O artigo de Reinaldo Azevedo, na Folha de S. Paulo desta sexta-feira,
está excelente. Consegue resumir com humor cáustico, o festival de
estupidez encenado por um bando de psicopatas que tomou conta do Brasil.
O pior é que essa psicopatia, que é a marca registrada do PT e seus
acólitos, se espraia pelas redações da grande mídia brasileira.
Tem
razão o articulista, portanto, quando observa que a maré vermelha coloca imediatamente na boca do sapo-- por meio
de crônicas e artigos em que exibe orgulhosa ignorância-- quem ousa remar
contra . Leiam:
Existe a
revisão virtuosa da história. À medida que se descobrem novos
documentos, que se apela a saberes não convencionais para as ciências
humanas, que se estudam fontes de narrativas antes consideradas
fidedignas, o passado pode ganhar novo contorno em benefício da
precisão. É o oposto do que está em curso nestes dias, nos 50 anos do
golpe militar de 1964.
A memória histórica foi abolida em benefício da
memória criativa e judiciosa.
Dilma se tornou a personagem-símbolo desse
saber que se erige como nova moral. Na solenidade de privatização do
aeroporto do Galeão, resolveu apelar a Tom Jobim e citou o "Samba do
Avião". Segundo disse, a música ligava o Brasil de hoje ao do passado ao
"descrever" a chegada ao país dos brasileiros que voltavam do exílio,
depois da anistia, "após 21 anos".
É o
samba-da-presidenta-doida. A música é de 1962, o golpe foi desferido em
1964, e a Lei da Anistia é de 1979, quando os exilados, então, começaram
a voltar --15 anos, portanto, depois do golpe, não 21. A canção faz uma
evocação lírica do Rio; nada a ver com protesto.
Ao contrário até: o
narrador revela aquele doce descompromisso bossa-novista: "Este samba é
só porque/ Rio, eu gosto de você"... Não havia nada de programático a
ser interpretado: "A morena vai sambar" queria dizer que a morena iria
sambar. Sugiro um estudo aos teóricos do Complexo Pucusp: o mal que o
golpe fez à cultura metafórica brasileira.
Na
semana passada, lembrei que, em 1987, em vez de reciclar os ódios ao
Estado Novo, inaugurado em 1937, o Brasil cuidava do futuro e vivia o
processo constituinte, aprovado pela Emenda nº 26, de 1985, que tinha a
anistia de 1979 como pressuposto. "Anistia" que, por fatalidade da
língua, tem a mesma raiz de "amnésia" e significa, para todos os efeitos
da política e do direito, "esquecimento". Por óbvio, isso não impede
que se procure a verdade, coisa que não cabe a um ente do Estado. Por
natureza, ele irá justificar a ordem de compromissos que o instituiu.
Assim,
uma comissão oficial da verdade, lamento!, é mentirosa "ab ovo". Nem o
governo negro da África do Sul se negou a apurar atos protagonizados por
adversários do apartheid. A do Brasil, contrariando a lei que a
instituiu, já deixou claro que sua vocação é demonstrar que o Lobo Mau
era mau e que os Chapeuzinhos Vermelhos eram bons.
Num
pequeno discurso, Dilma reconheceu, oblíqua e envergonhadamente, a Lei
da Anistia e, de novo, elogiou os que tombaram. Na sua lista não estão
as 120 pessoas (no mínimo) assassinadas por grupos terroristas,
inclusive os de que ela fez parte. Ai de quem se atrever a lembrar, no
entanto, os crimes sinistros de poetas da morte como Lamarca e
Marighella!
Passa a ser tratado por alguns cronistas --que têm de
opinião arrogante o que exibem de orgulhosa ignorância-- como sócio e
partícipe da tortura. Transformam supostos adversários em caricaturas
para que fique fácil vencê-los --no boteco ao menos. Fazem com a
história o que Dilma fez com o "Samba do Avião".
Como responder? Jogando
no seu colo o corpo despedaçado de Mário Kozel Filho ou o crânio
esmagado de Alberto Mendes Júnior? Nem sabem do que falo. Não dá para
entrar nesse jogo rasteiro.
Não
pretendo voltar ao golpe neste espaço --a menos que ache necessário. O
que hoje desperta o meu interesse é essa esquerda que se ancora numa
falsa gesta do passado para assaltar o futuro, como evidenciam as
lambanças na Petrobras e o esforço suarento do petista André Vargas para
explicar o lobby no Ministério da Saúde em favor de um doleiro
--assunto que vai se tornar ainda mais rechonchudo.
O que me mobiliza é
fazer a sociologia dessa "burguesia do capital alheio", ainda a minha
melhor expressão para definir essa gente. Na quarta, um desenhinho
animado da presidente, em sua página oficial no Facebook, dava "um
beijinho no ombro" para "us inimigo". Uma "Dilma Popozuda" é evidência
de arrogância e descolamento da realidade, não de graça. Dilma Bolada
está no comando.
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