quinta-feira, 10 de julho de 2014

Torcedores mirins: fim da brincadeira

Pais devem saber lidar com a frustração das crianças pela derrota

carla.rodrigues@jornaldebrasilia.com.br


Eram 11 super-heróis entrando em campo. E 11 vilões do outro lado. Mas a Seleção Brasileira, que antes era uma espécie de Liga da Justiça, perdeu a força. E os torcedores mirins perderam a esperança de ver o time brasileiro ganhar uma Copa.  

O jogo que terminou em 7 a 1 para a Alemanha parece um pesadelo para as crianças; e dos piores. E para os pais, como ajudar os filhos a lidar com a derrota?  Especialistas apontam o caminho: o importante é não reforçar o sofrimento.

“Nem sei dizer o que eu senti. Foi uma mistura de decepção com vergonha. Faltou liderança. Faltou Thiago Silva e Neymar, o melhor zagueiro e o melhor atacante. Só faltava o Felipão tirar o Júlio César”, desabafa Artur Oliveira, de 11 anos. 


O menino, que depois da partida chegou a vestir a camisa do Flamengo para homenagear os alemães, diz ainda: “Mesmo sabendo que a Alemanha era muito superior, foi muito humilhante”. 
Pesadelo

 Ele e o irmão, Eduardo, 9 anos, assistiram à partida em casa,  com os pais, e ambos acreditam que o desequilíbrio emocional dos jogadores atrapalhou uma possível derrota sem humilhação. “A gente acreditava que seria, pelo menos, 2 a 1 pra Alemanha. Foi um pesadelo”, confessa. 

Por isso, os dois resolveram mandar um recado para o técnico dos brasileiros: “Na próxima Copa, a gente tem que ter mais garra, mais amor pela camisa. Não importa o que os torcedores fizerem ou falarem. Vocês são capazes. Façam isso por nós”. 
 A mãe dos garotos, Jacilda Oliveira, 35, também não nega a decepção. “Fiquei com vergonha”, lamenta.


“Ficar entre os primeiros já é uma vitória”

E se a decepção foi grande para os pequenos que conheciam a capacidade do time alemão, imagina para aquelas crianças que acreditavam numa possível reviravolta. “Fui para a igreja chorando. Os jogadores não se mexiam.   Foi muito triste ver aquilo”, diz Juan Ramos, 11 anos. 

Para esquecer do pesadelo, ele e as primas acabaram indo ao Parque da Cidade jogar uma pelada  no campo de areia. “Agora vamos pensar na próxima, né? Não deu, não deu. A gente sofreu tudo ontem (terça). Hoje é um dia diferente. Ainda podemos ganhar o terceiro lugar. É só futebol”, afirma Vitória Ramos, 12.  

 Para quem não esperava uma grande partida, como Anna Rubi, 7 anos, a derrota não foi tão dolorida, mas   inesperada. “O jogo foi tenso, triste. Mas  acho que o terceiro lugar ainda é bom. Ficar entre os primeiros já é uma vitória. Só não precisava perder assim, né?”, diz, rindo. 

 E, entre lágrimas, revolta e sonhos perdidos, alguns até se deram bem. Esse é o caso de Mayra Lituania, 9 anos. Ela organizou o bolão da família e entre as regras, adivinhem: se o Brasil perdesse, todo o dinheiro   era dela. E regras são regras. 

“Fiquei triste, mas depois fiquei feliz porque ganhei R$ 30”, conta. Ah, sim. A pequena torcedora também tem um recado para os jogadores para a próxima Copa: “Joguem direito”.

Perguntas para o psicólogo Luiz Flávio Mendes

Como uma derrota dessas pode atingir as crianças?

Elas sofrem muito com as derrotas, independentemente da proporção. Isso acontece porque as crianças se envolverem mais com o ritual do jogo. Este contexto contagia muito as crianças e com a derrota vem a certeza de que o  Brasil não será mais campeão. Isso as frustra muito. Além disso, muitas não sabem o significado do terceiro lugar.

As crianças se abalam mais do que os adultos? 

O abalo é maior em razão de as crianças não serem expostas à frustração com frequência. Os pais, por sua vez, as habituam apenas com as conquistas e vitórias, e não as preparam para derrotas e perdas. Por isso, elas não têm bagagem para lidar e acabam sofrendo bem mais que o esperado. Isso é demonstrado com clareza.

Que dicas você pode repassar aos pais depois da derrota do Brasil de forma tão inesperada? 

Os pais devem acompanhar os filhos neste momento para verificar as reações e comportamentos que vão apresentar em relação à derrota. É importante evitar deixá-los sozinhos e  não reforçar o sofrimento. Com certeza, isso dará bagagem para lidar com novas derrotas e frustrações. 

Evitar associar superação da frustração à recompensa, pois isso pode condicionar à mentalidade de que superação deve ser recompensada. Não demonstrar preocupação excessiva com a reação do filho, pois vai prejudicar o enfrentamento da situação.

Em que tipo de reação os pais têm de prestar atenção nos próximos dias?

Em caso de mudança drástica no comportamento da criança, é importante acompanhar de forma mais próxima sua rotina para verificar eventuais alterações.

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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