O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco Apoio Governo/PSB – DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) –
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,
Assumo a tribuna na tarde de hoje, mais uma vez, para manifestar – como
uma pessoa muito comprometida com Brasília, apaixonada por Brasília – a
minha preocupação com os rumos de Brasília.
Eu quero registrar que jamais imaginei que o Governo do PT no Distrito
Federal fosse capaz de agredir Brasília e o DF como o Governo Agnelo tem
feito, com a colaboração do atual Secretário de Habitação, Geraldo
Magela. É algo inacreditável!
Eu já tive a oportunidade de aqui assumir esta tribuna para dizer o que
constituía o tal do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de
Brasília – PPCUB, plano este que deforma definitivamente Brasília,
considerada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, reconhecida
mundialmente pela sua singularidade, pela sua beleza, pelo seu projeto
urbanístico.
O PPCUB apresenta propostas preocupantes como criar uma cidade colada no
conjunto urbanístico tombado, como a transformação de terrenos de
clubes recreativos em hotéis, como a transformação das áreas dos clubes
de unidade vizinhança e das escolas classes do Distrito Federal em áreas
comerciais, para uso comercial, como a transformação da 901 para lotes
de hotéis.
Pergunto: para servir a quais interesses financeiros? A quais interesses
econômicos? Porque certamente o PPCUB não está atendendo ao interesse
da população do Distrito Federal. Aí estão interesses que não podem ser
revelados, porque são interesses que comprometem definitivamente a
qualidade de vida da capital do Brasil.
E é por isso que eu, mais uma vez, venho aqui para apelar ao Governo
Federal, para que interfira, para dar fim à insanidade que vem tomando
conta do Distrito Federal.
Sr. Presidente, as pessoas já estão até apelidando a dupla de "Magnelo”,
Magela e Agnelo, pelo mal que estão produzindo para o futuro do
Distrito Federal.
Hoje, Senador Mozarildo, houve uma reunião do CONPLAN, o Conselho de
Planejamento do DF – o mesmo Conselho de que a justiça tinha suspendido
as ações, as decisões tomadas em 2013, porque os representantes da
sociedade civil não tinham sido escolhidos democraticamente pela
sociedade civil.
Mais uma vez, o Governo, em vez de promover eleições para os membros da
sociedade civil, convocou o Conplan para aprovar a toque de caixa o tal
de PPCUB, que deveria ser o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico
de Brasília, mas que, efetivamente, é o plano de degradação do conjunto
urbanístico de Brasília.
Assistimos a cenas só possíveis na ditadura, talvez a ditadura não
tivesse a ousadia que o Secretário de Habitação, Geraldo Magela, teve
hoje ao barrar, ao impedir que representantes da sociedade civil
participassem da reunião do Conplan que, de praxe, é aberta ao público.
Só permitiram a presença de alguns deles depois de ter sido veiculada
entrevista na CBN com o arquiteto Frederico Flósculo e o Presidente do
Instituto Histórico e Geográfico, Jarbas Marques.
Somente depois do protesto desses dois é que se permitiu a entrada de alguns representantes da sociedade civil. Naquele momento, na entrevista, o Sr. Jarbas Marques lembrou que hoje completam 50 anos do comício da Central do Brasil, uma das maiores movimentações da classe trabalhadora brasileira em defesa das reformas de base, para dizer que o GDF, ao barrar a sociedade, "antecipava os festejos da ditadura”.
Somente depois do protesto desses dois é que se permitiu a entrada de alguns representantes da sociedade civil. Naquele momento, na entrevista, o Sr. Jarbas Marques lembrou que hoje completam 50 anos do comício da Central do Brasil, uma das maiores movimentações da classe trabalhadora brasileira em defesa das reformas de base, para dizer que o GDF, ao barrar a sociedade, "antecipava os festejos da ditadura”.
Quero aqui ler, para que conste nos Anais da Casa, a manifestação do
representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil Distrito Federal –
IAB-DF, Sr Thiago Teixeira; da representante do Instituto Histórico e
Geográfico Distrito Federal, Srª Vera Ramos e do representante da UnB,
Sr. Benny Schvarsberg.
Passo a ler a carta:
O Instituto
de Arquitetos do Brasil – Departamento Distrito Federal, o Instituto
Histórico e Geográfico do Distrito Federal e a Universidade de Brasília
manifestam o seu repúdio à forma açodada e desrespeitosa com que a
SEDHAB/GDF vem encaminhando a aprovação do Plano de Preservação do
Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB no Conselho de Planejamento
Territorial e Urbano do DF - CONPLAN.
Na
qualidade de representantes da sociedade civil, integramos o Grupo
Técnico de revisão do PPCUB, constituído em janeiro de 2014. Durante
dois meses, participamos de inúmeras reuniões diárias e semanais. Esse
período foi produtivo, porém insuficiente para a revisão integral da
proposta e seus anexos. Foram revisados o texto do PLC 078/2013 e apenas
duas das setenta e duas planilhas de parâmetros urbanísticos. Dessa
revisão parcial, ainda restam diversos pontos polêmicos e de dissenso,
além de estudos técnicos pendentes.
