mais que disseram que tem bandido escondido por aí", diz.
"Pessoas que vivem em lugares como esses, quando passam por um episódio traumático, com confronto armado e mortes, têm a mesma sensação de quem está na guerra", explica a professora de psicologia forense da Pontifícia Universidade Católica de Campinas Maria de Fátima Santos.
"É natural passarem a ver estranhos como suspeitos. É um mecanismo de defesa natural."
A Federação Nacional dos Bancos (Febraban) informou que acompanha "com extrema preocupação" os ataques. O órgão afirmou, em nota, que os investimentos em segurança dos bancos saltaram de R$ 3 bilhões, em 2002, para R$ 9 bilhões, no ano passado.
Diante da força "desproporcional" aplicada pelas quadrilhas, "a ação de segurança permitida pela legislação (aos bancos) é insuficiente".
Segundo o delegado Fontes, a polícia intensificou a ofensiva contra as quadrilhas, com apoio do Exército, que fechou o cerco contra os roubos e desvios de explosivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário