90 anos da coluna BLOG do JAMILDO
Noventa anos depois do levante que levou
ao início da Coluna Prestes, a historiadora Anita Leocádia Prestes, 78
anos, filha do político e guerrilheiro Luis Carlos Prestes com a
comunista Olga Benário, critica a política econômica do PT, diz que o
Bolsa Família acalma as massas populares e diz que a esquerda brasileira
não é capaz de representar as insatisfações existentes no País.
“Acho que a esquerda no Brasil está
muito mal, falando francamente. E não consegue liderar esse movimento de
insatisfação que existe no País, que ficou bastante patente com as
manifestações de junho do ano passado”, afirmou Anita, no Recife, nesta
quinta-feira (27), após uma palestra no Colégio Apoio. Ela se desfiliou
do PCB em 1979 e desde então não entrou em nenhum partido.
“Houve muita ilusão com o PT. Diga-se de
passagem o Prestes nunca teve essa ilusão nem no Lula, nem no PT”,
lembra a filha do homem que ficou conhecido como o “cavaleiro da
esperança”. “Lula concorreu três vezes à Presidência da República e foi
derrotado. Na quarta ele entendeu que para ser vitorioso e conseguir se
eleger precisava fazer concessões ao grande capital internacionalizado”,
explica.
“A política econômica que foi aplicada
nesses governos do Lula, e depois da Dilma, agora nesse último
quadriênio é uma continuação da política neoliberal”, critica Anita
Prestes, que lembra que o ex-presidente nomeou Henrique Meirelles para
comandar o Banco Central após uma viagem aos Estados Unidos.
“E ao mesmo tempo fazer política
compensatória que acalme as massas populares e não permitam revoltas e
maiores lutas. Então aí vem Bolsa Família e todas essas medidas que são
tomadas que acabam sendo positivas, porque é melhor do que nada. Mas de
qualquer maneira, acaba sendo uma migalha diante dos grandes lucros dos
banqueiros, dos empresários e dos capitalistas das multinacionais”, diz.
DITADURA, ANISTIA E HISTÓRIA
– Questionada sobre as manifestações que pedem a volta do Regime
Militar no País, a historiadora marxista acredita ser um grupo
inexpressivo. “É uma parte bastante restrita, bastante pequena pelo que
eu tenho visto; amplamente minoritária”, avalia.
Anita, que teve deixar o Brasil como
exilada, ao lado do pai, após o golpe militar de 1964, defende a revisão
da Lei da Anistia. “A Comissão da Verdade faz um trabalho de resgate
histórico, mas não tem punição”, afirma.
Professora aposentada, a historiadora
tem percorrido várias cidades do País para lembrar os 90 anos da Coluna
Prestes, cujo primeiro levante ocorreu no dia 28 de outubro de 1924. O
movimento durou mais de três anos, percorreu 25 mil quilômetros,
enfrentou 53 combates e não enfrentou nenhuma derrota; embora também não
tenha conseguido depor o então presidente Artur Bernardes.
“O Nordeste foi importante na marcha da
coluna”, reconhece Anita. O movimento passou por Piauí, Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco; onde a Coluna passou pelo Vale do
Pajeú, no Sertão, até cruzar o Rio São Francisco em direção a Bahia.
Anita Prestes nasceu na prisão feminina
do Campo de Concentração de Barnimstrasse, na Alemanha, para onde Olga
Benário foi enviada após ajudar Prestes a realizar um levante comunista,
em 1935. Anita conviveu 14 meses com a mãe antes de ser entregue à avó
brasileira. Olga foi executada na câmara de gás. Luiz Carlos Prestes
faleceu em 1990, no Rio de Janeiro, cerca de dez anos depois de retornar
ao Brasil após a Anistia.
No Recife, Anita ainda promove palestra
nesta sexta-feira (28), às 14h, no Centro de Educação da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). No périplo pelo País, ela já passou por
Lagoa dos Gatos e Gravatá, no interior de Pernambuco. Na última semana,
também foi a João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba, e Maceió, em
Alagoas. Na próxima semana, ela irá a Fortaleza, no Ceará.
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