O mesmo Congresso que se mobilizou para instalar a CPI da Petrobras agora se rende aos interesses do governo e praticamente enterra as chances de investigação séria
Em um
Legislativo com maioria governista, a CPI era até pouco tempo um dos
poucos e legítimos recursos da minoria oposicionista para aprofundar
investigações contrárias ao interesse do Executivo. Por algum tempo, tal
ferramenta serviu à apuração de escândalos importantes envolvendo
diferentes legendas.
Foi assim com os casos dos “Anões do Orçamento”, a CPI do PC, a do
Banestado e a célebre CPI dos Correios. Mas o uso excessivo do inquérito
parlamentar como moeda de barganha política abalou sua credibilidade,
tanto quanto as manobras regimentais que continuam a surgir para barrar
qualquer tipo de investigação séria. ...
Mesmo que haja um fato específico, falar em CPI hoje é como quebrar
ovos e juntar um bocado de farinha para assar uma grande pizza. A
impressão de que Vossas Excelências não cansam de zombar do eleitor foi
reforçada na semana passada. O mesmo Congresso que havia se mobilizado
para abrir uma investigação sobre denúncias na Petrobras dobrou-se à
vontade do Palácio do Planalto, praticamente enterrando as chances de
que qualquer denúncia venha de fato a ser apurada.
Não por falta de CPI. Se antes havia uma, agora são quatro (veja
quadro). Nesse caso, porém, a quantidade é inversamente proporcional à
qualidade. Duas foram efetivamente criadas, mas ainda não estão
instaladas. E o governo trabalha para adiá-las ao máximo. Primeiro, a
senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) apresentou questão de ordem
questionando a legalidade da CPI.
O presidente do Senado, Renan
Calheiros, rejeitou o recurso, mas transferiu a decisão de instalação
para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que é dominada por
governistas e deve empurrar com a barriga a apreciação. Fez o mesmo com o
requerimento de CPI apresentado pelos governistas que propõe ampliar as
investigações ao Porto de Suape, ao metrô de São Paulo e do Distrito
Federal e aos contratos da União com a empresa Ideia Digital, alvo da
Operação Logoff da Polícia Federal. Temas que atingem PSDB e PSB.
Para tentar manter o controle da investigação, a oposição também colheu
assinaturas no Senado e na Câmara para uma Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito (CPMI) que investigue a Petrobras. Em resposta, os
governistas colheram também assinaturas nas duas Casas legislativas para
uma CPMI de escopo mais amplo.
Essas duas ainda não foram lidas em
plenário, passo anterior à instalação, o que só deve ocorrer no dia 15
de abril, segundo estratégia acordada pelo PT com a cúpula do PMDB e
bancada por Renan. Os petistas avaliam que, com a chegada do feriado da
Páscoa, será possível postergar a leitura para o fim do mês ou o início
de maio.
O líder do governo Eduardo Braga (topo), em parceria com a senadora
Gleisi Hoffmann, questiona a legalidade da CPI e Renan Calheiros (acima)
transfere a decisão para a CCJ, ajudando o Planalto
Responsável por capitanear as tentativas de investigar a Petrobras, o
senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) reagiu à tentativa do
governo de barrar a CPI. “É zombar da sociedade”, disse. O tucano
reclamou das manobras do governo, criticou a decisão de Renan e promete
levar o caso para o Supremo Tribunal Federal. “Se for essa a
interpretação de desprezar a CPI apresentada pelas oposições, nos
restará judicializar essa questão”, afirmou. Em 2007, o plenário da
Corte deliberou que pedidos de CPI, quando formulados corretamente,
devem ser acatados sem questionamentos. Além de recorrer ao STF, a
oposição tentará obstruir a pauta de votações na Câmara. “Vamos fazer
obstrução total. Não vamos votar nada até que se instale a CPI”, avisa o
líder do DEM, Mendonça Filho (PE).
O tucano Aécio Neves reagiu à tentativa do governo de barrar a CPI e
prometeu levar o caso para o Supremo Tribunal Federal: "É zombar da
sociedade", disse.
Seja qual for a CPI instalada, os governistas já trabalham com outra
tática protelatória: colocar na pauta da comissão um enorme conjunto de
requerimentos que atrapalhem a convocação de autoridades ligadas ao caso
Petrobras, assim como testemunhas menos relevantes, afastando os
depoimentos importantes e pedidos de quebra de sigilo bancário e fiscal –
o filé-mignon de toda investigação parlamentar.
A oposição, por sua vez, prepara o contra-ataque. Uma das principais iniciativas para agilizar as investigações é requerer à Polícia Federal, ao TCU e ao Ministério Público Federal dados sobre os negócios da estatal. Também buscam paralelamente manter a polêmica aquecida, com a convocação dos envolvidos, como o ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró.
A oposição, por sua vez, prepara o contra-ataque. Uma das principais iniciativas para agilizar as investigações é requerer à Polícia Federal, ao TCU e ao Ministério Público Federal dados sobre os negócios da estatal. Também buscam paralelamente manter a polêmica aquecida, com a convocação dos envolvidos, como o ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró.
Fotos: Pedro França/Agência Senado;José Curz/Agência Brasil
Fonte: CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA revista Istoé - 06/04/2014 - - 00:21:42
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