Fernando Rodrigues
Embora a presidente Dilma Rousseff esteja hoje com uma liderança folgada nas pesquisas de intenção de voto, a partir da pesquisa Datafolha de 2 e 3 abril ela enfrentará uma ofensiva dos governistas que defendem a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O “Volta Lula” andou encapsulado por alguns meses na virada de 2013 para 2014. Se Dilma não estava fazendo uma administração espetacular, pelo menos mantinha-se estável num patamar razoável de aprovação para seu governo e nas pesquisas eleitorais. Agora, esse não é mais o caso.
O Blog tem ouvido dezenas de políticos governistas em Brasília. Uma maioria acha que a melhor solução poderia ser a troca de candidaturas: sai Dilma Rousseff e entra Lula. Muitos empresários, banqueiros e agentes econômicos também pensam dessa forma.
Como são avessos ao risco, preferem a volta de Lula (com quem já se acostumaram) em vez de arriscarem-se com um dos dois candidatos de oposição que se apresentam no momento. Ou até pior, dizem, ter de aguentar mais 4 anos de péssimo relacionamento com Dilma.
O problema para Dilma Rousseff é que o Datafolha não mostra apenas que ela teve uma queda de 44% para 38% nas intenções de voto. A pesquisa indica que há vários fatores que podem manter a curva descendente da presidente.
Há mais pessimismo no ar:
- 63% dos brasileiros dizem que Dilma faz pelo país menos do que eles esperavam. Há cerca de um ano, essa taxa era de 34%;
- 72% querem que o próximo presidente atue de maneira diferente da de Dilma;
- a expectativa negativa em relação à inflação cresceu 20 pontos percentuais em 12 meses. Hoje, 65% acham que a inflação vai aumentar;
- o pessimismo sobre o poder de compra cresceu 17 pontos;
- o medo do desemprego subiu 14 pontos;
- o otimismo em relação à condição econômica do país e do entrevistado caiu 24 e 22 pontos, respectivamente.
Os agentes econômicos e políticos em geral entendem que toda essa deterioração nas expectativas se deve ao estilo de governar de Dilma Rousseff: ouve pouco os aliados e toma decisões intempestivas (como quando reagiu ao caso da Petrobras e deu condições para a instalação de uma CPI no Congresso).
Lula neste momento não está propenso a arriscar todo o seu patrimônio político entrando na disputa eleitoral. O petista sabe que seria uma operação de altíssimo risco.
Uma troca de Dilma por Lula daria para a oposição um discurso fácil. Diriam que Lula errou e prejudicou o país tendo indicado alguém que não merecia ser presidente. Como pode agora querer voltar? Além disso há também a própria Dilma a ser convencida. Por menos ambição política que possa ter, seria uma humilhação reconhecer que fez um péssimo governo e teve de chamar o padrinho de volta para consertar seus equívocos.
Por essas razões, apesar de a situação não ser tranquila, a decisão no comando do petismo é persistir com o projeto para tentar reeleger Dilma –que, afinal, ainda ganharia no primeiro turno se a disputa fosse hoje. Para reverter as expectativas, uma das providências tomadas pela presidente em comum acordo com seu antecessor foi a de promover uma espécie de “retorno do lulismo ao governo''.
Isso já foi sentido, sobretudo, na entrada de Aloizio Mercadante na Casa Civil e de Ricardo Berzoini na articulação política –em substituição a Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti, respectivamente.
Mercadante e Berzoini têm assento dentro do Palácio do Planalto. Devem funcionar, a partir de agora, como fiadores de que o governo Dilma terá novamente uma linha mais moderada no trato com aliados. Tudo no estilo Lula. Berzoini já estreou com um discurso leve. Falou ao “Poder e Política'' que o PT precisa fazer mais concessões.
Essa estratégia da volta do lulismo tem dois meses para funcionar. Eis aqui uma análise a respeito. Em meados de junho, os partidos precisam oficializar os seus candidatos. Até lá, o Planalto terá de medir diariamente a pressão do “volta Lula”, que hoje é fortíssima.
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