sexta-feira, 4 de abril de 2014

ARTIGO: um elefante branco de quase R$ 2 bi

  Rodrigo Rollemberg comenta, com exclusividade, suspeita de superfaturamento do Mané Garrincha

 img-description


É muito importante que Brasília seja sede de jogos da Copa do Mundo. Como ex-secretário de Turismo do DF, sei da importância do evento para nossa cidade e para nossa economia.

Só não posso concordar que a Copa do Mundo aconteça aqui sem deixar nenhum legado para os brasilienses, seja na área de mobilidade urbana ou de infraestrutura.


Mesmo assim, a Copa do Mundo está custando caro aos brasilienses. Orçado inicialmente em R$ 700 milhões, o custo do Estádio Nacional Mané Garrincha está beirando os R$ 2 bilhões. 



Relatório do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) apontou irregularidades na compra e no transporte de materiais da obra e indícios de superfaturamento de R$ 431 milhões.


Talvez este seja o motivo de o estádio de Brasília ser o único do Brasil em que não há recursos federais. Justamente para fugir do controle da Polícia Federal, do Tribunal de Contas da União e da Controladoria-Geral da União.



Tantos recursos tão mal gastos no estádio, enquanto as demais áreas do DF continuam carentes de investimento e de planejamento. A educação básica é um exemplo. O GDF praticamente não construiu nenhuma creche pública. Mas apenas com o valor superfaturado – R$431 milhões – seria possível construir 240 creches para 120 alunos, para período integral.

A saúde, que o governador Agnelo Queiroz se comprometeu em resolver em seis meses, continua um caos. Os moradores do DF não conseguem receber os medicamentos necessários para seus tratamentos, nem ser atendidos nos hospitais, ou sequer fazer exames.

Esperam horas por uma consulta, e meses por uma cirurgia. Esses R$ 431 milhões poderiam também custear a construção de 586 Unidades Básicas de Saúde. 


MUITO MAIS CARO

 

O jornal Folha de São Paulo revelou que o Estádio Nacional Mané Garrincha custa 62% a mais que a média das arenas por valor unitário de assentos. Nosso estádio tem 72 mil lugares. Cada assento custa, em média, R$ 19,4 mil. Na média nacional, o custo do assento é de R$ 12 mil.


De acordo com o jornal, Brasília aparece como a cidade mais cara. Me lembro que o governador Agnelo Queiroz chegou a dizer, no início da obra, que esperava baixar os custos do estádio, naquela época ainda orçado em pouco mais R$ 700 milhões. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, entre todos os 34 estádios das Copas 2006, 2010 e 2014 juntos, o Mané Garrincha é o mais caro.

Não são apenas o valores estratosféricos investidos no nosso estádio que fazem Brasília estar nas manchetes da grande imprensa. A falta de transparência na aplicação dos recursos públicos também. Reportagem recente da revista Veja Brasília revelou que foram assinados 47 aditivos ao contrato do estádio, mas sem publicação no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). 



Brasília poderia sediar a Copa do Mundo investindo valores muito menores, como foi feito em outros estados. Em Pernambuco, por exemplo, o estádio está sendo entregue pelo mesmo preço com que foi orçado, cerca de R$ 500 milhões.


Mesmo com os valores já investidos, em dezembro, o GDF ainda remanejou R$140 milhões destinados à infraestrutura do setor Noroeste para reforma do Mané Garrincha. Ainda assim, nas redes sociais, nosso estádio foi ridicularizado, com a publicação de fotos em que as pessoas assistiam a um jogo, debaixo da área coberta, com guarda-chuvas, por causa da quantidade de goteiras que já existe no estádio inaugurado há menos de um ano.


São vários fatos que ilustram a falta de planejamento, de transparência, de respeito e de responsabilidade com os gastos públicos pelo GDF.



A população olha para o Estádio Nacional de Brasília, mas não vê nenhum verdadeiro legado para a cidade. Nenhuma melhoria pode ser sentida na saúde, na educação, na segurança ou no transporte público. O projeto do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), por exemplo, que seria uma obra de mobilidade urbana prevista na Matriz de Responsabilidade para a Copa do Mundo de 2014, não tem data para ser entregue.

O trecho previsto, que ligaria o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek à Asa Sul, foi retirado da matriz e não ficará pronto para o mundial.


"Brasília tem um dos estádios mais caros do mundo. Em uma cidade cercada de problemas" Rodrigo Rollemberg
 
  Todos os recursos para investimentos do Distrito Federal parecem ter sido tragados pelo estádio. Ao se aproximar do valor de R$ 2 bilhões, Brasília tem um dos estádios mais caros do mundo. Em uma cidade cercada de problemas. 


Rodrigo Rollemberg é senador pelo PSB/DF e líder do partido no Senado.

Nenhum comentário: