Política
EL Clarin
Eleonora Gosman, correspondente no Brasil
Durante
rápida viagem a Brasilia, o ministro da Economia, Axel Kicillof, e o
chefe de Gabinete da Presidência argentina Jorge Capitanich negociaram
empréstimos na soma de US$ 1,5 bilhão, segundo fontes. Eles também
buscaram apoio para chegar a um acordo com os chamados fundos abutres.
Em contrapartida, o governo brasileiro quer o fim das barreiras
comerciais impostas pela Argentina.
Buenos Aires 03 de dezembro de 2014
O ministro Axel Kicillof e o chefe da Casa Civil, Jorge Capitanich, que aterrissaram na sexta-feira passada na hora do almoço em Brasília para uma brevíssima visita, tinham um objetivo: pedir aos seus colegas brasileiros que apressassem a liberação de um crédito do BNDES, de US$ 1,5 bilhão, para obras da linha de trem Sarmiento, da Argentina.
O pedido contou com a “compreensão” brasileira. Mas os ministros da presidente Dilma, entre eles o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, pediram em troca um ponto final às DJAI (declarações juramentadas de importação) que barram as exportações brasileiras.
As autoridades argentinas querem conseguir um fazer um anúncio concreto pelos empréstimos com a presença de Dilma Rousseff junto com Cristina Kirchner durante a reunião do Mercosul, que será realizada nos dias 16 e 17 na cidade de Paraná, na Argentina.
Um novo encontro, marcado para sexta-feira da semana que vem também em Brasília, permitiria avançar nessa direção.
O destino do empréstimo seria, na verdade, a construtora Odebrecht, que desde o fim de 2013 encabeça o consórcio Nuevo Sarmiento integrado, entre outros, por uma firma argentina e outra italiana. Por contrato, o governo argentino deveria desembolsar US$ 1,5 bilhão.
Segundo fontes brasileiras, durante a reunião no Palácio do Planalto – em que também estiveram presentes o vice-ministro da Fazenda, Paulo Caffarelli, e o assessor internacional Marco Aurélio Garcia – as autoridades brasileiras teriam expressado uma boa predisposição para agilizar a questão. Mas deixaram claro que, como em toda negociação, isso exigirá contrapartidas. E esta seria, basicamente, a eliminação das barreiras comerciais que explicam, em alguma medida, a queda do fluxo comercial entre ambos os países.
Fontes vinculadas com as gestões das autoridades argentinas vazaram que teria se falado dos “fundos abutres” e do impacto sobre os problemas de pagamento da Argentina. Algo que, de acordo com os brasileiros, “dá para entender”.
No Brasil se sabe que enquanto esse litígio com os “holdouts” estiver vigente os argentinos terão grandes dificuldades para realizar pagamentos no exterior. Há algum tempo se especula com a possibilidade de que empresas brasileiras detentoras de bônus da dívida argentina possam comprar a dívida com os “abutres”, mas no Brasil até agora ninguém falou sobre a possibilidade dessa saída.
O governo de Dilma insistirá em que a Argentina precisa acabar com “as barreiras à entrada de produtos brasileiros, como as DJAI”. Foi o que informou ontem o jornal econômico paulista Valor. Marcou, também, como outra prioridade, a definição das regras para o comércio de veículos.
Uma questão que pode “empacar” as negociações dos créditos para as obras do Sarmiento são as novas regras do jogo que Dilma pretende estabelecer em relação a créditos para grandes empresas. Ao ser designado ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto falou sobre o assunto: “As grandes empresas devem buscar fundos em outras fontes”, disse. E acrescentou que “o BNDES não pode suportar por sua exclusiva conta a demanda de investimentos e créditos”.
Essa é a tese defendida pelo novo ministro de Fazenda, Joaquim Levy, que disse às grandes companhias que fossem ao mercado de capitais para conseguir dinheiro para financiamentos.
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