Em suas projeções, economistas de diferentes matizes podiam discordar
das medidas que deveriam ser adotadas em relação à economia no próximo
ano, mas sempre houve uma unanimidade entre eles: 2015 seria um ano
difícil. Nesta quinta, a fala conjunta dos futuros ministros da Fazenda,
Joaquim Levy (foto), e do Planejamento, Nelson Barbosa, ao lado do reconduzido
presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reafirmou a projeção. O
ano será de duros ajustes que vão afetar a vida de todos os
brasileiros. Pode parecer um contrassenso, mas a mensagem foi bem
recebida pelos economistas.
Isso
ocorreu porque, diferentemente da atual equipe econômica, a nova
mostrou que reconhece o cenário ruim e sinalizou que vai trabalhar para
corrigir a rota. “A nova equipe econômica é uma clara mudança de rumo”,
diz o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro do governo
Fernando Henrique Cardoso. “E é uma mudança correta, porque os
resultados do primeiro mandato se mostraram ruins. Então, agora não tem
mais sentido qualquer análise catastrófica para a economia no ano que
vem.”
Segundo ele, um dos efeitos imediatos é que o mercado de
trabalho, que começava a dar sinais de arrefecimento, não vai piorar
tanto como o esperado. O economista Eduardo Giannetti, que trabalhou na campanha da
candidata à presidente Marina Silva (PSB), ainda tem dúvidas sobre se
haverá espaço político para a nova equipe trabalhar, mas concorda com a
visão. “Caso o novo ministro possa colocar em prática suas ideias, é
possível que o cenário de turbulências comece a mudar.”
Ano duro. Uma boa pista sobre qual será o
impacto de um eventual ajuste no dia a dia das pessoas está no valor
anunciado do superávit primário (a economia do governo para pagar os
juros da dívida). Levy falou em 1,2% de primário. Ele é conhecido por
ser um ortodoxo, então, a expectativa é que faça um primário sem
truques, que dependa de uma arrecadação mais robusta e de um legítimo
corte de gastos. “Nesse cenário, não tem mágica: teremos aumento de
impostos e cortes de subsídios”, diz Alessandra Ribeiro, economista da
Tendências Consultoria Integrada.
Já se prevê aumento da Cide, que hoje está zerada, o que vai
elevar o preço da gasolina. Também existe a expectativa de que as
passagens de metro e de ônibus, hoje represadas, sejam reajustadas. O
mesmo vai ocorrer com a energia. Pelas expectativas da Tendência, o
reajuste médio da conta de luz será de 18%.
O aumento das tarifas vai pressionar a inflação, que já
encostou no teto da meta (de 6,5%). Assim, para fazer a inflação ceder,
será preciso segurar o consumo. A Selic, a taxa básica de juros, com
certeza vai ser elevada, encarecendo o crédito. As prestações, do
calçado mais básico ao carro mais luxuoso, vão ficar maiores.
Há porém uma expectativa positiva em relação ao outro lado da
equação do ajuste: o lado do gasto público. “Se Joaquim Levy cortar
gastos ou ao menos segurá-los para que parem de subir acima da receita,
teremos dois efeitos benéficos”, diz Marina Santos, economista-chefe da
gestora Mauá Sekular. O primeiro é aliviar a alta dos juros. A Selic ainda seria
elevada, mas em pontos porcentuais menores. Assim, o tranco sobre o
crédito tenderia a ser menor. Isso é possível porque, para cada ponto
porcentual a mais que o governo poupa, representa um ponto porcentual a
menos para se elevar na Selic.
O outro fator positivo é que um governo mais austero será
capaz de resgatar a confiança de consumidores e, principalmente, de
empresários e investidores.
“O cenário para 2015 vinha se deteriorando
há meses e tudo indicava que o País caminhava para a recessão, aumento
do desemprego, queda da renda, com inflação e perda do grau
investimentos: poderíamos retroceder uns 10 anos”, diz Marina. “Ainda
não temos os detalhes sobre o ajuste, mas se o discurso for posto em
prática, pode recuperar a confiança.” Em outras palavras: o ajuste vai
doer em 2015, mas pode deixar a economia mais saudável a partir de 2016.(Matéria do Estadão)
De Maria Cristina Fernandes, no Valor Econômico:
A chegada de Joaquim Levy e Nelson Barbosa no terceiro andar do Palácio do Planalto vai colocar o PT à prova como nunca esteve desde que chegou ao poder. O partido que presidiu a bonança salarial vai ter que encontrar discurso para descer uma provável ladeira no gráfico abaixo. O recado dos futuros ministros não poderia ter sido mais claro. Para retomar o crescimento e manter os ganhos sociais é preciso retomar o equilíbrio fiscal com o 'exemplo do governo', a redução de gastos.
