quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ONG prevê plantio de 1 milhão de mudas para iniciar recuperação do Cantareira


IG

Por David Shalom – iG São Paulo |


Especialistas são unânimes em dizer que, sem recuperação florestal, chuvas não são suficientes para recuperar reservas

Um milhão de mudas para o Sistema Cantareira. É a proposta de um novo programa lançado nesta semana pela ONG Fundação SOS Mata Atlântica, cujo objetivo é iniciar um processo de reflorestamento para de fato começar a recuperar os reservatórios que fazem parte do maior sistema de abastecimento hídrico da América Latina, atualmente responsável por prover água a 6,5 milhões de pessoas em São Paulo.

AFP
Erosão no solo de um dos reservatórios do sistema, que abastece 6,5 milhões de pessoas

"Quando falamos da seca, os governantes sempre batem na tecla das grandes obras, das transposições, das construções de mais sistemas e reservatórios. 


Talvez essas ações sejam necessárias, mas precisamos começar cuidando do que já existe", diz ao iG Rafael Fernandes, coordenador de Restauração Florestal da ONG. "Tratamos muito mal a água no Brasil. Toda cidade do País tem um riozinho ou um córrego que normalmente está poluído. Temos de mudar isso."


O projeto bate de frente com todos os discursos enaltecidos pelo governo paulista e pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) ao longo do ano para justificar a crise atual. 


Segundo eles, somente a falta de chuvas em 2014, já prevista desde o ano passado, seria a responsável pela ausência de água na região. Não que ela não tenha sua parcela de culpa, mas o fato de os primeiros temporais de novembro não terem tido capacidade para controlar a queda do Cantareira e de outros sistemas provou que a recuperação dos reservatórios vai muito além da pluviometria.


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"A comunidade científica é unânime em ressaltar a necessidade de um mínimo de mata nativa em propriedades de Áreas de Preservação Permanentes [APPs] ao longo dos rios. É possível, necessário e urgente recuperar a Mata Atlântica, pois temos bons avanços em técnicas de restauração. Além disso, sem as florestas não só não chove como, quando chove, os reservatórios não são afetados", diz Leandro Tavares Azevedo Vieira, doutor em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor de Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.


"Nova York também passou por um problema de abastecimento recentemente e em vez de fazerem reservatórios ou outras obras paliativas, como o governo paulista tem feito, a cidade investiu na proteção das áreas das nascentes que já a abasteciam. E é o que precisamos fazer."

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