ENTREVISTA
Marcia Carmo
O economista
argentino Dante Sica, especialista no comércio bilateral, falou ainda
sobre a economia argentina, as barreiras comerciais e a queda nas
importações e exportações entre os dois países este ano e as
perspectivas para 2015.
Buenos Aires, 26 de novembro de 2014
Leia aqui a entrevista ao Clarin em Português:
- Como o comércio bilateral (Argentina e Brasil) terminará este ano? E qual a expectativa para 2015?
Dante Sica: A expectativa para este ano é de queda de 21% (frente ao ano passado) no comércio, justificada pelo retrocesso de 15% nas exportações da Argentina para o Brasil e de uma caída de 26% nas importações feitas desde o Brasil. No ano que vem, o comércio total deverá se manter relativamente constante. A esperada melhoria na economia brasileira causará um leve crecimento das exportações argentinas (para o mercado brasileiro) de 3%. Mas este efeito será compensado pela queda nas importações, de menos 2% devido a falta de dinamismo da economia argentina e da continuidade do esquema local de medidas restritivas ao comércio (barreiras comerciais e controle cambial).
- O controle de câmbio e as barreiras contribuem para a queda ou o fator decisivo foi o menor crescimento econômico nos dois países?
Dante Sica: Em 2014, ambos fatores tiveram forte incidência para explicar a queda no comércio bilateral total. A forte queda das exportações para o Brasil, que explica 32% na contração do intercâmbio total entre os dois países, está relacionada com a desaceleração da economiabrasileira e especificamente no mercado automotivo.
Ao mesmo tempo, as importações, o ciclo e as restrições atuam de forma conjunta. Mas no início deste ano o fator "restrições comerciais" teve maior alcance, quando as autoridades locais implementaram cotas para a importação para as montadoras e ainda o imposto sobre bens de luxo.
A partir de abril, maio, deste ano, os dois fatos complicam ainda mais.
A desaceleração da econômica e a desvalorização do peso contraìram a demanda de importações ao mesmo tempo em que continuam em vigor as restrições para as compras externas, que por sua vez acabaram alimentando o efeito recessivo.
- Continuam os atrasos nos pagamentos dos importadores argentinos ao que compram do exterior? A medida do governo argentino que limita o acesso ao dólar para estes pagamentos deve continuar preocupando exportadores brasileiros?
Dante Sica: Apesar da falta de estatísticas oficiais atualizadas sobre a dívida externa do setor privado, o Banco Central da Argentina não só não libera divisas para as novas operações mas também não entrega há meses os fundos comprometidos meses atrás para que os importadores argentinos paguem pelas importações.
A dívida acumulada dos importadores é de cerca de US$ 5,5 bilhões. A mair parte deste total corresponde a pagamentos acumulados para empresas dos setores automotivo e eletrônico. No primeiro caso pelas importações feitas pela Argentina do Brasil e no segundo caso das importações argentinas da China.
Atualmente, esse incremento desta dívida com exportadores diminuiu porque a incerteza cresceu e os exportadores, em muitos casos, não estão dispostos a continuar financiando os importadores argentinos.
Esse é um assunto que deve preocupar devido a forte escassez de divisas na Argentina, o que torna difícil o pagamento da dívida de curto prazo.
- O caso de corrupção que envolve a Petrobras preocupa a Argentina?
Dante Sica: A forte relação e dependência entre Argentina e Brasil fazem com que os fatores de ressonância no Brasil tenham algum efeito na Argentina. O caso Petrobras é transcendente para toda a região, já que a partir de agora todos os vínculos produtivos, financeirs e comerciais entre a Petrobras e outras empresas públicas no Brasil com suas possíveis parceiras na Argentina estarão submetidas a uma demanda muito mais exigente de transparência e de controle. Talvez em alguns casos até exagerados devido à necessidade de evitar maior grau de exposição pública (da empresa brasileira).
- Qual a expectativa para a economia argentina em tempos de queda no preço da soja e outros commodities e inflação alta?
Dante Sica: A Argentina está em uma situação conjuntural de recessão e dinâmica alta de preços. Fatos que geram expectativas negativas para o fim deste ano e para 2015. Este fato fica agravado com a queda nos preços dos principais commodities e menores saldos exportáveis no setor energético. Mas de qualquer forma o principal problema da Argentina hoje é o déficit fiscal que contribui para piorar a restrição externa. Por tudo isso, a solução do problema com os holdouts* será chave para prever um quadro de maior estabilidade econômica.
