terça-feira, 22 de abril de 2014

A disputa de 2015 - GUSTAVO PATU



FOLHA DE SP - 22/04

BRASÍLIA - Economistas ortodoxos dizem que o progresso vem do esforço e do sacrifício, de produzir e de poupar mais. Economistas heterodoxos acham que o poder político tem papel fundamental, assim como a sorte e o azar.


 
Ortodoxos são mais coerentes e disciplinados, mas costumam insistir em excesso numa doutrina capenga e pouco adequada à prática do cotidiano, principalmente para os padrões tropicais. Heterodoxos são mais criativos ou, pelo menos, mais espirituosos em sua saudável irreverência. Entretanto, na ausência de uma teoria sólida, suas escolhas tendem a se limitar ao que é mais cômodo de imediato.


 
Os ortodoxos passaram vergonha na crise global porque, embriagados com os lucros financeiros, esqueceram que a euforia nunca é duradoura no capitalismo. Os heterodoxos estão em baixa no Brasil porque, nos últimos anos de empáfia intervencionista, não conseguiram obter mais que uma mediocridade duradoura.

 
A ortodoxia prega ajustes e reformas, em especial nos inícios de governo, quando se pode arcar com o peso de medidas impopulares cujos efeitos positivos levarão tempo para se tornarem visíveis. Dilma Rousseff, heterodoxa, deixou a ideia de lado quando percebeu que o país já não ia bem das pernas.

 
Ortodoxos calculam que as empresas investirão mais se as leis fizerem sentido, se os impostos forem justos e se o futuro for previsível. Heterodoxos argumentam que as empresas se animarão a produzir se a população dispuser de renda para consumir.

 
Para os ortodoxos, será preciso abandonar a partir do próximo ano a política de valorização do salário mínimo, para conter a escalada dos gastos públicos e da inflação. O heterodoxo Guido Mantega diz que essa não é uma decisão para agora.
 
O pensamento ortodoxo é escondido nas eleições, até por seus adeptos. Depois, ele pode ser abraçado até pelos adversários heterodoxos.

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