terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Em busca de poder, PT se tornou parecido com o que dizia combater


Dinho Ouro Preto

Dinho Ouro Preto

Especial para o UOL

O meu caminho cruzou com o do PT no começo dos anos 80. Eu morava em Brasília, tinha uns dezessete anos e o país ainda vivia os últimos anos da ditadura. Eu não conhecia ninguém da minha idade que fosse a favor do regime; na realidade, não conhecia ninguém que se dissesse "de direita".
Passados todos esses anos, continuo me considerando de centro-esquerda. Acredito que o Estado deve promover igualdade de oportunidades, justiça social e serviços como educação e saúde gratuitamente.


Mesmo assim, não sou contra a economia de mercado. Muito pelo contrário, em minha opinião o melhor modelo de desenvolvimento vem da Escandinávia, onde se combina a livre iniciativa e a presença estatal equilibradamente, e em benefício de todos.


Acho que o capitalismo livre, sem amarras, selvagem, leva a crises como a de 2008 e à concentração de renda, o que pode vir a ser um risco à própria democracia. Por outro lado, não conheço nenhum país que tenha prosperado sem a economia de mercado. Não acredito que riqueza e justiça social sejam excludentes.


Com base nesses valores, votei no PT sucessivamente. Até determinado momento, acreditei que eles eram os que melhor representavam algo próximo de meus ideais. Nos últimos anos, no entanto, mudei de opinião.


Em agosto do ano passado tive o privilégio de conhecer o Eduardo Campos, no Recife. Passei algumas horas na sua casa falando a respeito do Brasil, e lá ele disse uma frase que não saiu mais da minha cabeça: o Brasil parou de melhorar.


Não sou um dos que demonizam o PT ou dos que tentam criminalizá-lo. Muito pelo contrário, vejo muitas virtudes e contribuições importantíssimas para o país. Entre elas colocar a justiça social no topo da agenda do debate político nacional. Mais ainda, ter tornado, através de políticas de distribuição de renda, milhões de brasileiros em cidadãos de fato. Palmas para o PT.



O problema é que vejo vícios também. Acho que várias conquistas dos últimos anos, e aí se incluem também os acertos da era FHC, podem estar em perigo.
Estamos vendo nosso país passar por uma inflação crescente, uma recessão batendo à porta, infraestrutura em pedaços, serviços públicos dantescos e, como se não bastasse, um oceano de corrupção.

Teimosia ideológica

Nas suas últimas convenções, o PT manifestou o desejo de hegemonia. Talvez essa seja a chave para entender o cipoal no qual o partido se meteu. Fome de poder, o poder como um fim em si. E o poder é tóxico, corrompe.


O que eles querem dizer com hegemonia? Que tipo de ascendência eles querem ter sobre nós? Do que eles seriam capazes de fazer para chegar a esse poder? Algumas respostas estão aí aos olhos de todos.

Adriana Spaca/Brazil Photo Press
Lula e Haddad firmam aliança com Maluf para disputa da prefeitura de SP, em 2012
 
 
Como exemplo da falta de escrúpulos, estão os "aliados" para viabilizar a governabilidade. Fazer acordos com Sarney, Kassab, Renan, Collor e Maluf entre outros, não é exatamente motivo de orgulho para um partido que se apresentava, até recentemente, com altivez e se dizia diferente dos demais. Na realidade, o nome disso é presidencialismo de cooptação.


A esses aliados é dada uma fração do Estado no mais puro e primitivo patrimonialismo. Esse modo de governar, essa fisiologia, por sua vez, não só descaracterizaram o PT, como levaram a escândalos em série, que já se tornaram parte da paisagem brasiliense.


Em nome da hegemonia, fala-se em limitar a liberdade de expressão. Sempre com eufemismos, é claro. Expressões como "função social da mídia" ou "democratizar os meios de comunicação" estão entre as mais comuns.


Em nome da teimosia ideológica, criou-se um desnecessário confronto com a iniciativa privada. Surgiu um falso dilema para nossa economia: ou se tem equilíbrio e responsabilidade ou justiça social. É errado. Podemos ter, e para crescermos sustentavelmente, precisamos ter ambos.


Por fim, vejo também o PT flertar com o culto à personalidade. O Lula é tido quase como uma divindade. É infalível, tem o monopólio das boas intenções e não é questionado. Planta seus "postes" onde quer e dá a última palavra em tudo. Parece-me um anacronismo stalinista. Ou pior, um anacronismo coronelista.


Infelizmente, o PT se tornou muito parecido com aquilo que dizia combater. Não acho que o partido seja capaz de inspirar o nosso povo a acreditar no país. Aliás, o Brasil lenta e inexoravelmente se afasta desse país que o PT quer nos impor.


O Brasil está patinando, sem rumo, mais uma vez. Reitero meus ideais, quero justiça social e desenvolvimento. Bem estar para todos. Liberdade e prosperidade. Vou ter que achar algum outro partido que me convença que esse também é seu objetivo.


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