Em sua coluna de hoje no GLOBO, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreve logo no começo: “A
reeleita possivelmente saboreie o êxito com certo amargor. É
indiscutível a legalidade da vitória, mas discutível sua legitimidade. O
que foi dito durante a campanha eleitoral não se compaginava com a
realidade”.
Não dá para compreender esse tipo de
concessão à presidente Dilma. Como FHC pode afirmar que a vitória foi
legal e que isso é indiscutível, quando o povo brasileiro ainda aguarda o
resultado da auditoria nas urnas eletrônicas, sob suspeita? Aliás, em
que pé isso está, já que ninguém mais fala do assunto?
Como FHC pode garantir que o resultado
foi legal e que isso é indiscutível, se há denúncias que apontam uso de
propina no financiamento de campanha? Caso fiquem comprovadas, isso não
anula a legalidade do pleito e abre inclusive espaço para um eventual
impeachment?
Será que Fernando Henrique não soube do
que os Correios fizeram em Minas Gerais, atuando como braço partidário
do PT? E isso não coloca em xeque a legalidade da vitória? Por que,
então, FHC banca o juiz de forma precipitada e oferece seu aval de que
não há espaço para discussão sobre a legalidade da vitória?
Em seguida, confundindo novamente ser um
cavalheiro com fazer concessões indevidas, Fernando Henrique diz que a
legitimidade sim, pode ser discutida. Não pode! Aqui não há margem para
dúvidas: a vitória não goza de legitimidade coisa alguma!
Afinal, que legitimidade pode ter uma
vitória cuja campanha foi a mais sórdida da história, fazendo terrorismo
eleitoral com os mais ignorantes e carentes, mostrando vídeos em que a
comida desaparecia do prato caso os “banqueiros” fossem eleitos,
espalhando os rumores de que o Bolsa Família iria acabar se o PT não
vencesse?
A vitória de Dilma foi claramente
ilegítima, pelo abuso da máquina estatal, pela campanha difamatória
abjeta, pela compra escancarada de votos, pelo estelionato eleitoral
agora evidente. Não é algo passível de discussão, ao contrário do que
sugere Fernando Henrique.
Por fim, FHC aderiu de vez ao
“presidenta”, algo incompreensível, e ainda afirma que Dilma é sincera,
enquanto o povo brasileiro responsabiliza a presidente diretamente
pelo escândalo da Petrobras, como mostra o Datafolha. Escreve o ex-presidente tucano:
“A
presidenta Dilma, mulher sincera, ciosa de suas opiniões, terá
condições para se transmutar em andorinha da mensagem execrada por ela e
sua grei? A nova equipe econômica terá esse perfil ou se isolará no
tecnicismo?”
“Mulher sincera”, diz FHC. Com base em
quê? Dilma foi sincera na campanha, por acaso? Foi sincera quando tentou
passar a ideia aos leigos de que era ela quem estava investigando os
“malfeitos” na Petrobras? Dilma foi sincera quando respondeu com o
silêncio à pergunta sobre o que achava do julgamento do mensalão? Que
sinceridade toda é essa que FHC capta em Dilma?
Se é algum tipo de ironia fina do
ex-presidente, acho que errou feio o alvo. Por essas e outras os tucanos
são acusados por alguns de oposição covarde. Nunca vão aceitar que
perderam o posto de partido de esquerda, apesar de serem exatamente
isso? Vão sempre tentar ficar “bem na foto” com os petistas, que jogam
sujo e fazem o “diabo” para vencer? Por que tantas concessões absurdas a
quem quer te destruir?
Rodrigo Constantino
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