sábado, 19 de abril de 2014

Bahia: PMs se aquartelam e comando tenta acalmar tropa



Policiais militares se aquartelaram na Bahia na madrugada deste sábado (19) em represália à prisão de Marco Prisco, vereador pelo PSDB em Salvador e líder da greve que a corporação promoveu nesta semana...
 
A informação é do comandante da PM baiana, coronel Alfredo Castro, que por volta da 1h30 deste sábado preparava um documento na tentativa de acalmar os ânimos da categoria. O objetivo era tentar demonstrar que a prisão de Prisco pela Polícia Federal foi motivada por questões da greve anterior da PM, de 2012, que o policial também liderou.
 
Naquele ano, a greve durou 12 dias, entre janeiro e fevereiro. O Ministério Público Federal move desde abril de 2013 uma ação penal que resultou na denúncia contra Prisco e outras seis pessoas sob acusação de crimes cometidos durante a paralisação.
 
O comandante da PM disse não ter a dimensão do aquartelamento das tropas, mas confirmou registros "em maior ou menor escala" pelo Estado, inclusive nas duas maiores cidades, Salvador e Feira de Santana.
 
Por volta das 7h, Castro disse que o aquartelamento resultou em aumento da violência na madrugada deste sábado, mas afirmou que os casos ainda estavam sendo computados.
 
Levantamento inicial feito pela Folha aponta registros de 16 homicídios na Grande Salvador entre as 19h de sexta-feira e 5h50 deste sábado –números acima da média diária para a região, de cinco casos. Nesse mesmo período, ao menos 20 veículos foram roubados.
 
Em Feira de Santana, por exemplo, que somou mais de 40 homicídios no período da greve desta semana, a informação em um posto da Polícia Rodoviária Estadual era que grande parte da categoria estava reunida na sede da Aspra, a associação de praças e bombeiros liderada por Prisco.
 
O cenário expõe o quadro instável na PM baiana. Mais cedo, no final da noite de sexta-feira (18), cerca de cem policiais haviam se reunido em frente à Câmara Municipal de Salvador em encontro convocado após a prisão de Prisco.
 
Não houve oradores. Representantes da Aspra procuravam enfatizar que o encontro fora uma manifestação espontânea de solidariedade a Prisco e que o recado dele era no sentido de não retomar a greve.
 
A tentativa de assembleia se dispersou por volta das 22h30, mas os ânimos não se acalmaram, a julgar pelos desdobramentos das horas seguintes.
 
TENTATIVA DE DIÁLOGO
 
A situação levou o comandante da PM a buscar interlocução com o deputado estadual Capitão Tadeu (PSB) -outro que procura assumir o papel de porta-voz político da PM na Bahia-, com quem na madrugada deste sábado alinhavava um documento na tentativa de mostrar que, com a PM parada, as tentativas de convencer algum juiz a soltar Prisco seriam mais difíceis.
 
"Se aquartelar, ele [juiz] vai concluir que, com greve, não tem porque dar o habeas corpus", afirmou à Folha o coronel Castro, comandante da PM baiana.
 
Quem participa das conversas, segundo Castro e o deputado Tadeu, é a ex-ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Eliana Calmon, pré-candidata ao Senado pelo PSB e provável rival de chapa do grupo do governador Jaques Wagner (PT) na eleição de outubro.
 
"Estamos preparando uma consulta chancelada pela doutora Eliana Calmon considerando e mostrando que a prisão [de Prisco ontem] foi decorrência [da greve] de 2012", disse Castro.
 
O comunicado da cúpula da PM baiana e articulado com a ex-ministra Eliana Calmon foi divulgado por volta das 7h deste sábado.
 
"Em uma correspondência encaminhada ao capitão Tadeu na madrugada deste sábado, a qual este comandante [Castro] teve acesso, a ministra reafirmou o que já havíamos divulgado: que nada há de novo no fato ensejador da prisão preventiva [de Prisco] senão a determinação de custódia de um réu em processo antecedente, sem qualquer envolvimento político ou intervenção do governo ou outra autoridade qualquer da Bahia", diz o texto.
 