A decisão
de aprovar o PPCUB no CONPLAN, neste momento, interrompeu os trabalhos
de revisão, surpreendendo a todos os representantes da sociedade civil
no Grupo Técnico e, até mesmo, os conselheiros do CONPLAN, que sequer
tiveram conhecimento prévio do conteúdo da matéria, tampouco um prazo
exequível de análise.
Os
procedimentos adotados atropelam os trâmites e ritos legais previstos
pela Lei Orgânica do Distrito Federal e pelo Estatuto da Cidade.
Entendemos que o encaminhamento correto para a necessária revisão do
PPCUB implica a retirada do PLC 078/13 da Câmara Legislativa do Distrito
Federal e a reapresentação de um novo texto, na forma de um
substitutivo - e não de emendas como se pretende. O poder de emendar
atribuído aos parlamentares não é suficiente para promover alterações
mais profundas no projeto de lei, como precisam ser e como exige a
sociedade.
Em vista do
exposto, vimos a público comunicar a nossa saída do Grupo Técnico de
revisão do PPCUB, por entendermos que essa situação representa um
retrocesso e uma afronta ao Conjunto Urbanístico, Arquitetônico e
Paisagístico de Brasília. Assinam:
Thiago Teixeira de Andrade, representante do IAB/DF, Vera Ramos,
representante do Instituto Histórico e Geográfico do DF e Benny Schvarsberg, representante da UnB.
Mas não é só!
O Secretário Magela interrompeu o debate alegando: – frases textuais –
"Não vamos permanecer com o debate, pois o debate vira obstrução”. É
assim que este Governo, que a dupla "Magnelo” entende a democracia.
O debate é obstrução, o debate é nefasto, a opinião da sociedade civil é
nefasta, porque o que se quer aqui é atender interesses financeiros
inconfessáveis. Este é o objetivo deste PPCUB. E é por isso que o
governo não admite ouvir, e ouvir efetivamente os representantes da
sociedade civil, como recomendou textualmente a UNESCO na sua visita
técnica a Brasília, referindo-se explicitamente ao IAB e à UnB.
Essas mesmas entidades, essas mesmas instituições que o governo do
Distrito Federal se recusa ouvir. E quando o Professor da UnB, Benny
Schvarsberg, pediu que fossem registrados em ata os nomes de quem votou a
favor da retirada do projeto do PPCUB, para que a história registrasse
àqueles que têm compromisso com essa cidade, que têm compromisso com o
futuro dessa cidade, até isso foi negado pelo Secretário Magela.
Até agora só foram revisadas duas das 72 planilhas de parâmetros
urbanísticos do PPCUB e é aí nessas planilhas que estão as mudanças de
gabarito, as mudanças de taxas de ocupação, o beneficiamento do
interesse econômico e financeiro em detrimento do interesse da cidade.
Mas vejam, minha gente, a insanidade, como disse, a ousadia, o
descompromisso, a influência do interesse econômico não têm limite para a
dupla "Magnelo".
Eu registrei aqui, eu registrei aqui esta semana algo e pedi o apoio da
Senadora Gleisi Hoffmann, ex-Ministra da Casa Civil, e peço o apoio
desta Casa, da comunidade científica brasileira, porque o Governo do
Distrito Federal está retirando 90 ha de um centro de excelência,
Senador Pedro Simon, o centro da Embrapa Cerrados – um centro de
excelência de uma instituição reconhecida internacionalmente –, para
fazer um projeto habitacional que pode ser feito ao lado, próximo ao
local.
Existem vários outros lugares em que este projeto habitacional pode ser feito, porque essa é uma característica do Distrito Federal: temos grande parte das nossas áreas públicas. Mas não, mais uma vez, o interesse econômico, o interesse financeiro inconfessável fala mais alto.
Existem vários outros lugares em que este projeto habitacional pode ser feito, porque essa é uma característica do Distrito Federal: temos grande parte das nossas áreas públicas. Mas não, mais uma vez, o interesse econômico, o interesse financeiro inconfessável fala mais alto.
E se a comunidade científica brasileira não reagir, buscando
efetivamente o Governo Federal, se não se sensibilizar com isso, daqui a
pouco nós estaremos diante de um fato consumado, com prejuízo
inestimável para uma instituição da qualidade da Embrapa Cerrados. Vou
ler uma manifestação, uma carta pública que está sendo enviada ao
Governador Agnelo pela Presidenta da SBPC:
Senhor Governador,
A Embrapa,
criada há mais de 40 anos, é motivo de orgulho para a ciência e para
todos os cidadãos brasileiros. Neste período a Embrapa desenvolveu
pesquisas e tecnologias que aumentaram a qualidade e produtividade da
agricultura brasileira, tornando-a mais competitiva e reconhecida
mundialmente.
