quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ianomamis vão à guerra com estranhos em troca de mulheres, diz pesquisador

UOL



  • 18.ago.1993 - Ormuzd Alves/Folhapress
    Foto de 1993 mostra guerreiros ianomamis. Povo índigena tem cerca de 25 mil indivíduos no norte da selva amazônica em cerca de 250 comunidades Foto de 1993 mostra guerreiros ianomamis. Povo índigena tem cerca de 25 mil indivíduos no norte da selva amazônica em cerca de 250 comunidades
Esse povo amazônico atua com desconhecidos na hora de atacar para assim obter recursos, além das irmãs e filhas de seus aliados, segundo estudo do polêmico Napoleon Chagnon

Os unokais são os homens mais respeitados entre os índios ianomami. Têm maior status e em média o dobro de mulheres do que os demais. Para serem chamados assim devem ter matado um inimigo. Um estudo mostra agora sua particular política de alianças para ir à guerra: em vez de atacar lado a lado com os seus, pactuam com estranhos ao clã. Em troca, acabam se casando com filhas ou irmãs de seus aliados, criando bandos de cunhados.

Os ianomamis estão entre os grupos indígenas mais idealizados deste planeta. Esse povo formado por cerca de 25 mil indivíduos disseminados pelo norte da selva amazônica em cerca de 250 comunidades com algumas dezenas de pessoas, é o símbolo do fim da terra selvagem para alguns e da barbárie primitiva para outros. Até os anos 1950 não tiveram um contato sustentado com um homem branco. Talvez por isso os ianomamis sempre tenham despertado grande interesse entre os antropólogos. Muitos usam seu modo de vida e comportamento como um espelho no qual ver os primeiros grupos sociais humanos.

Um dos cientistas que melhor os conhece é o antropólogo da Universidade de Missouri (EUA) Napoleon Chagnon, um dos primeiros cientistas que foi viver com eles nos anos 1960 e que passou quase meia vida a estudá-los. Chagnon, que batizou os ianomamis de "o povo feroz", foi duramente criticado por outros antropólogos e indigenistas por descrever os ianomamis quase como geneticamente violentos e viver em um estado permanente de violência.
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Galeria Vermelho exibe fotos de projeto de identificação de ianomâmis

Em São Paulo, a galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350. Tel.: 0/xx/11 3138-1520) recebe a partir de 8 de setembro de 2009 a exposição "Marcados", com trabalhos da fotógrafa Claudia Andujar que estão reunidos em um livro a ser lançado simultaneamente. Horário de funcionamento: segunda de 11h às 19h, de terça a sexta das 10h às 19h e aos sábados de 11h às 17h Leia mais Divulgação



Agora, um estudo com vários colegas sistematiza as notas de Chagnon sobre a violência dos ianomamis. Como em outros grupos humanos, as razões para matar o outro são as mesmas: lutas de poder para conseguir novos territórios ou mais recursos, seja comida ou mulheres. Mas, segundo esse trabalho, não se casam com as mulheres do grupo atacado e sim com as parentes de seus aliados.
Dos 118 unokais estudados, 102 tinham se casado com cerca de 200 mulheres. Como publicam na revista "PNAS", 70% deles tinham pelo menos uma mulher que era irmã, filha ou prima-irmã de outro unokai com o qual haviam lutado. Embora os ianomamis não tenham registros dos casamentos, e por isso não se pode saber o que aconteceu antes, se o casamento ou a aliança, para os pesquisadores esse fato é realmente surpreendente.

"Alguns, incluindo eu mesmo, pensamos que o butim é para o vencedor, já que quando se conquista outro território pode ficar com suas terras, sua comida ou também com suas mulheres", explica em nota o antropólogo da Universidade de Utah (EUA) e coautor do estudo, Shane Macfarlan.
Mas com os ianomamis não é assim. "O benefício adaptativo são as alianças que estabelecem para realizar atos de guerra. Não se apropriam da terra ou das mulheres do grupo vencido, mas para os ianomamis o que se consegue é poder trocar recursos com os aliados, como trabalho e, mais importante, cônjuges mulheres", esclarece o antropólogo americano.

Nas criticadas obras de Chagnon, relata-se que grupos de até 20 ianomamis atacam outra comunidade ao amanhecer, matando quem podem e fugindo em seguida do lugar. Não se trata de uma guerra convencional. São fatos esporádicos dentro de um equilíbrio instável entre as diversas comunidades, e funcionam tanto como uma longa guerra de desgaste quanto um veículo para reforçar os vínculos com os companheiros de luta.

O estudo mostra que os laços familiares diretos não são um fator chave na formação dessas alianças agressivas. De fato, os pesquisadores encontraram um só caso de pai e filho que foram juntos à guerra. Na realidade, a maioria dos unokai tem a mesma idade, são de comunidades vizinhas e, se forem parentes, o são por via materna, raramente pela paterna.

Violência em chimpanzés e humanos
Os antropólogos também comprovaram que a maior parte das novas comunidades que se criaram eram formadas por dois ou mais unokais que haviam matado juntos e, em muitos casos, tinham se casado com uma mulher do clã do outro.

A relevância desse trabalho é que oferece uma explicação alternativa sobre a origem da violência entre os seres humanos. Até agora, o modelo mais aceito era o das alianças fraternais de interesse. Aqui, os guerreiros compartilhariam laços de parentesco, viveriam na mesma comunidade e teriam diversas idades. É um modelo que reproduzem os chimpanzés, outro grande símio que usa a violência como exercício de poder e que também é capaz de estabelecer alianças para matar um adversário.

Apesar de esse trabalho não acabar com o debate sobre a base biológica das coalizões para matar entre os chimpanzés ou os humanos, ele mostra que no caso dos segundos há um elemento cultural adicional. Como diz Macfarlan sobre os ianomamis: "Se matam junto, conectando-se dentro dessa cena social, esse mercado do matrimônio, estão jogando o jogo de sua cultura".



Extração ilegal faz índios isolados atacarem tribos no Acre

Binai, filho de Omina, cacique da tribo madija, toca uma flauta de cerâmica feita por índios isolados encontrados por Omina, no igarapé do Anjo, no Estado do Acre, em foto tirada em março deste ano. Moradores da porção da floresta tropical brasileira que fica próxima à fronteira com o Peru, os ashaninka e outros grupos indígenas, como os huni kui e madija, afirmam serem vítimas de usurpação de terras por tribos isoladas, definidas pela Survival International como grupos que nunca tiveram contato pacífico com a sociedade dominante. 
Os "bravos", como esses indígenas são chamados na região, atacam outras aldeias, colocando as comunidades ao longo do rio Envira em alerta permanente, por isso os líderes dos ashaninka têm pedido ajuda ao governo e às ONGs a fim de não perderem as suas terras. Segundo eles, o movimento dessas outras tribos é o resultado da pressão causada pela exploração madeireira ilegal na fronteira com o Peru Lunae Parracho/Reuters
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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