Vejam este mapa, em que o vermelho indica os Estados em que Dilma Rosseff (PT) venceu; o azul, aqueles em que o vitorioso foi Aécio, e os amarelinhos, os que Marina conquistou:
Votos de
pessoas beneficiadas e não beneficiadas por políticas assistencialistas
valem igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de
pessoas mais sujeitas e menos sujeitas às chantagens oficiais valem
igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas
suscetíveis a pregações terroristas e não suscetíveis valem igualmente.
Ainda bem! A democracia não tem de criar restrições para o livre
exercício da escolha. Mas isso não nos impede de fazer um diagnóstico.
O PT já é o maior partido de grotões do Brasil
democrático em qualquer tempo. Querem ver? Dilma venceu em 15 Estados:
oito estão no Nordeste, quatro no Norte, dois no Sudeste e um no Sul.
Essas três exceções parecem negar a tese, mas só a confirmam. Explico
por quê. Em Minas, a petista teve 43,48%, não tão distante de Aécio
Neves, com 39,75%; Marina obteve 14%. No Rio, a candidata do PT alcançou
35,62%, quase o mesmo tanto da peessebista, com 31,07%; o tucano chegou
a 26,84%. Os gaúchos deram à presidente-candidata 43,21%, quase o mesmo
tanto que ao senador mineiro: 41,42%. Vale dizer: a vantagem do petismo
não é acachapante.
Onde é que
Dilma, de fato, fez a diferença e arrancou a primeira colocação: em
oito estados nordestinos — a exceção é Pernambuco — e nos quatro
nortistas. Nesse grupo, pasmem, a sua menor marca foi Alagoas, com
49,95%, e a maior foi no Piauí, o segundo estado com os piores
indicadores sociais do país: 70,6%. A segunda maior foi no Maranhão, com
69,56% — sim, é a unidade da federação socialmente mais perversa.
Assim, os dois Estados que oferecem a pior qualidade de vida à sua
população são os mais “dilmistas”. Atentem para o desempenho da petista
nos demais, em ordem decrescente: Ceará: 68,3%; Bahia, 61,4%; Rio Grande
do Norte, 60,06%; Paraíba, 55,61%; Sergipe, 54,93%; Amazonas, 54,53%;
Pará, 53,18%, Amapá, 51,1% e Tocantins: 50,24%.
Aécio
obteve a sua melhor marca em Santa Catarina, com 52,89% dos votos,
seguido por Paraná, com 49,79%. O Mato Grosso vem em seguida, com
44,47%, e eis que surge São Paulo, com 44,22%. O Estado deu a Aécio
10.152.688 dos seus 34.897.196 votos — isso corresponde a 29% do total;
quase um terço. Minas, até agora, está em falta com Aécio. São Paulo
não! Azulou de vez. Vejam o mapa.
O Distrito
Federal, que conhece bem o PT porque governado pelo partido e porque
muito próximo de Dilma, deu à presidente o seu menor percentual: só
23,02%; o segundo menor foi justamente o colhido em terras paulistas:
25,82%.
Dois mapas ajudam a comprovar o que aqui se diz. Vejam o que aconteceu na Bahia — nas áreas em vermelho, o PT venceu:
Agora vejam Minas. Como se nota, é a “Minas Nordestina” — ou baiana — que vota majoritariamente com Dilma.
Muito bem!
Aonde quero chegar? É evidente que os petistas colhem hoje os seus
melhores resultados nas regiões do país que são mais dependentes do
Bolsa Família. Isso não quer dizer, é evidente, que o programa tenha de
acabar. Quer dizer apenas que ele precisa existir não como instrumento
de um partido, mas como uma política de estado. Não é segredo para
ninguém que, pela terceira eleição consecutiva, o terrorismo correu
solto nas áreas mais pobres do país: “Se a oposição ganhar, o Bolsa
Família vai acabar”. Ora, não era exatamente esse o sentido da campanha
eleitoral do PT quando se referia à independência do Banco Central por
exemplo? Se vier, assegura-se por lá, haverá fome. É um disparate.
Eis aí
mais uma impressionante ironia da história, não é? O PT, que nasceu para
ser o partido das massas urbanas trabalhadoras, é hoje uma legenda que
se enraíza nos grotões e que arranca a sua força do subdesenvolvimento
minorado pela caridade de Estado transformada em moeda política. Há uma
grande diferença entre ter o voto dos pobres e chantagear os pobres com o
discurso do medo.
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