"Para o comando e para vocês policiais militares, visando a manutenção do direito à segurança pública da sociedade, é imperativo que o serviço policial-militar seja prestado com a normalidade costumeira, garantindo a paz pública do povo baiano. [...] Ao tempo em que convoco nossa tropa à atuação natural, lembro que o diálogo e a negociação continuam abertas visando a modernização da nossa corporação", completa a mensagem.
 
Mais cedo, no meio da tarde de sexta-feira (18), o coronel já havia divulgado nota afirmando a mesma tese e conclamando os policiais de serviço a permanecer nos postos. A Secretaria da Segurança Pública também se manifestou, disse que não tinha relação com a prisão e que o acordo que encerrara a greve estava mantido.
 
SEM POLÍCIA
 
Representante da Aspra, o soldado Ivan Leite disse na madrugada deste sábado que não há uma manifestação das associações pela volta da greve, mas que também não há uma convocação pela volta ao trabalho.
 
Diante da indefinição, a maioria dos policiais em serviço, afirmou ele, optou por permanecer nos quartéis. "Quase 100% está parado, inclusive as unidades especiais", afirmou.
 
O deputado Capitão Tadeu (PSB) disse que o aquartelamento predominava na maioria do Estado. "Não há polícia nas ruas."
 
Ele afirma que as entidades estão buscando uma solução para reverter a prisão de Marco Prisco, mas de maneira a "não penalizar a sociedade".
 
Em Feira de Santana, a recepcionista de um hotel afirmou à Folha que não havia PMs nas ruas na madrugada do sábado, e que até farmácias que costumam ficar abertas não funcionavam. Funcionários dormiam no hotel para evitar circular pela cidade. A funcionária disse, contudo, ter visto homens do Exército pela cidade -tropas federais estão no Estado desde quarta-feira (16) para reforçar o policiamento.
 
PRISÃO
 
Prisco foi detido pela PF na sexta à tarde, na região do complexo de resorts da Costa do Sauípe (litoral norte da Bahia). Na tarde desta sexta, a PF e o Ministério Público Federal informaram que ele foi detido já dentro de um hotel, enquanto a Aspra dizia que a detenção se deu enquanto ele se dirigia com a família ao local.
 
A Procuradoria pediu a prisão no curso de uma ação de 2013 em que Prisco e outros seis policiais já são réus, referentes a acusações de crimes que teriam cometido na greve de 2012, como formação de quadrilha e delitos contra a segurança nacional, como interrupção de serviços essenciais.
 
A própria Procuradoria reconheceu, contudo, que a prisão foi pedida na segunda-feira (14) diante da iminência da greve articulada por Prisco. Como a ordem de prisão partiu da Justiça Federal, o soldado e vereador de 44 anos -que briga na Justiça desde 2002 para ser reintegrado à corporação-foi levado para o presídio da Papuda, em Brasília, em operação que mobilizou um grande aparato de segurança no aeroporto de Salvador.
 
A detenção veio um dia após os grevistas fecharem acordo com o governo Jaques Wagner (PT). Ninguém admitiu ceder, mas o governo elevou gratificações e recuou no novo código de ética da corporação, que previa punição a policiais por participação em greves e até por inscrição em cadastro de devedores. Policiais ficaram sem reajuste salarial.
 
Mesmo com reforço de tropas federais solicitadas por Wagner, a violência explodiu em várias partes do Estado durante a greve: houve saques e a Grande Salvador teve 52 homicídios em 46 horas -a média diária é de cinco casos. Praticamente todos os homicídios ocorreram em bairros de periferia da capital ou cidades da Grande Salvador.
 
Colaborou GABRIELA SÁ PESSOA, de São Paulo 

Fonte: THIAGO GUIMARÃES e JOÃO PEDRO PITOMBO coluna Cotidiano BLOG do SOMBRA
 
 19/04/2014 - - 08:04:16

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