Nota da editoria do Clarin em Português:
- O governo argentino e os holdouts, que o governo chama de 'fundos abutres', disputam na justiça e a expectativa é de nova audiência em dezembro em Nova York.
Leia aqui a entrevista ao Clarin em Português:
- Como o comércio bilateral (Argentina e Brasil) terminará este ano? E qual a expectativa para 2015?
Dante Sica: A expectativa para este ano é de queda de 21% (frente ao ano passado) no comércio, justificada pelo retrocesso de 15% nas exportações da Argentina para o Brasil e de uma caída de 26% nas importações feitas desde o Brasil. No ano que vem, o comércio total deverá se manter relativamente constante. A esperada melhoria na economia brasileira causará um leve crecimento das exportações argentinas (para o mercado brasileiro) de 3%. Mas este efeito será compensado pela queda nas importações, de menos 2% devido a falta de dinamismo da economia argentina e da continuidade do esquema local de medidas restritivas ao comércio (barreiras comerciais e controle cambial).
- O controle de câmbio e as barreiras contribuem para a queda ou o fator decisivo foi o menor crescimento econômico nos dois países?
Dante Sica: Em 2014, ambos fatores tiveram forte incidência para explicar a queda no comércio bilateral total. A forte queda das exportações para o Brasil, que explica 32% na contração do intercâmbio total entre os dois países, está relacionada com a desaceleração da economiabrasileira e especificamente no mercado automotivo.
Ao mesmo tempo, as importações, o ciclo e as restrições atuam de forma conjunta. Mas no início deste ano o fator "restrições comerciais" teve maior alcance, quando as autoridades locais implementaram cotas para a importação para as montadoras e ainda o imposto sobre bens de luxo.
A partir de abril, maio, deste ano, os dois fatos complicam ainda mais.
A desaceleração da econômica e a desvalorização do peso contraìram a demanda de importações ao mesmo tempo em que continuam em vigor as restrições para as compras externas, que por sua vez acabaram alimentando o efeito recessivo.
- Continuam os atrasos nos pagamentos dos importadores argentinos ao que compram do exterior? A medida do governo argentino que limita o acesso ao dólar para estes pagamentos deve continuar preocupando exportadores brasileiros?
Dante Sica: Apesar da falta de estatísticas oficiais atualizadas sobre a dívida externa do setor privado, o Banco Central da Argentina não só não libera divisas para as novas operações mas também não entrega há meses os fundos comprometidos meses atrás para que os importadores argentinos paguem pelas importações.
A dívida acumulada dos importadores é de cerca de US$ 5,5 bilhões. A mair parte deste total corresponde a pagamentos acumulados para empresas dos setores automotivo e eletrônico. No primeiro caso pelas importações feitas pela Argentina do Brasil e no segundo caso das importações argentinas da China.
Atualmente, esse incremento desta dívida com exportadores diminuiu porque a incerteza cresceu e os exportadores, em muitos casos, não estão dispostos a continuar financiando os importadores argentinos.
Esse é um assunto que deve preocupar devido a forte escassez de divisas na Argentina, o que torna difícil o pagamento da dívida de curto prazo.
- O caso de corrupção que envolve a Petrobras preocupa a Argentina?
Dante Sica: A forte relação e dependência entre Argentina e Brasil fazem com que os fatores de ressonância no Brasil tenham algum efeito na Argentina. O caso Petrobras é transcendente para toda a região, já que a partir de agora todos os vínculos produtivos, financeirs e comerciais entre a Petrobras e outras empresas públicas no Brasil com suas possíveis parceiras na Argentina estarão submetidas a uma demanda muito mais exigente de transparência e de controle. Talvez em alguns casos até exagerados devido à necessidade de evitar maior grau de exposição pública (da empresa brasileira).
- Qual a expectativa para a economia argentina em tempos de queda no preço da soja e outros commodities e inflação alta?
Dante Sica: A Argentina está em uma situação conjuntural de recessão e dinâmica alta de preços. Fatos que geram expectativas negativas para o fim deste ano e para 2015. Este fato fica agravado com a queda nos preços dos principais commodities e menores saldos exportáveis no setor energético. Mas de qualquer forma o principal problema da Argentina hoje é o déficit fiscal que contribui para piorar a restrição externa. Por tudo isso, a solução do problema com os holdouts* será chave para prever um quadro de maior estabilidade econômica.
Nota da editoria do Clarin em Português:
- O governo argentino e os holdouts, que o governo chama de 'fundos abutres', disputam na justiça e a expectativa é de nova audiência em dezembro em Nova York.
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