segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Clube VIP das empreiteiras que roubavam a Petrobras para terem
mais lucro e corromper políticos lembra a clássica cena da reunião da
"família" de Don Corleone, em O Poderoso Chefão.
A alta cúpula das empreiteiras tem participação direta no cartel dos fornecedores da Petrobras investigado na Operação Lava-Jato. O “clube”, apelido dado pelos próprios integrantes, tinha coordenador, reuniões periódicas e até uma divisão interna, onde apenas as gigantes (Camargo Corrêa, UTC, OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez) eram “VIP”. Segundo o executivo Julio Camargo, da Toyo Setal, que colabora com as investigações, esse grupo tinha poder sobre os demais integrantes do cartel e agia de forma conjunta “até o limite da persistência” para fazer valer suas vontades.
Para desvendar o funcionamento do cartel foram fundamentais os
relatos de dois delatores que faziam parte dele. Os executivos da Toyo
Setal Julio Camargo e Augusto Ribeiro de Mendonça Neto contaram como
eram feitas as negociações entre os altos dirigentes das empresas e os
ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato de Souza Duque,
ambos presos na operação.
Depoimentos de Costa, que também virou delator
e está em prisão domiciliar, e do doleiro Alberto Youssef, outro em
colaboração premiada, ajudaram a reforçar as acusações contra os
empreiteiros. Além disso, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal,
considerou que os pagamentos milionários a empresas de fachada do
esquema corroboram o envolvimento dos altos executivos
Presidente da UTC Engenharia, Ricardo Ribeiro Pessoa era quem fazia a
organização do cartel. Ele e Youssef eram próximos. Uma troca de
mensagens entre ambos, em 31 de dezembro ressalta essa amizade. Às
23h01m, Youssef escreve: “Amigo Ricardo que 2014 você e família realize
(sic) todos os desejos e projetos com muita saúde paz amor felicidade
prosperidade bjo no seu coração do seu primo”. E, às 23h57, Ricardo
responde: “Amigo Primo. Queria lhe agradecer pela parceria e lealdade.
Desejo para você e sua família o maior sucesso e muitas felicidades e
muita saude em 2014. Grande abraco. Ricardo.”
REUNIÕES NA QUEIROZ GALVÃO
A Camargo Corrêa teve três integrantes da alta cúpula presos: o
presidente, Dalton dos Santos Avancini, o presidente do conselho, João
Ricardo Auler, e o vice-presidente Eduardo Ermelino Leite. O presidente
da empresa assinou contrato com uma empresa de fachada para repassar R$
2,8 milhões a Costa depois deste deixar a estatal. Auler foi citado por
Youssef como um contato seu na Camargo Corrêa e assinou contrato da
refinaria Abreu e Lima com indícios de superfaturamento. Leite também é
mencionado como integrante do cartel.
O presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, foi citado pelos
quatro delatores como integrante do esquema. O vice-presidente da
empreiteira Agenor Franklin Magalhães Medeiros teve a atuação no esquema
citada por Youssef. O vice-presidentes da Mendes Júnior Sérgio Cunha
Mendes, citado por Youssef, aparece numa planilha de Costa como
“disposto a colaborar” e assinou um contrato pela Mendes Júnior
resultante de uma licitação em que o ex-diretor da Petrobras disse ter
ocorrido acerto prévio.
Gerson de Mello Almada, vice-presidente da
Engevix, foi citado pelos delatores como representante da empresano
cartel. Valdir Lima Carreiro, diretor-presidente da Iesa assinou
contrato de fachada com a Costa Global, de Paulo Roberto Costa, para
repassar dinheiro ao ex-diretor.
Várias reuniões dos empreiteiros foram realizadas na sede da Queiroz
Galvão, no Rio de Janeiro. Em nota, a empresa “reitera que todas as suas
atividades e contratos seguem rigorosamente a legislação e está à
disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos
necessários”. A Andrade Gutierrez disse não ter acesso ao teor das
declarações prestadas e “reafirma que não tem ou teve qualquer
envolvimento com os fatos relacionados com as investigações em curso”.
A
Camargo Corrêa “repudia acusações sem comprovação, vazadas de forma
seletiva, que impedem qualquer possibilidade de defesa”. A Mendes Júnior
informou que não se pronuncia sobre inquéritos em andamento. A
Odebrecht “nega veementemente ter feito qualquer tipo de pagamento para
executivos ou políticos para obter contratos com a Petrobras” e “repudia
afirmações caluniosas feitas em suposta delação premiada”. As demais
assessorias não responderam aos questionamentos. (O Globo)
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