A perda bilionária registrada com
a refinaria de Pasadena, que tem exigido da presidente Dilma Rousseff e de
executivos da Petrobras um grande esforço para explicar sua compra, poderia ter
sido um negócio com impacto financeiro bem menor caso a empresa tivesse topado
vendê-la de volta aos sócios, como eles chegaram a propor.
O grupo belga Astra, de quem a
Petrobras comprou metade da refinaria em 2006 por US$ 360 milhões, aí incluídos
estoques de petróleo, sugeriu ao então presidente da Petrobras José Sérgio
Gabrielli recomprar a fatia na empresa, em 2007. Na época, os dois sócios
começaram a divergir sobre os planos para investir na unidade.
A informação consta de
depoimentos dados por executivos do Grupo Astra à Associação Americana de
Arbitragem, aos quais a Folha teve acesso. O tribunal foi um dos que julgaram a
disputa entre as sócias entre 2008 e 2012.
Gilles Samyn, então presidente do
Conselho de Administração da Astra Transcor, acionista da Astra Oil, contou
que, em conversa telefônica com Gabrielli em agosto de 2007, ambos reconheceram
as dificuldades em chegar a um consenso sobre os investimentos para dobrar a
capacidade da refinaria, como queria a Petrobras.
O custo era de US$ 2,5 bilhões,
considerado alto pela Astra. "Para resolver a questão, eu ofereci
comprarmos de volta a participação de 50% da Petrobras, mas Gabrielli insistiu que
isso deveria ser resolvido de outra maneira", afirmou o executivo na
arbitragem.
Em 14 de setembro de 2007, Samyn
reuniu-se com Gabrielli e Nestor Cerveró, então diretor internacional da
Petrobras, na Dinamarca. Samyn disse ter refeito a oferta.
"Gabrielli, em resposta, sugeriu oferecer, até o fim de setembro, uma
proposta firme para comprar da Astra o resto da refinaria e da trading'
comercializadora de combustível".
Outro depoimento, do então
presidente da Astra Oil Mike Winget, também presente à reunião de Copenhagen,
confirma a versão: "Gabrielli se recusou a vender de volta a participação
e insistiu que Petrobras deveria comprar a participação da Astra".
Ainda segundo o depoimento, ao
fim de setembro, a Petrobras enviou proposta de US$ 550 milhões pelo restante
de Pasadena. Samyn, então, teria dito que a Astra esperava receber US$ 1
bilhão. Samyn e Winget foram ao Rio,
onde, no dia 26 de novembro de 2007, Cerveró afirmou ter autorização do
Conselho de Administração da Petrobras para oferecer até US$ 700 milhões pela
refinaria.
PLANEJAMENTO
Em 5 de dezembro, depois de
intensa troca de correspondências com Samyn, Cerveró assinou carta concordando
em pagar os US$ 700 milhões e mais US$ 88 milhões pela "trading". No final, após uma batalha
judicial encerrada em 2012, a Petrobras acabou pagando US$ 885 milhões pelo
resto da refinaria. No total, a estatal brasileira
desembolsou US$ 1,25 bilhão por um negócio comprado pela Astra por apenas US$
42,5 milhões em 2005.
Dilma, que presidia o Conselho de
Administração da Petrobras à época da compra da refinaria, afirmou recentemente
que só aprovou o negócio porque Cerveró enviou ao Conselho um parecer falho,
que omitia cláusulas que eram desvantajosas para a estatal. A declaração gerou
polêmica e fez a oposição cobrar a criação de uma CPI para investigar o
negócio.
Procurado, Cerveró não retornou
os contatos. Gabrielli disse que a refinaria "atendia ao planejamento
estratégico da companhia, definido no governo de Fernando Henrique, que previa
investir em refino no exterior". A Petrobras informou que só se
pronuncia depois de concluída a investigação interna. A Astra não comentou o
caso. (Folha de São Paulo)
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