Já se tornou lugar comum dizer que o PT ganhou as eleições principalmente por sua campanha maquiavélica, onde os fins justificam os meios. Não existiu qualquer traço de ação moral na campanha do PT. As mentiras deram o tom. A baixaria reinou absoluta. Logo, a vitória.
Não gosto deste raciocínio por que ele evoca um imperativo lógico injustificado: o mal sempre prevalece.
Mas isso nem de longe é verdade. Vários regimes totalitários já foram derrubados. Vários psicopatas já foram presos pela polícia. Várias pessoas baixas já foram expostas ao público. Logo, o mal nem sempre prevalece.
O livro Moral Origins: The Evolution of Virtue, Altruism and Shame, de Christopher Boehm, pode nos dar uma boa luz sobre o assunto. Para que exista uma sociedade com uma moral sadia, é preciso de uma cultura estimulando essa cobrança. Decerto existe uma tendência humana para a moral, mas desvios em uma cultura podem levar ao estímulo a perversidade, que é outra aptidão humana. Em outras palavras, se você quiser moral, precisa cobrar moral, não apenas reclamar da existência dos imorais.
O ex-presidente FHC, parece não ter entendido essa norma ao criticar, mais uma vez, “a campanha baixa do PT”, como vimos no Infomoney:
SÃO PAULO – Sem disfarçar o desânimo com a derrota de Aécio Neves, candidato ao Planalto pelo PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso exaltou o correligionário e destacou que Aécio foi um candidato excepcional. Para o ex-presidente, a derrota do tucano deve ser atribuída ao tom agressivo da campanha de Dilma Rousseff, do PT. “Eu tenho muita experiência de vida política e nunca tinha visto um esforço de destruição de candidaturas como o que foi feito com a Marina Silva (do PSB) e com o Aécio”.
A votação expressiva de Aécio foi explicada pelo ex-presidente como a mais real evidência de que uma parte do eleitorado brasileiro queria levar adiante o movimento de mudança, o que deve fazer com que o governo petista adote uma nova postura para evitar um aumento da rejeição. “Isso deve dar um sinal à presidente Dilma que ela deve mudar de caminho. Esse caminho de ficar atacando e denegrindo só faz mal ao país”, explicou FHC.
Para o ex-presidente, o resultado acirrado da corrida presidencial deve atribuir novas dificuldades para Dilma em sua nova gestão á frente da presidência. “Provavelmente vai ser um governo difícil, com um congresso dividido e uma oposição mais forte do que tinha antes”, afirmou o líder tucano.
Sobre uma eventual candidatura de Aécio à presidência em 2018, FHC afirmou que ainda é cedo para pensar nisso, mas não descartou a possibilidade. De acordo com ele, a votação expressiva faz o ex-governador de Minas Gerais sair da eleição como uma importante força política.A meu ver, agora o Sr. FHC pode descansar em paz. Infelizmente, ele está obsoleto em termos de política. O fato é que na guerra política, o agressor geralmente prevalece. Fim de conversa.
Por que ele não está olhando para a campanha do PSDB que fez com que o PT impunemente pudesse ganhar com base na baixaria?
Para relembrarmos o fascinante “curso” de guerra política que foi essa eleição, veja esta matéria de Fernando Rodrigues trazendo um vídeo no qual o PT desmoraliza Marina por ela ter mentido na questão da CPMF.
E onde está o pessoal que diz que o PT ganhou essa eleição por que mentiu? É o oposto: ao mentir, o PT deu mais munição ao PSDB. Munição esta que não foi utilizada por estes últimos.
Gosto de avaliar as coisas pelas óticas da esfera da responsabilidade. Ou seja, focamos naquilo que podemos influenciar, tirando prioridade daquilo que não podemos.
O PSDB não pode impedir o PT de mentir. Mas poderia expor as mentiras do oponente. Isto estava na esfera de responsabilidade do PSDB. E o partido não fez.
O que estimulou toda a “agressividade” da campanha do PT foi a passividade do PSDB diante da coleção de mentiras petistas.
Antes de ser a vitória do mal, esta eleição deve ficar marcada pela omissão diante do mal.
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