06/12/2014 20h09
Encontro no FMI discutiu saídas para baixo desempenho da América Latina.
Brasil foi citado como um dos países que mais carecem de mudanças.
Diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, durante evento em Santiago (Foto: Tais Laporta/G1)
O rumo da nova política econômica, pautada pelo ajuste fiscal, rendeu elogios, mas também muitas interrogações durante o encontro promovido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta sexta-feira (5) e sábado (6), em Santiago, na capital chilena.
O consenso é de que as estratégias que antes funcionavam devem ser substituídas. Seja qual for o caminho para o “gigante” voltar a crescer, ele será lento e tortuoso, concluíram os especialistas.
Para a secretária-executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), Alicia Bárcena, o Brasil está entre os países com muito pouco espaço para retomar o desenvolvimento, com alta inflação e necessidade de cortes de gastos e aumento das taxas de juros.
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“A solução para voltar a crescer é heterogênea entre os países [da
América Latina]. Alguns deles quase não têm margem [para encontrar uma
solução de crescimento] neste momento, acredita.O fortalecimento do comércio regional entre o Brasil e países como Chile, Colômbia e Peru, seria extremamente benéfico neste momento, acredita Alícia. Hoje, a América Latina exporta 19% do que produz para as nações da região, enquanto a Europa consome 60% do que vende globalmente.
Na sexta-feira, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, comparou os blocos econômicos do continente a uma ‘lasanha’, afirmando que suas muitas camadas e diferenças afetam o sabor do prato. Outro ponto amplamente discutido no encontro foi a disparidade de renda.
A professora de economia latino-americana da Universidade de Tulane, Nora Lustig, disse ao G1 que o Brasil deve buscar novas alternativas para reduzir a desigualdade, em período de ajuste fiscal. “Ampliar o acesso à educação pode ser um fator importante neste momento, além de programas sociais como Bolsa Família e Brasil sem Miséria”, diz.
Nora também viu um cenário desafiador para o mercado de trabalho do país, diante do contexto desfavorável para a economia. A queda no preço das matérias-primas – o Brasil é um grande exportador de minério de ferro, por exemplo – pode afetar o mercado, uma vez que não dá sinais de ser revertida tão cedo, avalia.
Mais cedo, o subsecretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros, sugeriu que o modelo que sustentou a redução da desigualdade de renda no Brasil precisa ser substituído pelo “aumento da produtividade”.
Segundo o economista, este novo esforço deve ser concentrado nas micro e pequenas empresas, que seriam as mais vulneráveis neste aspecto. “Precisamos pensar não na produtividade da elite [corporativa] em nossa economia, mas na camada que está no meio, principalmente em serviços”.
O programa de ajuste fiscal anunciado pelo futuro ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy recebeu elogios da chefe do FMI durante o evento. “Estou certa de que [o Brasil] está aplicando políticas fiscais sólidas que estão dentro do seu alcance, introduzindo as reformas estruturais necessárias”, disse Lagarde.
Levy estabeleceu uma meta de superávit – economia para pagar os juros da dívida pública - de 1,2% do PIB para 2015, depois que o Brasil apresentou déficit primário recorde no mês de outubro, de R$.
PIB da América Latina desacelera
Em 2014, o FMI projeta um crescimento de apenas 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para o Brasil, o terceiro pior da América Latina. O país só crescerá mais que a Venezuela, que deve encolher 3%, e a Argentina, que tem redução esperada de 1,7%, segundo o último relatório do órgão, divulgado em outubro.
Na outra ponta, países menos desenvolvidos terão os melhores resultados da região. Bolívia, Colômbia e Paraguai devem se destacar, com o PIB avançando acima de 4%. Na média, a América Latina deve crescer 1,3% este ano, enquanto a economia global, 3,3%, segundo projeta o FMI.
Perto da média anual de 4,8% de crescimento, alcançada entre 2003 e 2012, o continente está em evidente desaceleração. A queda no preço das matérias-primas (commodities), principais produtos de exportação de muitos países latino-americanos, foi um dos motivos deste novo cenário desfavorável para a região.
Outro fator que pesa contra a região, segundo o FMI, foi a retirada dos estímulos monetários do banco central norte-americano da economia dos Estados Unidos, o que favoreceria fuga de investimentos e volatilidade nos emergentes.
Mas a Venezuela e Argentina devem encolher por situações particulares em suas economias. O país governado por Nicolás Maduro enfrenta uma inflação que já superou os 60% em um ano, além da escassez de produtos básicos, após tentativas de congelamento de preços. A inflação foi a maior da América Latina em 2013, de 56,2%.
O aumento de preços na Argentina, por sua vez, acumulou 21,4% entre janeiro e outubro, mais que o dobro dos 10,4% previstos para todo o ano. Sua produção industrial caminha para baixo pelo décimo quinto mês seguido.
Enquanto isso, o país enfrenta uma batalha judicial com os Estados Unidos que o impede de pagar sua dívida a credores.
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