quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Falta de pagamento: R$ 130 mi só na Saúde, afirma SindMédico



Crescem as dívidas com prestadores de serviço. Efeito é preocupante

jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br


Falta de médicos e de remédios, problemas em unidades de Terapia Intensiva, suspensão do fornecimento de alimentos, falhas na internet. Aos poucos, os problemas com a prestação de serviços da Saúde do DF se evidenciam. Estima-se que a lista de dívidas acumuladas com serviços prioritários já somam mais de R$ 130 milhões, segundo informações do Sindicato dos Médicos (SindMédico).


Ontem, a Sanoli, responsável pelas refeições de 16 hospitais e cinco unidades de Pronto Atendimento (UPAs), deixou de fornecer os alimentos aos acompanhantes dos pacientes.


A suspensão já afetava os funcionários, que agora têm de deixar os postos para se alimentar.


Como se não bastasse, funcionários terceirizados do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) receberam orientação da empresa Intensicare Gestão em Saúde para não receber novos pacientes nas UTIs.


O SindMédico    se reuniu com os funcionários para esclarecer que a orientação da gestora é ilegal.  O contrato    entre empresa e profissionais  não deveria prejudicar o funcionamento das UTIs, mesmo com a inadimplência da pasta.


A partir disso, os médicos “decidiram notificar a empresa de que entrarão com ação de rescisão indireta e devem se desligar da empresa na próxima semana”.


Diretor financeiro da prestadora de serviços, Renato Almeida revelou que as dívidas do GDF se estendem há meses. Apesar de não precisar o valor ou o tempo de espera, garantiu que há representantes da empresa goiana em Brasília para negociação.

Somando apenas a Sanoli e a Intensicare, a dívida do governo chega a R$ 42 milhões. O restante citado seria para compra de medicamentos e repasses ao Hospital da Criança.


DESACOMPANHADOS
“Os insumos existentes em nossos estoques, que já estavam escassos, não sendo sequer suficientes para atender à totalidade do serviço, estão chegando ao mínimo necessário para garantir o atendimento aos pacientes e acompanhantes, que representam a parcela mais significativa do contrato”, revelou a Sanoli, em carta enviada à Secretaria de Saúde.


Sem ter como conseguir recursos, a medida de ampliar a suspensão da comida aos acompanhantes é uma tentativa de manter as refeições aos pacientes internados. Mas a Sanoli avisa: não vai durar muito tempo. Espera-se que o governo pague os R$ 27,5 milhões que a empresa precisa para dar continuidade ao serviço.


Revolta em Ceilândia
No Hospital Regional de Ceilândia, a suspensão da alimentação causou revolta e motivou uma manifestação. Acompanhantes aproveitaram o acúmulo de lixo provocado pela greve dos garis, terminada ontem, para bloquear a rua em frente ao hospital. Os manifestantes atearam fogo em   lixo e em pneus. Segundo testemunhas, foram mais de 40 minutos de protestos. Apenas ambulâncias conseguiam passar. A via foi desobstruída cerca de uma hora depois pelos bombeiros.  A secretária Camila do Nascimento, 18, aguardava atendimento da mãe na Emergência quando a confusão começou.   “O protesto foi por causa da falta de comida, e tinha até enfermeiros no meio”, revelou.
Pausa para refeição deixa lacuna


Atualmente, profissionais e familiares têm de deixar os pacientes sozinhos para poder comer. Apressada, a costureira Maria Lúcia da Silva, 58, aproveitou que a sogra, de 89 anos, dormia  para fazer a primeira refeição do dia, às 12h. “A gente não pode largar a pessoa. Vou sair correndo para deixá-la   pelo menor tempo possível. Eu também preciso me alimentar, mas tenho que cuidar dela”, lamenta.


A professora Patrícia Amaral, 36, aproveitou que a mãe, de 68, entrou para a sala de cirurgia a fim de operar o fêmur, para almoçar. “Minha mãe é idosa, deficiente e depende da gente para tudo. Agora temos que largá-la sozinha para sair e comer. Hoje vou tranquila porque ela está sendo operada, mas não sei como será amanhã”, diz.


A situação também é complicada nas UPas. Em Sobradinho II, os funcionários têm de deixar os postos da emergência. O servidor Paulo Alves, 55, conta que nos 15 anos que trabalha para a saúde do DF, nunca viu algo parecido acontecer. “Isso é um absurdo”, reclama.


Saiba mais
A Secretaria de Saúde  informou   estar fazendo remanejamento orçamentário para quitar as dívidas, mas não esclareceu se haverá realocação de verba federal para suprir a demanda.


A pasta não confirmou nem negou o valor informado pelo SindMédico, de que a dívida com serviços prioritários passa dos R$ 130 milhões. Mas declarou que “os débitos existentes serão quitados até o fim do ano, assim como já sinalizou a área econômica do GDF”.


Versão oficial
A Secretaria de Saúde informou e o diretor da Intensicare confirmou que a conversa segue para o parcelamento da dívida. Até amanhã, devem ser repassados R$ 4,5 milhões e, até o fim da semana seguinte, mais R$ 10 milhões devem ser pagos. Apesar de os funcionários terem recebido ordens da empresa de não receber novos pacientes, a pasta garante que os locais estão funcionando normalmente e que ninguém será prejudicado. A pasta declarou, ainda, que a situação com a Sanoli deve ser normalizada nos próximos dias. Em nota, disse que o governo e a empresa entraram em acordo na última terça-feira   e foi repassado o valor de R$ 2,5 milhões. Até o fim da semana devem ser transferidos mais R$ 8 milhões para as prestadores de serviço.


Fonte: Da redação do Jornal de Brasília



1 Comentário
alex

Cadê o Ministério Público para intervir ??
4 Gostei0 Não gostei

Nenhum comentário: