terça-feira, 18 de novembro de 2014
João Vaccari Neto, o tesoureiro honorário do PT, operava todo o
esquema e continua ganhando R$ 20 mil mensais como conselheiro de
Itaipu. Cuidado com as turbinas!
Numa série de acordos e confissões de fraudes sem paralelo em
processos judiciais brasileiros, cinco delatores da Operação Lava-Jato
já se comprometeram a devolver R$ 423 milhões. As somas já estão
bloqueadas em contas no Brasil e no exterior, e a devolução aos cofres
públicos depende apenas de decisões judiciais burocráticas. Só o
ex-gerente Pedro Barusco, um dos supostos cúmplices do ex-diretor de
Serviços Renato Duque, firmou compromisso de devolver aproximadamente
US$ 100 milhões, algo em torno de R$ 253 milhões, segundo disse ao GLOBO
uma autoridade que acompanha o caso.
O valor é superior ao que a presidente Dilma Rousseff e o senador
Aécio Neves (PSDB) teriam gasto, cada um, durante a campanha eleitoral
deste ano. Dilma planejou despesas da ordem de R$ 300 milhões. Os gastos
de Aécio teriam ficado em torno de R$ 290 milhões. Trata-se também do
maior volume de recursos a ser devolvido a partir de acordos de delação
premiada no país. Até então, a maior quantia a ser devolvida por um
delator era a do ex-secretário de Assuntos Institucionais do Distrito
Federal Durval Barbosa, operador do mensalão do DEM. Dinheiro e bens a
serem devolvidos por Barbosa giram na casa dos R$ 100 milhões, conforme
cálculos do Ministério Público local.
A escalada de delações, associada à confissão de culpa e à devolução
de dinheiro desviado, começou com o ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras Paulo Roberto Costa. O ex-diretor entregou a estrutura de
corrupção em contratos de empreiteiras com a Petrobras e assumiu por
escrito o compromisso de devolver aproximadamente R$ 70 milhões. Desse
total, US$ 23 milhões (R$ 58 milhões) estão bloqueados em contas
bancárias na Suíça. Com o caminho aberto, o seu ex-cúmplice no esquema, o
doleiro Alberto Youssef, também decidiu confessar envolvimento com a
corrupção e entregar aproximadamente R$ 50 milhões.
Não demorou, o executivo Júlio Camargo, da Toyo Setal, decidiu fazer o
mesmo. O empresário concordou em pagar R$ 40 milhões a título de
ressarcimento dos cofres públicos e contar ao Ministério Publico como e
para quem pagou propina em troca de contratos com a maior estatal
brasileira. Augusto Ribeiro, outro executivo da Toyo Setal, dispôs-se a
pagar R$ 10 milhões e também complementar os relatos sobre os subornos
de dirigentes da Petrobras e de intermediários das negociatas.
Os procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato estavam cientes
da importância histórica dos valores a serem devolvidos pelos
delatores. Numa cartada emblemática, procuradores obtiveram o
compromisso de que Barusco devolverá aproximadamente US$ 100 milhões.
Parte do dinheiro, US$ 20 milhões, já está bloqueada em contas na Suíça.
Barusco é ligado a Renato Duque, que ocupou a diretoria de Serviços
da Petrobras até 2012 por indicação do PT. Barusco dediciu entregar o
dinheiro depois de terem sido denunciados por Camargo e Ribeiro.
“DEPOIMENTOS DETALHADOS”
“Com efeito, os depoimentos transcritos são bastante detalhados,
revelando pagamentos de propinas em diversas obras da Petrobras, como na
Repav, Cabiúnas, Comperj, Repar, Gasoduto Urucu Manaus, Refinaria
Paulínea, a Renato Duque e ainda a gerente da Petrobras de nome Pedro
Barusco, com detalhes quanto ao modus operandi e as contas no exterior
creditadas”, sustenta o juiz Sérgio Moro ao decretar a prisão de Duque e
outros 26 investigados na Lava-Jato, na semana passada.
Barusco só não foi preso porque decidiu colaborar com a Justiça e
devolver o dinheiro desviado. Os acordos de delação e devolução de
expressivas somas em espécie são resultado do trabalho de procuradores
da força-tarefa e de Sérgio Moro. Um dos procuradores, Carlos Fernando, e
Moro são especialistas na questão.
Paulo Roberto Costa decidiu abrir o jogo ao Ministério Público e à
Polícia Federal numa tentativa de evitar as prisões das filhas e dos
genros, também acusados de envolvimento com a movimentação de dinheiro
de origem ilegal. Segundo um de seus advogados, ele estava deprimido e
decidiu contar tudo e devolver o dinheiro como uma forma de libertação.
Alberto Youssef resistiu longamente, mas acabou decidindo colaborar
por pressão da mulher e da filha. Elas tinham receio de que o pai
tivesse destino parecido com o de Marcos Valério, o operador do mensalão
do PT. Valério foi condenado a mais de 40 anos de prisão. Os outros
cúmplices foram punidos com penas menores, e muitos deles já estão
soltos. Os outros delatores também começaram a contar o que sabem por
medo de permanecerem longos anos na cadeia. (O Globo)
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