quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Aliados cobram caro para deixar Dilma descumprir a meta de superávit fiscal

Blog do Josias de Souza


Josias de Souza


A crise fiscal do governo Dilma Rousseff deu ao atual Congresso uma sensação de utilidade que deputados e senadores não esperavam ter neste final de legislatura. Acompanhada de um discurso de beco sem saída, a crise valorizou o voto dos congressistas. E os aliados do Planalto pretendem cobrar caro por isso. Condicionam a aprovação do projeto que autoriza o governo a descumprir a meta de superávit de caixa a acertos que vão da composição do ministério à escolha do próximo presidente da Câmara.


Dilma não aproveitou as oportunidades que teve nos quatro anos do seu primeiro mandato para demonstrar compromisso com a austeridade fiscal. E acabou se tornando a oportunidade que seus apoiadores aproveitam a um mês e meio do início do segundo mandato. Radicalizada, a oposição se organiza para obstruir a votação dos remendos que Dilma quer fazer na Lei de Diretrizes Orçamentárias. A presidente está à mercê dos múltiplos interesses dos partidos que compõem sua base congressual. De resto, terá de negociar até com os cerca de 230 deputados que não se reelegeram.


A crise deu meia-sola no PMDB. Súbito, os operadores políticos de Dilma passaram a achar, por exemplo, que Eduardo Cunha não é 100% desprezível. Incorporaram-no às reuniões em que são traçados os planos para aprovar o que Dilma necessita. Líder do partido do vice-presidente Michel Temer na Câmara, Cunha pode ajudar muito. Desfruta da confiança da grossa maioria de sua bancada. Mas espera que Dilma pare de ser um estorvo à sua pretensão de tornar-se presidente da Câmara a partir de fevereiro de 2015.


Nesta quarta-feira, Eduardo Cunha reuniu sua tropa para discutir a proposta que, na prática, deixará o governo livre da obrigação de ter que fazer economia de gastos para pagar os juros da dívida pública em 2014. Terminada a reunião, o deputado falou não sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias, mas sobre sua candidatura ao comando da Câmara. Foi como se fizesse questão de juntar as duas coisas. “A partir desse momento, minha candidatura é irremovível“, disse.


Um cacique do PMDB desenhou o quadro para o blog: “O governo vai precisar dialogar muito. E tem que fazer isso logo. O dia 31 de dezembro está mais próximo do que parece. Dilma não faz restrições à recondução de Renan Calheiros ao comando do Senado. Diante disso, querer barrar Eduardo Cunha na Câmara era uma esquisitice. Agora, é burrice.”


Outro morubixaba pemedebista declarou que nem só de Eduardo Cunha são feitas as inquietações do PMDB. “Quis o destino que as necessidades fiscais da presidente coincidissem com a fase de remontagem do governo. A Dilma terá de motivar os partidos, não o contrário.”


O analista do PMDB prosseguiu: “Na montagem do governo, o PT quer o Ministério de Minas e Energia, que hoje é do PMDB do Senado. O PT já tem 17 ministérios. E não abre mão de nada! O PT tem as melhores pastas: Educação, Saúde, Desenvolvimento Social, Fazenda, Planejamento… Seria bom compartilhar.”


A crise fiscal de Dilma é boa para quem precisa limpar reputações. Responsável pela nomeação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobas Paulo Roberto Costa, hoje um corrupto confesso, o PP acompanhava com preocupação as articulações do Planalto para retirar o Ministério das Cidades dos seus domínios, entregando-o a Gilberto Kassab, presidente do PSD. Hoje, o PP avalia que Dilma talvez não se anime a desafiá-lo. Uma deserção rumo às falanges oposicionistas pode representar a derrota do governo. “O partido não precisa nem se interessar em prejudicar o governo”, explicou um deputado da legenda. “Basta que se desinteresse de ajudar.”


O senador pernambucano Humberto Costa, combativo líder do PT, incluiu num discurso pronunciado nesta quarta-feira (12) algo muito parecido com uma ameaça. Disse que, sonegando a Dilma a alteração das regras do superávit fiscal, os congressistas podem esquecer as emendas que costumam pendurar no Orçamento da União para destinar verbas aos seus redutos eleitorais. Insinuou que esse dinheiro seria passado na lâmina pela Fazenda. Se fosse um personagem do famoso comercial de tevê, o senador ouviria: “Sabe de nada, inocente!”


A crise fiscal de Dilma deu novo alento às mais de duas centenas de deputados federais que não foram reeleitos no pleito do mês passado. Todos têm emendas orçamentárias pendentes de liberação. Já não esperavam ganhar nada. Perceberam que não têm nada a perder. O governo tem pressa em aprovar os ajustes na LDO. Seus aliados, nem tanto.

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