O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou as articulações
políticas que levaram a presiden te Dilma Rousseff a ser reeleita e
constituir maioria no Congresso.
Em debate na Academia Brasileira de Letras (ABL), FHC af irmou que mesmo antes do segundo mandato, Dilma, "recém-eleita, quando deveria ter toda a força possível, dá a impressão de que há um sentimento de quase ilegitimidade" sobre seu governo, e preconizou que o futuro governo da presidente pode enfrentar "um tremendo problema político" e até a judicialização de decisões importantes porque "não tem condições efetivas de hegemonia no Congresso", onde constituiu sua base calcada não em afinidade de propostas mas sobre "troca de favores".
Em debate na Academia Brasileira de Letras (ABL), FHC af irmou que mesmo antes do segundo mandato, Dilma, "recém-eleita, quando deveria ter toda a força possível, dá a impressão de que há um sentimento de quase ilegitimidade" sobre seu governo, e preconizou que o futuro governo da presidente pode enfrentar "um tremendo problema político" e até a judicialização de decisões importantes porque "não tem condições efetivas de hegemonia no Congresso", onde constituiu sua base calcada não em afinidade de propostas mas sobre "troca de favores".
Para ele, até agora foi possível empurrar a governabilidade com a
barriga porque a situação econômica não era aflitiva. Mas Fernando
Henrique previu que, se a situação social e econômica se agravar, "é
possível que a saída seja a judicialização das decisões".
"Estamos assistindo neste momento um processo complicado de corrupção
em que a Justiça está atuando. Isso afeta os partidos e o governo",
disse. "Dada a situação política e o constrangimento para mudar essa
situação, não é de estranhar-se que no Brasil a solução para o imbróglio
político não venha a partir do sistema político, mas do sistema judicial".
FHC arriscou uma análise da divisão de votos da recente corrida
presidencial pela qual os eleitores que optaram pela candidatura de
Dilma são aqueles "mais dependentes das políticas de governo", enquanto
os que votaram no candidato tucano, Aécio Neves, representam a parcela
"mais dinâmica da sociedade". "No Acre e em Roraima [onde Aécio ganhou] existe agribusiness. São
áreas que começam a ser mais dinâmicas e menos dependentes do Estado",
opinou.
FHC fez a ressalva que a política de alianças não é uma prática
exclusiva do governo do PT, uma vez que "o primeiro esforço de qualquer
candidato é fazer um leque enorme de alianças sem nenhuma conexão
ideológica". Mas o ex-presidente afirmou que a reforma política no
Brasil, que poderia reverter esse quadro, é um debate com poucas chances
de avançar, pois os partidos que têm sido predominantes - PT, PSDB e
PMDB - "não têm a mesma visão sobre a forma para sair disso". Mas
criticou o governo por cooptar apoiadores através de troca de favores
com partidos "que a todo tempo ameaçam não dar mais apoio". Um exemplo
da situação, disse, é a criação de mais ministérios no último mandato
para contemplar esses partidos e manter a base política.
"Veja neste momento a dificuldade que tem a presidente da República
recém-eleita. Quando deveria ter toda a força possível, dá a impressão
de que há um sentimento de quase ilegitimidade de quem ganhou. Ganhou, é
legal, mas por que esse sentimento? Porque ganhou não na parte mais
dinâmica do país e por um outro lado, com um sistema de apoio que não se
expressa no Congresso, nem no atual e nem no futuro", afirmou. (Valor Econômico)
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