Policiais militares se aquartelaram na Bahia na madrugada deste sábado
(19) em represália à prisão de Marco Prisco, vereador pelo PSDB em
Salvador e líder da greve que a corporação promoveu nesta semana...
A informação é do comandante da PM baiana, coronel Alfredo Castro, que
por volta da 1h30 deste sábado preparava um documento na tentativa de
acalmar os ânimos da categoria. O objetivo era tentar demonstrar que a
prisão de Prisco pela Polícia Federal foi motivada por questões da greve
anterior da PM, de 2012, que o policial também liderou.
Naquele ano, a greve durou 12 dias, entre janeiro e fevereiro. O
Ministério Público Federal move desde abril de 2013 uma ação penal que
resultou na denúncia contra Prisco e outras seis pessoas sob acusação de
crimes cometidos durante a paralisação.
O comandante da PM disse não ter a dimensão do aquartelamento das
tropas, mas confirmou registros "em maior ou menor escala" pelo Estado,
inclusive nas duas maiores cidades, Salvador e Feira de Santana.
Por volta das 7h, Castro disse que o aquartelamento resultou em aumento
da violência na madrugada deste sábado, mas afirmou que os casos ainda
estavam sendo computados.
Levantamento inicial feito pela Folha aponta registros de 16 homicídios
na Grande Salvador entre as 19h de sexta-feira e 5h50 deste sábado
–números acima da média diária para a região, de cinco casos. Nesse
mesmo período, ao menos 20 veículos foram roubados.
Em Feira de Santana, por exemplo, que somou mais de 40 homicídios no
período da greve desta semana, a informação em um posto da Polícia
Rodoviária Estadual era que grande parte da categoria estava reunida na
sede da Aspra, a associação de praças e bombeiros liderada por Prisco.
O cenário expõe o quadro instável na PM baiana. Mais cedo, no final da
noite de sexta-feira (18), cerca de cem policiais haviam se reunido em
frente à Câmara Municipal de Salvador em encontro convocado após a
prisão de Prisco.
Não houve oradores. Representantes da Aspra procuravam enfatizar que o
encontro fora uma manifestação espontânea de solidariedade a Prisco e
que o recado dele era no sentido de não retomar a greve.
A tentativa de assembleia se dispersou por volta das 22h30, mas os
ânimos não se acalmaram, a julgar pelos desdobramentos das horas
seguintes.
TENTATIVA DE DIÁLOGO
A situação levou o comandante da PM a buscar interlocução com o
deputado estadual Capitão Tadeu (PSB) -outro que procura assumir o papel
de porta-voz político da PM na Bahia-, com quem na madrugada deste
sábado alinhavava um documento na tentativa de mostrar que, com a PM
parada, as tentativas de convencer algum juiz a soltar Prisco seriam
mais difíceis.
"Se aquartelar, ele [juiz] vai concluir que, com greve, não tem porque
dar o habeas corpus", afirmou à Folha o coronel Castro, comandante da PM
baiana.
Quem participa das conversas, segundo Castro e o deputado Tadeu, é a
ex-ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Eliana Calmon,
pré-candidata ao Senado pelo PSB e provável rival de chapa do grupo do
governador Jaques Wagner (PT) na eleição de outubro.
"Estamos preparando uma consulta chancelada pela doutora Eliana Calmon
considerando e mostrando que a prisão [de Prisco ontem] foi decorrência
[da greve] de 2012", disse Castro.
O comunicado da cúpula da PM baiana e articulado com a ex-ministra Eliana Calmon foi divulgado por volta das 7h deste sábado.
"Em uma correspondência encaminhada ao capitão Tadeu na madrugada deste
sábado, a qual este comandante [Castro] teve acesso, a ministra
reafirmou o que já havíamos divulgado: que nada há de novo no fato
ensejador da prisão preventiva [de Prisco] senão a determinação de
custódia de um réu em processo antecedente, sem qualquer envolvimento
político ou intervenção do governo ou outra autoridade qualquer da
Bahia", diz o texto.
