Folha de São Paulo
Evidentemente, isso é pior para forasteiros como Martin Andersen, artista que chegou aqui há 12 anos e se viu fazendo intermináveis caminhadas atrás de qualquer raio de sol que ele pudesse aproveitar.
Espelhos solares na Noruega
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Rjukan, na Noruega, colocou espelhos no topo de uma montanha para refletir o sol
A cidade concordou em experimentar, e no final de 2013 três espelhos alimentados por energia solar e eólica, movendo-se no mesmo ritmo do sol, começaram a direcionar a luz do sol para a praça da cidade, 450 metros abaixo.
Milhares de pessoas apareceram para o evento inaugural, usando óculos escuros e arrastando suas cadeiras de praia. E desde então, segundo muitos moradores, a vida mudou.
A cidade se tornou mais sociável. Ao sair da igreja, aos domingos, as pessoas passaram a permanecer na praça, conversando, rindo e tomando sol. Numa manhã recente, Anette Oien havia ocupado um dos recém-instalados bancos da praça, com os olhos fechados e o rosto voltado para cima.
Ela esperava seu companheiro, e ficar sentada ao sol lhe pareceu mais agradável do que aguardar no carro. "Foi uma ótima contribuição para a vida daqui", afirmou.
Mas o sol, pálido e fraco, não durou muito. Entre 25 de dezembro e 15 de março, o céu esteve tão nublado que os espelhos produziram apenas 17 horas de luz solar sobre a praça, reforçando os argumentos daqueles que consideraram o projeto um desperdício de dinheiro.
Houve tão pouca luz que os mecanismos solares que alimentam os espelhos pararam de funcionar, e o raio desapareceu temporariamente. Um gerador e combustível foram levados montanha acima por uma moto de neve, para que as coisas voltassem a andar.
Certamente, o prefeito Steinar Bergsland não está muito preocupado com isso. A recusa em aceitar à vida à sombra chamou a atenção para Rjukan, uma cidade fundada por um industrial que inaugurou aqui a primeira grande fábrica mundial de fertilizantes, entre 1905 e 16.
Esse industrial, Samuel Eyde, entendia os anseios dos moradores pelo sol. Em 1913, um dos seus funcionários sugeriu ao jornal local que um espelho gigante poderia funcionar.
Mas, em vez disso, Eyde -que se instalara aqui porque uma cachoeira próxima oferecia um meio fácil para a geração de eletricidade- construiu um teleférico para que seus empregados pudessem subir até o topo da montanha e apanhar um pouco de sol no inverno. O teleférico ainda existe.
"Já éramos uma cidade de alta tecnologia há cem anos", disse Bergsland, "e agora usamos a alta tecnologia para trazer um pouco de sol ao nosso vale".
Alguns adversários, como Robert Jenbergsen, que estuda para se tornar professor, já mudaram de ideia. "Achei que seria um desperdício, porque o tempo é muito ruim aqui", afirmou.
"Mas, quando tivemos sol, dava para ver a alegria que ele trouxe. Nunca havíamos visto nada assim antes."
Outros, como Annar Torresvold, 77, e sua mulher, Anne-Lise Odegaard, 70, ainda acham que as 5 milhões de coroas (R$ 1,86 bilhão) gastas nos espelhos teriam sido melhor empregadas em hospitais, escolas e em cuidados aos idosos.
Para Torresvold, "é um pedacinho de sol muito caro".
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