domingo, 7 de dezembro de 2014

Economistas veem 'grandes desafios' para o Brasil voltar a crescer


  06/12/2014 20h09

Encontro no FMI discutiu saídas para baixo desempenho da América Latina.
Brasil foi citado como um dos países que mais carecem de mudanças.

Taís Laporta Do G1, em Santiago (Chile)
diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde (Foto: Tais Laporta/G1)Diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, durante evento em Santiago (Foto: Tais Laporta/G1)
Além de ajudar a definir o fraco desempenho da América Latina em 2014, o Brasil tornou-se exemplo de cautela para os países vizinhos que ainda prosperam, apontaram economistas das principais entidades e órgãos que estudam o desenvolvimento da América Latina.

O rumo da nova política econômica, pautada pelo ajuste fiscal, rendeu elogios, mas também muitas interrogações durante o encontro promovido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta sexta-feira (5) e sábado (6), em Santiago, na capital chilena.


O consenso é de que as estratégias que antes funcionavam devem ser substituídas. Seja qual for o caminho para o “gigante” voltar a crescer, ele será lento e tortuoso, concluíram os especialistas.


Para a secretária-executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), Alicia Bárcena, o Brasil está entre os países com muito pouco espaço para retomar o desenvolvimento, com alta inflação e necessidade de cortes de gastos e aumento das taxas de juros.


“A solução para voltar a crescer é heterogênea entre os países [da América Latina]. Alguns deles quase não têm margem [para encontrar uma solução de crescimento] neste momento, acredita.

O fortalecimento do comércio regional entre o Brasil e países como Chile, Colômbia e Peru, seria extremamente benéfico neste momento, acredita Alícia. Hoje, a América Latina exporta 19% do que produz para as nações da região, enquanto a Europa consome 60% do que vende globalmente.

Na sexta-feira, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, comparou os blocos econômicos do continente a uma ‘lasanha’, afirmando que suas muitas camadas e diferenças afetam o sabor do prato.  Outro ponto amplamente discutido no encontro foi a disparidade de renda.


A professora de economia latino-americana da Universidade de Tulane, Nora Lustig, disse ao G1 que o Brasil deve buscar novas alternativas para reduzir a desigualdade, em período de ajuste fiscal. “Ampliar o acesso à educação pode ser um fator importante neste momento, além de programas sociais como Bolsa Família e Brasil sem Miséria”, diz.
Nora também viu um cenário desafiador para o mercado de trabalho do país, diante do contexto desfavorável para a economia. A queda no preço das matérias-primas – o Brasil é um grande exportador de minério de ferro, por exemplo – pode afetar o mercado, uma vez que não dá sinais de ser revertida tão cedo, avalia.


Mais cedo, o subsecretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros, sugeriu que o modelo que sustentou a redução da desigualdade de renda no Brasil precisa ser substituído pelo “aumento da produtividade”.

Segundo o economista, este novo esforço deve ser concentrado nas micro e pequenas empresas, que seriam as mais vulneráveis neste aspecto. “Precisamos pensar não na produtividade da elite [corporativa] em nossa economia, mas na camada que está no meio, principalmente em serviços”.


O programa de ajuste fiscal anunciado pelo futuro ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy recebeu elogios da chefe do FMI durante o evento. “Estou certa de que [o Brasil] está aplicando políticas fiscais sólidas que estão dentro do seu alcance, introduzindo as reformas estruturais necessárias”, disse Lagarde.

Levy estabeleceu uma meta de superávit – economia para pagar os juros da dívida pública - de 1,2% do PIB para 2015, depois que o Brasil apresentou déficit primário recorde no mês de outubro, de R$.

PIB da América Latina desacelera
Em 2014, o FMI projeta um crescimento de apenas 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para o Brasil, o terceiro pior da América Latina. O país só crescerá mais que a Venezuela, que deve encolher 3%, e a Argentina, que tem redução esperada de 1,7%, segundo o último relatório do órgão, divulgado em outubro.



Na outra ponta, países menos desenvolvidos terão os melhores resultados da região. Bolívia, Colômbia e Paraguai devem se destacar, com o PIB avançando acima de 4%. Na média, a América Latina deve crescer 1,3% este ano, enquanto a economia global, 3,3%, segundo projeta o FMI.

Perto da média anual de 4,8% de crescimento, alcançada entre 2003 e 2012, o continente está em evidente desaceleração. A queda no preço das matérias-primas (commodities), principais produtos de exportação de muitos países latino-americanos, foi um dos motivos deste novo cenário desfavorável para a região.

Outro fator que pesa contra a região, segundo o FMI, foi a retirada dos estímulos monetários do banco central norte-americano da economia dos Estados Unidos, o que favoreceria fuga de investimentos e volatilidade nos emergentes.

Mas a Venezuela e Argentina devem encolher por situações particulares em suas economias. O país governado por Nicolás Maduro enfrenta uma inflação que já superou os 60% em um ano, além da escassez de produtos básicos, após tentativas de congelamento de preços. A inflação foi a maior da América Latina em 2013, de 56,2%.

O aumento de preços na Argentina, por sua vez, acumulou 21,4% entre janeiro e outubro, mais que o dobro dos 10,4% previstos para todo o ano. Sua produção industrial caminha para baixo pelo décimo quinto mês seguido.


Enquanto isso, o país enfrenta uma batalha judicial com os Estados Unidos que o impede de pagar sua dívida a credores.

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