Os respectivos pronunciamentos feitos pelos três principais candidatos
à Presidência da República refletem o que foi a campanha até aqui e os
lances, vá lá, até certo ponto dramáticos destes últimos dois meses,
mormente depois da queda do avião que conduzia Eduardo Campos, no dia 13
de agosto. Começo por aquele ao qual se deve dar mais atenção no
momento. Marina Silva, candidata derrotada do PSB, leve como há muito tempo não se via, sorridente, com ar pacificado, acenou com o apoio ao tucano Aécio Neves. Reproduzo trecho de sua fala:
“Sabemos que o Brasil
sinalizou que não concorda com o que está aí, e sabemos que uma boa
parte do Brasil, desde 2010, vem dando sustentação a uma mudança que
seja qualificada. A postura que eu tive quando não foi aceito registro
da Rede pode ser uma tendência. Eu assumi um compromisso com a mudança
indo apoiar o Eduardo Campos (…) O Brasil sinalizou que não concorda com
esse projeto, que quer uma mudança qualificada, temos uma clareza do
que representamos. Nós vamos fazer essa discussão, os partidos
individualmente, e depois vamos dialogar, mas, estatisticamente, a
sociedade mostra isso, não há de tergiversar com o sentimento de 60% dos
eleitores”.
Ora, as
palavras fazem sentido, não é mesmo? Marina, assim, deixa claro, com
todas as letras, que tanto Aécio Neves, do PSDB, como ela própria
representam a mudança. É cedo para dizer se ela vai dar um apoio formal
ao candidato tucano, mas a sua fala
parece apontar para isso. E que fique claro: na nova ou na antiga
políticas, um apoio no segundo turno não implica, necessariamente, se comprometer com
o futuro governo. Aliás, o primeiro turno de uma eleição pede o voto da
convicção; o segundo, o da possibilidade. De resto, Marina não deve
ignorar que a sua meteórica ascensão, logo depois de se fazer candidata,
se deu com os votos daqueles que estavam interessados em apear o PT no
poder. Parte deles voltou ou migrou para Aécio. Mas um mesmo sentimento
une os dois eleitorados.
Aécio
também fez um aceno à união, embora não tenha se referido diretamente a
Marina Silva — e nem seria o caso. Disse: “A minha primeira constatação é
que este sentimento de mudança amplamente presente no Brasil foi
vitorioso no primeiro turno. Os candidatos de oposição somados foram
vitoriosos, tiveram a maioria dos votos. E é isso que nós temos que
buscar agora no segundo turno. Eu me sinto extremamente honrado em ser o
representante desse sentimento nessas três semanas que nos separam da
eleição”, afirmou.
O tucano
mandou a mensagem também a Pernambuco, que votou esmagadoramente com
Marina e elegeu um senador do PSB: “A ele [Eduardo Campos], aos seus
ideais e aos seus sonhos também, a minha reverência. E nós saberemos
transformá-los em realidade. Portanto, é hora de unirmos as forças. A
minha candidatura não é mais a candidatura de um partido político ou de
um conjunto de alianças. É um sentimento mais puro de todos os
brasileiros que ainda têm capacidade de se indignar, mas principalmente a
capacidade de sonhar”.
Aécio
sabia bem, enquanto falava, que, mesmo no PSDB, ele chegou a ser, num
dado momento, um dos poucos que ainda acreditavam. Não tergiversou em
nenhum momento, não fraquejou, não desanimou. Enfrentou, sim, Marina
Silva — afinal, havia uma única vaga em disputa no segundo turno, mas
foi um confronto leal.
Dilma
Rousseff, a presidente-candidata do PT, certamente surpresa — com o seu
desempenho bem abaixo do que indicavam as pesquisas, e com o de Aécio
bem acima —, foi a que transmitiu mais tensão no discurso, no tom e na
aparência. Mesmo no que deveria ser uma fala de agradecimento,
percebeu-se, mais uma vez, a pregação do medo. Disse: “O povo brasileiro
não quer de volta o que nós podemos chamar de fantasmas do passado, que
quebraram esse país três vezes, com juros que chegaram a 45%,
desemprego massivo, arrocho salarial e jamais promoveram, quando tiveram
a oportunidade, políticas de inclusão social e redução da
desigualdade”.
Bem, o
Brasil não quebrou três vezes; o aumento real de salário mínimo foi
maior nos governos FHC do que no da própria Dilma, e o controle da
inflação significou, com o Plano Real, uma das medidas mais efetivas em
favor da inclusão social de que se têm notícia. Mas não me estenderei
sobre isso agora. O que foi verdadeiramente notável no discurso da
presidente foi a promessa de que ela fará um governo diferente. Insistiu
muito que será uma gestão nova, com ideias novas e pessoas novas.
Chegou a afirmar que entendeu o recado das urnas. Ou por outra: Dilma
prometeu que, se reeleita, não dará continuidade ao governo… Dilma!
Já deu
para sentir o que vem por aí. Aécio, com o possível apoio de Marina,
tentará fazer uma disputa sobre o futuro do país, e Dilma insistirá em
travar uma batalha de versões sobre o passado. O eleitor terá de optar
entre os discursos progressista e reacionário.
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