Doméstico pesa mais no gasto das famílias
De um lado, o salário mínimo subiu acima da inflação e, de outro, menos
pessoas estão dispostas a trabalhar em serviços domésticos. ...
Tal combinação trouxe custos adicionais ao orçamento das famílias que
mantêm empregados em seus lares, segundo dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) levantados pela Folha.
Desde 2004, o custo dos domésticos sobe acima da inflação e o aumento tem sido forte nos últimos anos.
Pelos dados do IBGE, o custo do emprego doméstico aumentou 11,26% em
2013, quase o dobro da inflação medida pelo IPCA -de 5,91%. Em 2012, a
alta chegou a 12,73%, ante uma inflação de 5,84%.
Neste ano, a tendência se repete. Em janeiro, o custo do empregado doméstico avançou 1,03%, quase o dobro do IPCA (0,55%).
ORÇAMENTO
Manter um empregado doméstico superou até mesmo o já salgado reajuste
dos serviços, que sobem mais do que a média dos preços da economia: 8,7%
no ano passado.
O custo com empregados em casa está entre as maiores altas dos itens de peso relevante no orçamento.
Percentualmente, gastos com empregado doméstico giram em torno de 4% do
orçamento das famílias. Trata-se, por exemplo, de despesa similar à
feita com gasolina.
Tal situação levou o gerente comercial Marcos Caleffi a dispensar, no
ano passado, a empregada. Agora, cuida sozinho dos afazeres de casa.
"O custo de uma diarista estava cada vez pesando mais. A única coisa que não faço é passar roupa. Mando para uma lavanderia."
Para Adriana Molinari, economista da Tendências Consultoria, tanto o
aumento real do salário mínimo nos últimos anos como a atração dos
trabalhadores domésticos por outros setores explicam o forte aumento do
custo desse serviço.
Com o dinamismo de ramos como comércio e serviços, diz, há uma procura maior por trabalhadores.
Esses segmentos oferecem melhores salários e condições de trabalho, o
que leva pessoas habitualmente ocupadas nos serviços domésticos a
migrarem para eles.
O aumento da escolaridade, sobretudo entre as mulheres, também favorece
esse movimento de esvaziamento do emprego doméstico, pois se abrem
novas possibilidades em outros setores a partir da qualificação.
PEC DAS DOMÉSTICAS
Gabriel Ulisseya, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), diz que o custo de manter um trabalhador doméstico aumentou
não só por causa do reajuste do salário mínimo e da menor oferta de
trabalhadores, mas também em razão da PEC das Domésticas, editada no ano
passado e ainda em regulamentação no Congresso.
É que, diz, o texto explicita direitos e encargos. Desse modo, muitos
empregadores pensam duas vezes antes de manter ou contratar seus
trabalhadores domésticos.
Os dados do IBGE mostram uma tendência sazonal: sempre que a economia e
o emprego vão mal, há um crescimento das ocupações em serviços
domésticos.
Para Molinari, isso ocorre porque a queda da renda leva especialmente
as mulheres a buscar trabalho e complementação para o rendimento
familiar em tempos de crise e de demissões.
Pedro Soares Coluna Mercado
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