Blog do Josias de Souza
Josias de Souza
Candidato favorito à presidência da Câmara, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) antevê um futuro turvo para o Congresso. Considera inevitável a abertura de uma nova CPI em 2015, para apurar os desdobramentos da Operação Lava Jato. Em entrevista ao programa Canal Livre, da Band, ele indagou na noite passada:
“Alguém tem dúvidas de que esse escândalo é um escândalo que ainda vai ter filhotes por muitos anos? É uma situação absolutamente inédita. Você chegou a um nível de corrupção [...] que nós não tivemos conhecimento em nenhum outro momento da história do país.”
Líder do PMDB na Câmara, Cunha disse que seu partido não será o proponente da nova CPI. Mas irá apoiá-la. Avalia que a futura comissão de inquérito pode ter desfecho bem diferente das atuais CPIs da Petrobras. “Ninguém controla CPI se tiver fatos que sejam relevantes, que extrapolem os limites.”
Afirma que, se for eleito para comandar a Câmara, zelará para que os prováveis pedidos de cassação de petro-deputados tenham uma tramitação regular, conforme previsto na Constituição e no regimento interno da Casa.
Perguntou-se a Eduardo Cunha por que o governo de Dilma Rousseff tem horror à sua pretensão de comandar a Câmara. “Aí é o governo que tem que se manifestar”, ele desconversou. Disse estar “tentando construir uma candidatura que valorize a independência do Parlamento”, não uma postulação “de oposição”.
Não receia que o Planalto deflagre uma grande ofensiva para retirá-lo da disputa? “É um equívoco querer tratar o processo desse jeito”, disse o deputado. “Até porque nós saímos de uma eleição [presidencial] bastante conflagrada, a base governista é um pouco menor, mais dividida.”
Num timbre que roçou a ameaça, Eduardo Cunha lembrou que o governo terá muitas “demandas” no Legislativo. Citou o projeto orçamentário que Dilma enviou na semana passada ao Congresso. Nele, a presidente reivindica, na prática, autorização para fechar as contas do Tesouro de 2014 no vermelho, descumprindo a meta oficial de superávit fiscal.
“…Estamos com a discussão da meta do superávit primário agora. É um tema delicado, que todos vão ter que, de uma certa forma, encontrar uma cooperação. E várias outras atividades ou demandas parlamentares vão acontecer”, disse Eduardo Cunha, antes de indagar:
“O governo vai fazer uma disputa dentro da sua própria base, para tentar derrotar uma candidatura do líder do PMDB, que continuará líder do PMDB no primeiro dia depois da eleição?” Ele completou:
“Acho que o PT ou qualquer outro que quiser ter candidato, isso é normal, é da democracia. O voto resolve qualquer problema. Outra coisa é o governo interferir e jogar pesado para tentar desbalancear a disputa.”
O PMDB vai ajudar a aprovar a manobra fiscal? “Veja bem, é muito complicado. Mas nós somos obrigados a nos render à gravidade”, disse o deputado. “Estamos na seguinte situação: o fato já aconteceu. E as consequências do fato serão gravíssimas, porque o governo nao terá alternativas até 31 dezembro. Ou flexibiliza a meta [de superávit fiscal] ou vai ter que cumprir a meta na marra.”
Como assim? “Cumprir a meta na marra vai ser suspender todos os repasses e todos os pagamentos. Isso vai ter repercussão nos Estados, porque os repasses são receitas de Estados e municípios. [...] Não vamos faltar porque é grave essa situação. Embora entendamos que a situação, por ser grave, merece que seja mostrada com toda a transparência e que sejam criados instrumentos para que, no futuro, isso não possa ser repetido.”
Na semana passada, o líder do PT no Senado, Humberto Costa, dissera que o governo será forçado a cortar a liberação de verbas para as bases eleitorais dos congressistas se a proposta da manobra fiscal não for aprovada. Instado a comentar, Eduardo Cunha bateu:
“[...] Foi uma inabilidade enorme. Nós não precisamos ameaçar ninguém. Tem que mostar a gravidade e a saída que tem que ter. Acho que nós temos que ter a maturidade para chegar e dizer para a sociedade. Eles têm que mostrar o que aconteceu [com as contas públicas] com toda a transparência. Sou favorável a que a conta seja toda mostrada.”
A certa altura, perguntou-se a Eduardo Cunha por que o PMDB está eternamente insatisfeito com o governo. Afinal, o que os deputados do partido querem que o governo não dá?
E ele: “no primeiro mandato [de Dilma], o PMDB não participava praticamente do governo —ministérios risíveis, toda a máquina de baixo era petista. Então, havia uma queixa disso. Tanto que nós, da bancada da Câmara, quando houve substituição de ministros, abrimos mão de indicar os nomes dos ministros que se desincompatibilizaram dos cargos. E ficamos independentes, sem indicar ministro nenhum.”
E quanto ao segundo mandato, a bancada da Câmara indicará ministros? “Os deputados não quiseram indicar ministros mais. Então, tem que começar a relação. Ou você é governo, está dentro do governo e participa do governo da forma como tem que participar ou não precisa participar.”
- Serviço: você pode assistir à entrevista de Eduardo Cunha aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
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