Deu como certa a redução nas transferências do Tesouro para os bancos públicos, que devem emprestar menos à indústria, a ser afetada ainda pela perda de isenções. A era dos pacotes já passou, mas até as planilhas mais republicanas não veem como alcançar a meta anunciada sem reajuste de tarifas e combustível que pressiona a inflação e exige juro. Some-se a isso mais imposto e um real desvalorizado e tem-se a receita de um partido em apuros.
Sim, o aperto talvez não seja tão forte quanto o de 2003 mas o partido também já queimou uma grande parte da gordura acumulada quando gozava o crédito de assumir o poder pela primeira vez. Tinha um Luiz Inácio Lula da Silva novinho em folha para segurar o tranco. Agora tem Dilma que vai ter que começar a ser uma pessoa melhor aceitando o receituário contra o qual se insurgiu a vida inteira para evitar que lhe fujam os investimentos.
Levy começou seu pronunciamento com uma elegante homenagem a Guido Mantega. Mas, da trinca anunciada ontem, foi o único a não agradecer a nomeação à presidente. Nas 655 palavras de seu breve discurso, citou seis vezes 'superávit' e nenhuma, sua futura chefe. Durante toda a cerimônia, o futuro titular do Planejamento, Nelson Barbosa, foi o único a se definir como servidor de um projeto reeleito há um mês.
A omissão de Levy à presidente pode ter sido apenas falta de traquejo. O ministro não fez concessões à arrogância, mas parecia confirmar as impressões de sua ruidosa torcida de que é Dilma quem deve agradecê-lo por ter aceito a tarefa face à desconfiança generalizada sobre os limites de sua autonomia no exercício da missão que lhe foi entregue.
De Maria Cristina Fernandes, no Valor Econômico:
A chegada de Joaquim Levy e Nelson Barbosa no terceiro andar do Palácio do Planalto vai colocar o PT à prova como nunca esteve desde que chegou ao poder. O partido que presidiu a bonança salarial vai ter que encontrar discurso para descer uma provável ladeira no gráfico abaixo. O recado dos futuros ministros não poderia ter sido mais claro. Para retomar o crescimento e manter os ganhos sociais é preciso retomar o equilíbrio fiscal com o 'exemplo do governo', a redução de gastos.
Deu como certa a redução nas transferências do Tesouro para os bancos públicos, que devem emprestar menos à indústria, a ser afetada ainda pela perda de isenções. A era dos pacotes já passou, mas até as planilhas mais republicanas não veem como alcançar a meta anunciada sem reajuste de tarifas e combustível que pressiona a inflação e exige juro. Some-se a isso mais imposto e um real desvalorizado e tem-se a receita de um partido em apuros.
Sim, o aperto talvez não seja tão forte quanto o de 2003 mas o partido também já queimou uma grande parte da gordura acumulada quando gozava o crédito de assumir o poder pela primeira vez. Tinha um Luiz Inácio Lula da Silva novinho em folha para segurar o tranco. Agora tem Dilma que vai ter que começar a ser uma pessoa melhor aceitando o receituário contra o qual se insurgiu a vida inteira para evitar que lhe fujam os investimentos.
Levy começou seu pronunciamento com uma elegante homenagem a Guido Mantega. Mas, da trinca anunciada ontem, foi o único a não agradecer a nomeação à presidente. Nas 655 palavras de seu breve discurso, citou seis vezes 'superávit' e nenhuma, sua futura chefe. Durante toda a cerimônia, o futuro titular do Planejamento, Nelson Barbosa, foi o único a se definir como servidor de um projeto reeleito há um mês.
A omissão de Levy à presidente pode ter sido apenas falta de traquejo. O ministro não fez concessões à arrogância, mas parecia confirmar as impressões de sua ruidosa torcida de que é Dilma quem deve agradecê-lo por ter aceito a tarefa face à desconfiança generalizada sobre os limites de sua autonomia no exercício da missão que lhe foi entregue.
Nenhum comentário:
Postar um comentário