"Para o comando e para vocês policiais militares, visando a manutenção
do direito à segurança pública da sociedade, é imperativo que o serviço
policial-militar seja prestado com a normalidade costumeira, garantindo a
paz pública do povo baiano. [...] Ao tempo em que convoco nossa tropa à
atuação natural, lembro que o diálogo e a negociação continuam abertas
visando a modernização da nossa corporação", completa a mensagem.
Mais cedo, no meio da tarde de sexta-feira (18), o coronel já havia
divulgado nota afirmando a mesma tese e conclamando os policiais de
serviço a permanecer nos postos. A Secretaria da Segurança Pública
também se manifestou, disse que não tinha relação com a prisão e que o
acordo que encerrara a greve estava mantido.
SEM POLÍCIA
Representante da Aspra, o soldado Ivan Leite disse na madrugada deste
sábado que não há uma manifestação das associações pela volta da greve,
mas que também não há uma convocação pela volta ao trabalho.
Diante da indefinição, a maioria dos policiais em serviço, afirmou ele,
optou por permanecer nos quartéis. "Quase 100% está parado, inclusive
as unidades especiais", afirmou.
O deputado Capitão Tadeu (PSB) disse que o aquartelamento predominava na maioria do Estado. "Não há polícia nas ruas."
Ele afirma que as entidades estão buscando uma solução para reverter a
prisão de Marco Prisco, mas de maneira a "não penalizar a sociedade".
Em Feira de Santana, a recepcionista de um hotel afirmou à Folha que
não havia PMs nas ruas na madrugada do sábado, e que até farmácias que
costumam ficar abertas não funcionavam. Funcionários dormiam no hotel
para evitar circular pela cidade. A funcionária disse, contudo, ter
visto homens do Exército pela cidade -tropas federais estão no Estado
desde quarta-feira (16) para reforçar o policiamento.
PRISÃO
Prisco foi detido pela PF na sexta à tarde, na região do complexo de
resorts da Costa do Sauípe (litoral norte da Bahia). Na tarde desta
sexta, a PF e o Ministério Público Federal informaram que ele foi detido
já dentro de um hotel, enquanto a Aspra dizia que a detenção se deu
enquanto ele se dirigia com a família ao local.
A Procuradoria pediu a prisão no curso de uma ação de 2013 em que
Prisco e outros seis policiais já são réus, referentes a acusações de
crimes que teriam cometido na greve de 2012, como formação de quadrilha e
delitos contra a segurança nacional, como interrupção de serviços
essenciais.
A própria Procuradoria reconheceu, contudo, que a prisão foi pedida na
segunda-feira (14) diante da iminência da greve articulada por Prisco.
Como a ordem de prisão partiu da Justiça Federal, o soldado e vereador
de 44 anos -que briga na Justiça desde 2002 para ser reintegrado à
corporação-foi levado para o presídio da Papuda, em Brasília, em
operação que mobilizou um grande aparato de segurança no aeroporto de
Salvador.
A detenção veio um dia após os grevistas fecharem acordo com o governo
Jaques Wagner (PT). Ninguém admitiu ceder, mas o governo elevou
gratificações e recuou no novo código de ética da corporação, que previa
punição a policiais por participação em greves e até por inscrição em
cadastro de devedores. Policiais ficaram sem reajuste salarial.
Mesmo com reforço de tropas federais solicitadas por Wagner, a
violência explodiu em várias partes do Estado durante a greve: houve
saques e a Grande Salvador teve 52 homicídios em 46 horas -a média
diária é de cinco casos. Praticamente todos os homicídios ocorreram em
bairros de periferia da capital ou cidades da Grande Salvador.
Colaborou GABRIELA SÁ PESSOA, de São Paulo
Fonte: THIAGO GUIMARÃES e JOÃO PEDRO PITOMBO coluna Cotidiano BLOG do SOMBRA
19/04/2014 - - 08:04:16
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