18/11/2014
às 4:03
O
tempo passa, e as coisas só pioram na Petrobras e no Brasil. A
presidente Dilma se comporta como o último imperador romano, que, no fim
da linha, preferia cuidar de galinhas. Ocorre que esta senhora, que
encerra melancolicamente o seu mandato, terá mais quatro anos — caso
cumpra o calendário e não seja atropelada pela lei. A entrevista
concedida nesta segunda por Graça Foster, presidente da estatal,
evidencia que o governo perdeu o pé da situação. Raramente se viu soma
tão robusta de sandices. Para piorar, as denúncias chegam à atual
diretoria da empresa: segundo Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef,
José Carlos Cosenza, atual diretor de Abastecimento e substituto do
próprio Costa, também recebeu propina. Ele nega. E tudo pode sempre
piorar: surgiram sinais de que o esquema criminoso pode ter atuado
também na Eletrobras, cujas ações despencaram nesta segunda.
Obviamente,
não vou eu aqui afirmar a culpa de Cosenza. Denúncias precisam ser
provadas para que possam ter consequência penal. Ocorre que esse caso
tem mais do que a esfera puramente criminal. Será que a Petrobras
aguenta ter um alto membro da atual diretoria sob suspeita? Não é o mais
recomendável para uma empresa que não consegue divulgar números de seu
balanço trimestral e que já enfrenta sinais de que terá dificuldades
para se financiar no mercado externo em razão da falta de credibilidade.
Cosenza
estava ontem no evento-entrevista que Graça organizou, compondo a mesa
da diretoria da Petrobras. Que a roubalheira comeu solta na empresa —
seja ou não para financiar partidos —, isso já está comprovado. Um único
gerente, Pedro Barusco, fez acordo de delação premiada e aceitou
devolver US$ 97 milhões — o correspondente a R$ 252 milhões. Seu chefe,
no entanto, Renato Duque, homem de José Dirceu na empresa e ex-diretor
da cota do PT, afirma não saber de nada e se nega a colaborar com as
investigações. Assim, se formos nos fiar nas palavras de Duque, devemos
acreditar que seu subordinado conseguiu a proeza de amealhar R$ 252
milhões fazendo falcatruas às escondidas do chefe.
O processo
será longo. Estamos só no começo. Pensem, por exemplo, que o caso vai
mesmo esquentar quando aparecerem os nomes dos políticos, que estão se
acumulando lá o STF. Aí é que vocês verão a barafunda.
Desde o
começo da crise, tenho chamado atenção para o óbvio: por que a prática
seria diferente nas demais estatais se os atores são os mesmos, se a
política é a mesma, se os critérios são os mesmos? Surgiu o primeiro
elemento que pode indicar que os criminosos atuaram também na Eletrobras
— e sabe-se lá onde mais. A presidente brinca com o perigo.
Para
começo de conversa, deveria intervir já — e não mais tarde — na
Petrobras. Está na cara que Graça Foster perdeu a condição de presidir a
empresa. Cosenza tem de ser afastado não porque esteja comprovada a sua
culpa, mas porque a estatal não pode conviver com desconfiança.
Evidenciada a sua inocência, que volte.
Um mês
Vejam vocês: hoje, 18 de novembro, faz exatamente um mês que Dilma admitiu pela primeira vez a possibilidade de haver desvios na Petrobras. E ainda o fez daquele modo rebarbativo. Disse então: “Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve, viu?”. Até o dia anterior, ela atribuía as críticas aos desmandos na empresa à pressão dos que quereriam privatizá-la.
Vejam vocês: hoje, 18 de novembro, faz exatamente um mês que Dilma admitiu pela primeira vez a possibilidade de haver desvios na Petrobras. E ainda o fez daquele modo rebarbativo. Disse então: “Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve, viu?”. Até o dia anterior, ela atribuía as críticas aos desmandos na empresa à pressão dos que quereriam privatizá-la.
Dilma terá
dias bem difíceis pela frente. O show de horrores está só no começo.
Imaginem quando começarem a sair do armário os esqueletos das contas
secretas no exterior, onde foi depositada parte da propina. Uma única
conta de Barusco da Suíça teve bloqueados US$ 20 milhões. Na delação
premiada, Youssef se prontificou a ajudar a PF a chegar inclusive a
contas que pertenceriam ao PT. Se elas existem ou existiram, a cobra vai
piar.
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