terça-feira, 22 de abril de 2014

Brasília ainda tem muitos desafios pela frente




Grande parte dos problemas se resume em um: urbanização sem planejamento, dizem especialistas

patricia.fernandes@jornaldebrasilia.com.br


Inaugurada a partir de um projeto inovador, Brasília completa 54 anos e   começa a repensar os desafios para as próximas décadas. Os maiores, segundo especialistas, dizem respeito à melhoria da mobilidade urbana, ao combate da desigualdade social e à ampliação dos serviços de drenagem, passando pelo saneamento básico. Os resultados, no entanto, só serão alcançados com um planejamento integrado.
 
Para o pesquisador e sociólogo João Gabriel Lima Cruz, os problemas enfrentados pela capital têm origem em sua concepção. “O próprio arquiteto planejou somente onde fica o poder e não pensou no espaço da população”, analisa.  

Em função disso, ele defende  que a cidade é excludente.

“Todos os eventos, sejam culturais ou de lazer, acontecem no Plano Piloto. Ou seja, muito longe da população. É um direito do cidadão ter acesso, mas ele foi excluído desse direito”, reforça.  Segundo ele, este fator também está ligado à qualidade do transporte público.

“O transporte público é privatizado. Não é o Estado que o garante à população, mas, sim, empresas contratadas para isso”, pontua. A mudança deste cenário exige uma participação ativa do povo.

“A mobilização dos cidadãos é importante, mas ela deve ser organizada, pois só assim os direitos serão conquistados”, salienta. Ele condena a forma como a questão da desigualdade é discutida. “Hoje, a questão é discutida apenas no âmbito político. Mas a questão vai muito além”, defende Gabriel.

Público e provado

Sobre o futuro, o pesquisador confessa que está dividido entre “o otimismo do coração e o pessimismo da razão”. De acordo com ele, o lado racional evidencia que não faltam motivos para temer o desenrolar dos próximos tempos.

“Ao longo dos anos, uma palavra muito usada foi o público. Mas temos discutido há alguns anos a possibilidade da criação do conceito de bem comum, que seria uma forma de combater  a ambivalência do público e privado”, relatou.

Para o também sociólogo Gabriel de Oliveira, o consumo de água é outro ponto a ser considerado um desafio, que deve ser reavaliado. “Não adianta pensar nisso de forma isolada. Só será possível com um planejamento integrado. Caso contrário, outros entraves surgirão ao longo do processo”, destaca.

Entre os impasses, de acordo com o especialista, estão a urbanização desenfreada, o aumento da demanda por água para consumo e a má conservação dos mananciais. 

“A urbanização em conjunto com a falta de sistema adequado está prejudicando a nossa falta de abastecimento”, dispara.

Mobilidade

O sociólogo Gabriel de Oliveira frisa que a mobilidade também deve ter atenção especial nos próximos anos, pois as chances de um colapso no trânsito são reais. Afinal, a cidade foi  pensada para quem possui carro particular. “Não existe qualquer planejamento para incluir as cidades mais distantes. Boa parte da população, que mora em peso no Entorno do Plano Piloto, depende de muita paciência e sorte para conseguir um ônibus”, aponta.

Necessidade de melhorar a drenagem

O sociólogo Gabriel de Oliveira  destaca que, mesmo sendo preocupante, o quadro pode ser revertido. Mas isso depende da participação popular. “É importante evitar ações como a urbanização desenfreada, cujo   crescimento populacional está atrelado, e fez com que o sistema ficasse deficitário”, ressalta. 

Ao ressaltar um problema crescente na cidade, os alagamentos, o especialista lembra da contribuição da população, que joga lixo nas ruas, mas destaca ainda que  a rede não acompanhou o crescimento da cidade.

Ontem e hoje

"Quando a cidade foi criada, a rede de drenagem não tinha pavimentação suficiente. A Asa Norte era um lugar praticamente inabitado. Aí você pega nesses últimos 50 anos, teve construção, pavimentação de asfalto... As redes existentes atualmente nessas regiões não foram dimensionadas para suportar esse volume de água", conclui o especialista.


Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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