A Embrapa
tem 47 unidades de pesquisa, entre elas a Embrapa Cerrados, localizada
há mais de 30 anos no mesmo lugar, próxima à cidade de Planaltina. Ao
longo desses anos, a Embrapa investiu grandes montantes de recursos,
humanos e financeiros, no desenvolvimento de experimentos científicos e
tecnológicos, como o desenvolvimento de técnicas para correção da acidez
e adubação do solo para a produção agrícola, desenvolvimento de
cultivares de soja e milho adaptados à região dos cerrados, técnicas de
integração lavoura-pecuária e, ainda experimentos para aumentar a
qualidade da carne bovina, comercializada no país e no exterior. Esses
conhecimentos e tecnologias vêm sendo utilizados por agricultores do
cerrado e mais recentemente estão sendo transferidos a agricultores de
países africanos.
Não podemos
nos esquecer que o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de
soja e de carne bovina do mundo e que tais pesquisas vêm proporcionando
ganhos significativos na economia do país, além do que têm contribuído
para a diminuição dos impactos ambientais nos biomas nacionais.
No último
dia 08 de março, sábado, foi publicada no jornal Correio Braziliense a
notícia de que o governo do Distrito Federal pretende retirar 90
hectares da área da Embrapa Cerrados para a implantação de um projeto
habitacional, o "Residencial Planaltina Parque", às margens da BR-020 e
que irá alojar 5 mil pessoas. A importância social desse empreendimento
não pode anular a importância de outro, para a sociedade brasileira e em
especial para o Distrito Federal e para a região dos Cerrados, que é a
manutenção do campo experimental da Embrapa Cerrados. Ressalta-se ainda
que a própria Embrapa ofereceu ao Distrito Federal outras opções de
áreas para a implantação de tal empreendimento.
Chamamos
atenção ainda de que esta área está inserida na zona de amortecimento da
Estação Ecológica de Águas Emendadas, importante unidade de conservação
de proteção integral do bioma Cerrado, onde encontra-se a nascente que
dá origem a duas das mais importantes bacias hidrográficas brasileiras, a
do Araguaia-Tocantins e a do Paraná. Essas zonas, conforme estabelecido
em lei, têm o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a
unidade em questão. E para este fim, um assentamento urbano deste porte
não pode ser a melhor opção.
A Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira
de Ciência (ABC), como é de seu conhecimento, atuam na defesa e promoção
da ciência, da tecnologia, da inovação e da educação, e nos temas
estratégicos para o desenvolvimento sustentável do país. E, por isto,
não podemos nos omitir diante desta decisão do governo do Distrito
Federal. A ruptura de anos de pesquisa neste campo experimental da
Embrapa Cerrados causará enormes prejuízos ao avanço da ciência
brasileira e, em consequência, para a economia nacional.
Diante
disto, senhor Governador, em função do exposto, apelamos para que o
senhor reconsidere a escolha da área para implantação do empreendimento
habitacional, já que há outras disponíveis para o mesmo fim, e permita
que a Embrapa Cerrados continue no mesmo local contribuindo para a
geração e difusão de conhecimentos, tão importantes para o
desenvolvimento de nosso país.
Na certeza de contar com sua compreensão e atenção ao nosso apelo, enviamos nossas mais cordiais saudações. Assinam: Helena B. Nader, presidente da SBPC e Jacob Palis, presidente da ABC.
Vejam, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aonde chegou a ousadia da
dupla Magnelo, da dupla Magela e Agnelo. Não estão satisfeitos apenas em
desfigurar um patrimônio cultural da humanidade, a primeira cidade
moderna reconhecida como patrimônio cultural da humanidade depois de 26
anos da sua inauguração pelo Presidente Juscelino Kubitschek.
Está demonstrada a falta de compromisso com o futuro, a falta de
compromisso com as futuras gerações, a falta de visão estratégica – ao
interromper pesquisas que são realizadas há 30 anos e ao retirar uma
área que tem um histórico de acompanhamento que, nos últimos anos,
recebeu cerca de 12 missões internacionais que vieram aqui conhecer o
trabalho desenvolvido –, para instalar um núcleo habitacional que pode
ser colocado em diversas outras áreas.
E aqui quero registrar: não somos contra o núcleo habitacional. Somos
favoráveis. Entendemos apenas que não deve ser colocado numa área aonde
vão se interromper pesquisas que vem sendo realizadas há 30 anos.
Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu quero manifestar
aqui a minha tristeza e, mais que a minha tristeza, a minha indignação
com o que está acontecendo no Distrito Federal. A população do Distrito
Federal está assombrada – assombrada! – com a ousadia do Governo do
Distrito Federal, com a perspectiva de que só se pensa em arrecadar, só
se pensa em dinheiro e não se tem o menor compromisso com a qualidade de
vida desta cidade, com o futuro do Distrito Federal, com o futuro do
País.
Estamos falando da Capital do Brasil. Estamos falando do centro de
excelência em pesquisa agropecuária, que é a Embrapa Cerrados.
Estamos falando do patrimônio de Brasília.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
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