domingo, 7 de dezembro de 2014

Modelo que reduziu desigualdade precisa mudar, diz Ricardo Paes de Barros


  06/12/2014 18h20


‘Saída para manter conquistas passa por produtividade’, acredita.
Economistas defenderam formalidade, educação e tributação como soluções.


Taís Laporta Do G1, em Santiago (Chile)
Ricardo Paes de Barros durante evento do Fundo Monetário Internacional em Santiago,  no Chile (Foto: Tais Laporta/G1)Ricardo Paes de Barros durante evento do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Santiago, no Chile (Foto: Tais Laporta/G1)
 
 
 
O modelo que sustentou a redução da desigualdade de renda na última década precisa ser abandonado e substituído pela produtividade, afirmou neste sábado (06) o subsecretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros, durante evento do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Santiago, capital chilena.


De acordo com o especialista em políticas públicas, os milhões de brasileiros que saíram da linha de pobreza entre 2003 e 2012, beneficiados por programas sociais e pela conjuntura econômica, correm o risco de “não ir para frente” na próxima década, caso o país não avança em novas ideias para reduzir a distância entre ricos e pobres.


O economista vê urgência em mudanças. “A pior coisa para a política social brasileira é ela se cristalizar e dizer que o que foi feito é imutável e não podemos mexer”, afirmou, sem citar o programa Bolsa Família.


A solução, segundo ele, passa pelo aumento da produtividade. “Sem ela, a locomotiva do país pode partir deixando para trás um vagão”, afirmou, comparando a parte do trem à camada que teve acesso ao mercado de consumo.


Entre 2003 e 2011, 48,7 milhões de pessoas ingressaram nas classes A, B e C no Brasil, mostrou uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Somente na classe C, os novos integrantes somaram quase 40 milhões, um aumento de 46,57%.


Na América Latina, a evolução foi semelhante. Os números da pobreza absoluta na região caíram mais de 10 pontos percentuais entre os anos de 2002 e 2010, tirando mais de 55 milhões de pessoas da linha da pobreza, segundo dados do Banco Mundial.


Disparidades no setor produtivo


Para Paes de Barros, o problema do país não é a baixa produtividade, mas a disparidade no setor produtivo. A área de serviços, por exemplo, tem uma produtividade “ridiculamente baixa” no Brasil, segundo o economista.


O esforço, diz o subsecretário, deve ser concentrado nas micro e pequenas empresas, por serem mais vulneráveis. “Precisamos pensar não na produtividade da elite [corporativa] em nossa economia, mas na camada que está no meio, principalmente em serviços”.


O vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Santiago Levy Algazi, afirmou que a alta taxa de informalidade é um dos principais pontos a serem combatidos para evitar o aumento de uma distribuição de renda desigual.


“Cerca de 55% da força de trabalho na América Latina se concentra no mercado informal. A informalidade é a normalidade, um obstáculo importante para o crescimento”, afirmou defendeu durante o evento do FMI.


No Brasil, contudo, a redução da informalidade não ajudou a aumentar o nível de produtividade, disse Paes de Barros. “Aumentar a formalidade é importante, mas o Brasil provou que só isso não é suficiente [para reduzir a desigualdade]”.



Transferência de renda e impostos
Outra reforma necessária para uma distribuição de renda igualitária, além do aumento do salarial entre as camadas mais baixas, segundo o subsecretário da Presidência, passa pelo aperfeiçoamento do sistema de transferência de renda, a exemplo do que fez a França.



Paes de Barros propôs um sistema em que o trabalho no setor formal não reduz as transferências do governo, de forma que os beneficiários sociais não sejam cortados de quem ingressar no mercado de trabalho.



A cobrança de mais impostos sobre os mais ricos, defendida pelo economista francês Thomas Piketty, que esteve no Brasil para promover o livro “Capital no século XXI”, foi ecoada pela diretora executiva da Oxfam International, Winnie Byanyima. “Uma das formas mais efetivas de reduzir a desigualdade é cobrar impostos de forma progressiva e justa”, afirmou durante o evento em Santiago.



Nora Lustig durante evento do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Santiago, no Chile (Foto: Tais Laporta/G1)Nora Lustig durante evento do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Santiago, no Chile 
 
 
 
Capital humano
Apesar da menor distância entre ricos e pobres, a América Latina permanece entre as regiões mais desiguais do planeta, de acordo com o FMI. A renda do trabalhador latino cresceu acima de 25% desde o ano 2000. Por outro lado, cerca de 80 milhões de pessoas permanecem na linha de pobreza e 40% da população da região corre o risco de retornar à condição anterior, diante do novo cenário econômico.

Para a professora de economia latino-americana da Universidade de Tulane, Nora Lustig, um dos fatores por trás da queda da desigualdade nos últimos anos é a expansão do acesso à educação nos países latino-americanos. “Em torno de 20% da desigualdade salarial nos países deve-se a transferências governamentais aos mais pobres”, afirmou.

O ministro das Finanças do Chile, Alberto Arenas, afirmou nesta quinta-feira (5) durante o evento que seu país tenta copiar a receita de nações desenvolvidas para alcançar o desenvolvimento, pelo investimento em inovação e capital humano.


“Temos que enfrentar a desigualdade na educação superior e garantir o acesso de qualidade e gratuito para o maior número de pessoas. Por esse caminho, estamos pensando no futuro do Chile”.

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