28/11/2014
às 1:28
Joaquim
Levy e Nelson Barbosa foram, nesta quinta, extraoficializados — e vejam
como Dilma Rousseff força o estropiamento da língua portuguesa — como
futuros ministros da Fazenda e do Planejamento. Mas ainda não tomaram
posse. Estarão numa equipe de transição do governo Dilma para o… governo
Dilma. Vale dizer: Levy e Barbosa aplanarão o terreno para a posse de…
Levy e Barbosa. Parece uma maluquice? É uma maluquice.
O futuro
titular do Planejamento não disse nada de aproveitável. Limitou-se a
agradecer a confiança e coisa e tal. Levy não! Este falou. E com
clareza. Fez um discurso apropriado a um governo, digamos, liberal. E o
centro de sua fala poderia ser considerado explosivo se alguém estivesse
hoje empenhado em cobrar coerência da presidente Dilma. Mas já ninguém
se ocupa disso. Se o futuro ministro conseguir evitar o pior, já está de
bom tamanho. Explico.
Levy
falou, basicamente, sobre recuperar a credibilidade — o que significa
admitir que credibilidade não há. E como fazê-lo? Ele deu a entender que
essa confiança nasce da previsibilidade, o que demanda o cumprimento do
que se promete. Curiosamente, para que se atinja tal objetivo, a Dilma
presidente terá de desmentir a Dilma candidata.
O futuro
ministro defendeu que se faça um superávit, no ano que vem, de 1,2% do
PIB e, nos anos seguintes, de 2%. Mas não dourou a pílula. Agora vem o
centro de sua fala: “Para se realizar essa trajetória para a relação
dívida PIB, o superávit primário do setor público consolidado deve
alcançar o valor de, no mínimo, 2% do PIB ao longo do tempo (…) desde
que não haja ampliação do estoque de transferência do Tesouro Nacional
para instituições financeiras públicas”.
Sintetizo:
ele está falando, principalmente, sobre o BNDES, sim, senhores! Está
afirmando que é preciso pôr um limite à farra que permite ao Tesouro
repassar dinheiro ao banco como quem diz “hoje é sexta-feira”. Mas que
mal há nisso? Bem, o Tesouro capta dinheiro no mercado pela Selic
(11,25%) e empresta a alguns eleitos a 5%. Tanto Marina Silva (PSB) como
Aécio Neves (PSDB) falaram da necessidade de impor um limite à
esbórnia. A candidata Dilma os acusou, então, de ser inimigos dos bancos
públicos — e não apenas do BNDES: também do Banco do Brasil e da Caixa
Econômica Federal.
Levy falou
o que aqueles que os petistas chamam “conservadores” queriam ouvir.
Como esquecer que, durante a campanha, Lula bateu no peito e se orgulhou
de, segundo disse, ganhar eleições contra o mercado? É, diga-se de
passagem, mentira. De todo modo, pode-se até ganhar uma eleição contra o
dito-cujo, mas certamente não se governa contra ele.
“Então é
uma ditadura de mercado, Reinaldo?” Não! As regras a que me refiro são
apenas as de bom senso: não gastar mais do que arrecada; não permitir
que as despesas cresçam a um ritmo maior do que o das receitas; não
tratar o Tesouro como a casa da mãe joana.
Não foi
uma fala subserviente. Nesta quinta (ver post), o inefável Gilberto
Carvalho, ainda secretário-geral da Presidência e, espera-se, futuro
desempregado (ao menos em cargo público), afirmou que, ao entrar no
governo, Levy aderia ao paradigma petista de governança. Trata-se,
claro!, de uma sandice. É o petismo quem se rende às críticas feitas
pelos adversários.
Que coisa! Só o estelionato salva o governo Dilma Rousseff.
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