quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O mundo fala, o Brasil se cala - CLÓVIS ROSSI


FOLHA DE SP - 13/11

Proliferam, mundo afora, acordos comerciais até entre rivais,

 enquanto o governo Dilma se omite

Reuniões de cúpula como a do G20, neste próximo fim de semana, servem 

sobretudo para falar de negócios entre os governantes.

Pena que o Brasil de Dilma Rousseff tenha pouco ou nada a dizer a 

respeito nos encontros previstos com pesos-pesados como Vladimir Putin, 
Barack Obama e Xi Jinping.

Pouco porque todos vêm de suculentas conversas em outra cúpula, 

a da Apec, sigla em inglês para Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.

Com Putin, Dilma poderia falar da crise na Ucrânia, mas o Brasil 

não tem posição a respeito. Não é contra nem a favor da intervenção
 russa no país vizinho.

Com Xi, pode falar do banco dos Brics, um nada perto do que o 

líder chinês tratou com seus colegas da Apec e até com seu rival Obama.

Tratou, por exemplo, do relançamento da FTAAP 

(Área de Livre-Comércio Ásia-Pacífico), conglomerado de 21 países que
 representam 50% do PIB global e 44% do comércio planetário.

O Brasil, claro, está fora. Não é banhado pelo Pacífico. Mas também não

 tem acordos com os países banhados pelo Atlântico, exceto o 
cambaleante Mercosul.

Se a política externa brasileira tem um viés ideológico, no que prefiro

 não crer, então talvez Dilma possa aprender algo com Xi Jinping.

A China, como se sabe, é o único outro polo ideológico a contrapor-se

 ao capitalismo liberal americano com seu capitalismo de Estado.

Não obstante, assinou com Obama um acordo para liberalização do 

comércio de bens de tecnologia, que abrange algo em torno de US$
 1 trilhão em comércio, cerca de 45% do PIB brasileiro.

Será agora levado à Organização Mundial do Comércio, enquanto a 

Confederação Nacional da Indústria batalha, inutilmente, para que
 o Brasil 
entre no acordo, também em discussão na OMC, sobre liberalização do 
comércio de serviços.

É verdade que está prevista, paralelamente à cúpula do G20, uma 

reunião dos Brics, mas é puro cumprimento de tabela, como diriam os
 cronistas esportivos.

Se a China pode se entender com os EUA até em matéria de ambiente --

justamente eles, os dois maiores poluidores--, para que vai dar bola para 
os Brics, que, sem ela, perderiam todo o sentido?

A Índia, também dos Brics, não está parada: vai negociar, à margem do G20

, um acordo de livre-comércio com a anfitriã Austrália, que, aliás, 
também discute mecanismo idêntico com a China.

Até na área de segurança a Índia fala grosso, ao contrário do omisso 

Brasil: está relançando a chamada "Otan Asiática", aliança militar 
entre ela, Japão e Austrália.

Para ser justo, é preciso dizer que o Brasil também tenta estabelecer um 

mecanismo de defesa conjunta no âmbito sul-americano. Mas o avanço 
é lento, talvez porque a América do Sul tenha o mérito de não ter os
 problemas de segurança da Ásia e do Oriente Médio, por exemplo.

Numa triste compensação, tem sérios problemas com a criminalidade, 

que, se não for combatida em conjunto, não será derrotada.

Tudo somado, não há como deixar de citar o bordão do genial José Simão:

 quem fica parado é poste, cara Dilma.
 

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